Dicas

Professor e Jornalista Carlos Alberto dos Santos

No programa semanal “Provoca”, da TV Cultura, Marcelo Tas encerra cada entrevista com uma pergunta que paira no ar como um convite à alma: “O que é a vida?”. Com pouco tempo para responder, os convidados precisam transformar suas experiências inteiras em poucas palavras. E é justamente nessa síntese, às vezes tímida, às vezes arrebatadora, que surgem pequenos faróis. Cada resposta, de tão humana, costuma me acompanhar por dias, ecoando em silêncio, abrindo espaço para reflexões e para lições que brotam quando menos espero. Com isso, passei a perceber como, aqui e ali, nas conversas do cotidiano, algumas pessoas acabam deixando escapar pistas de como definem e vivem seus próprios caminhos.

Em uma caminhada de domingo, por exemplo, eu e meu filho Dani chegamos a um trecho um pouco mais difícil: uma subida que não é tão íngreme, mas que para mim exige um esforço extra. Para ele, professor de educação física e personal trainer, estava tudo sob controle. Ao ouvir meu comentário sobre a dificuldade, ele disse:
“Pai, não diminua o ritmo. Foque em um ponto lá na frente que logo, logo estaremos chegando.” Essa é, sem dúvida, uma maneira de enxergar a vida: não desanimar diante dos obstáculos e seguir adiante. Uma hora a gente chega.

Minha filha Carol vive sob outro mantra, leve como brisa: “deixa fluir”. Para ela, não se trata de descuido, mas de confiança, de não se agarrar a tudo, de não se deixar aprisionar pelo peso que inventamos. É deixar o dia correr com naturalidade, sem permitir que as ondas decidam nosso destino, mas também sem endurecer o remo. É navegar com harmonia.

E eu? Se um dia estivesse diante de Marcelo Tas, tendo que responder em poucos segundos o que é a vida, diria que a vida é como andar de bicicleta. É preciso vigiar o que nos cerca: os riscos que vêm das laterais, os imprevistos que se aproximam silenciosamente por trás, os buracos do caminho que surgem de repente. É essencial manter o equilíbrio, esse talento delicado que se aprende vivendo. E também é sábio estar bem equipado, porque quedas acontecem. E quando acontecerem, que doam menos. Depois, basta levantar, apanhar a bicicleta e seguir adiante, deixando que a paisagem, sempre generosa, nos lembre por que vale a pena continuar pedalando.
E para você? O que é a vida?

Foto: Pinterest