Dicas

Professor Carlos Alberto dos Santos

Há alguns anos assisti a um documentário onde uma cena me chamou a atenção. Em um pequeno vilarejo japonês, crianças se divertem utilizando recortes de papéis coloridos e pétalas de flores para formar figuras e imagens no chão de uma viela. Após o divertido trabalho ser concluído, avós e pais chegam com baldes de água e desmancham toda a arte criativa dos pequenos. A princípio esta cena me deixou indignado. Achei o ato dos mais velhos uma crueldade.

Mas, como em tudo na cultura oriental, aquele gesto tinha um sentido estético e uma longa tradição. Tratava-se do Wabi-Sabi, um conceito filosófico que surgiu no Japão no século XV, na era dos Samurais. “Wabi” representa a quietude, o rústico e a simplicidade, enquanto “Sabi” está relacionado à beleza da idade, do desgaste e das rugas do tempo. O Wabi-Sabi busca ressaltar a incompletude, a impermanência e a imperfeição.

Na perspectiva ocidental, acostumada a valorizar a permanência, o controle e a perfeição, essa ideia pode ser desconcertante. É natural que a destruição de algo belo e recém-criado cause indignação. Mas, ao olhar com mais profundidade, percebemos que essa "destruição" é, na verdade, uma lição de desapego, humildade e aceitação do fluxo da vida. Não aprender esta lição ainda jovem pode dar espaço no futuro para a frustação e até mesmo a revolta.

A cena do documentário é um convite para abandonar a ilusão de eternidade que muitas vezes carregamos. A juventude, a beleza, os momentos felizes e tristes — tudo passa. Precisamos entender que a aceitação da imperfeição não é resignação, mas sim maturidade. A transitoriedade da vida pode ser fonte de tristeza ou de esperança, vai depender de como nos relacionamos com ela. A mudança é uma oportunidade: se tudo muda, então a dor também passa, e novas possibilidades sempre se abrem. Ou seja, mudanças podem ser para melhor e esta crença é a base para a esperança.

E é justamente por isso que cada instante é precioso. Essa visão pode ser um antídoto contra frustrações, rigidez e sofrimento crônico. Ela nos convida a viver com mais leveza e presença, plantando com consciência, mesmo que não vejamos os frutos de imediato.

Foto: Pinterest