O programa Sempre Um Papo, exibido semanalmente pela TV Câmara, apresenta, em janeiro de 2012, um seminário com o tema “Felicidade?”, com a filósofa e escritora Marcia Tiburi. São quatro programas que trazem à tona este desejo universal, mas que tem uma história bem mais complexa relacionada à filosofia, chamada de ética. O primeiro programa aborda a “Felicidade e Infelicidade: O Desejo e a Ética” e vai ao ar no dia 07 de janeiro; no dia 14, “A Indústria Cultural da Felicidade”; no dia 21, “A Felicidade e a Dor dos Outros”; e no dia 28, encerramento discutindo “A Felicidade na Era digital”. Os programas inéditos vão ao ar aos sábados, às 19h, com reprise no domingo, às 16h.
Com o patrocínio da New Holland, o seminário ocorreu em 2011, com grande sucesso, sendo presenciado por cerca de 1.500 pessoas, na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte. O projeto é inédito e foi idealizado exclusivamente para o Sempre Um Papo, por Marcia Tiburi. Nos programas, diante da pergunta, “Felicidade?”, a filósofa instiga: “Mas será mesmo assim? Não será a infelicidade a verdadeira face desta grande ideia que nos serve de crença?”. De acordo com a Tiburi, a felicidade é o grande motivo pelo qual o ser humano escolhe ter um futuro. Justamente porque ela se faz como medida de todas as coisas humanas. Para Tiburi “em tempos sombrios, é bom lembrar do sentido da felicidade como ideia construtora do mundo antes que ela seja devorada pelo sistema que tudo transforma em mercadoria. Se a felicidade não se vende é porque ainda podemos sonhar com ela. Debatê-la é realizar o maior desejo filosófico, o de tentar compreendê-la à medida que se fez tema urgente de nosso tempo”, defende.
Sinopse dos programas:
07/01 - “FELICIDADE E INFELICIDADE: O DESEJO E A ÉTICA”
A felicidade é um tema filosófico. Muito antes de ter sido reduzida em nossos tempos a uma mercadoria publicitária, a felicidade era um ideal ético. A desvalorização da felicidade no contexto capitalista relaciona-se ao mundo do espetáculo, à banalização do desejo e também do sentido dos afetos em nossas vidas. Antes de qualquer análise temos que nos perguntar se ainda podemos falar de felicidade em nossos dias, e de qual felicidade? Não teríamos, hoje, quando vemos a colonização do desejo aniquilar o sentido da convivência e da auto-descoberta, que devolver a felicidade ao campo da ética? Ou a ética à felicidade?
14/01 – “A INDÚSTRIA CULTURAL DA FELICIDADE”
Do século XX até hoje a inteligência e a sensibilidade coletivas vivem sob o jugo da Indústria Cultural. Podemos dizer que o todo da cultura se tornou indústria. Nossa vida sensível toma consciência de si por meio das manifestações artísticas, da educação, da leitura. Das artes clássicas à arte culinária podemos dizer que há um trabalho humano de intensificação e valorização das experiências vividas. A Indústria Cultural é hoje a produção de experiência empobrecida. Desde a televisão (o nervo central da produção de imagem), até a alimentação (há uma Indústria Cultural que coordena o processo alimentar como processo social), passando pela saúde física (a Indústria da Vida Saudável) e pela saúde mental (Indústria da Vida Feliz), todos os processos humanos passam por um método de uniformização e banalização ao qual podemos chamar de Indústria. Cabe avaliar se a Indústria Cultural da Felicidade afetou as nossas vidas.
21/01 – “A FELICIDADE E A DOR DOS OUTROS”
No contexto da sociedade espetacular, a sociedade que supervaloriza a imagem a ponto de idolatrar narcisicamente o próprio corpo e o corpo belo dos outros, há também o desejo perverso de conhecer o sofrimento alheio. Sabemos que o sofrimento sempre foi representado na poesia, na literatura, nas artes da pintura e no cinema. Mas o que acontece com o surgimento da fotografia? Com o cinema? E com o incremento da televisão? Qual a diferença entre a dor representada nas artes e a dor real mostrada nos veículos de comunicação? Que sentimentos estão em jogo? A compaixão, ou será o ódio, o afeto que nos rege nos tempos apocalípticos em que vivemos?
28/01 – “A FELICIDADE NA ERA DIGITAL”
A Internet é a nova promessa de felicidade. Seu valor está como o valor de uma nova roupa, uma casa nova, um novo carro, depois que os velhos bens não servem mais. É como se o corpo, a vida corporal, as relações no campo do atual (o espaço que compartilhamos com nossos corpos) se transformasse em mercadoria de segunda mão. Todos querem a vida zero quilometro. Com sua promessa de recriação e reinvenção é isso o que a Internet sugere. Relacionamentos tornam-se tão fáceis quanto descartáveis. Sejam amizades, amores, casos, o que há de mais simples é trocar de avatar e seguir sendo outra coisa que não se é. O que a internet realmente promete e o que ela de fato realiza? Quem é o ser humano dentro deste novo mundo admirável?
Marcia Tiburi
Marcia Tiburi é graduada em filosofia e artes e mestre e doutora em filosofia pela UFRGS. É professora do programa de pós-graduação em Arte, Educação e História da Cultura da Universidade Mackenzie, editora da revista TRAMA Interdisciplinar e colunista da revista Cult. Autora de diversos livros de filosofia e de literatura, entre eles Filosofia em comum (Record, 2008), Filosofia brincante (Record, 2010) e Diálogo/Desenho (SENAC, 2010), dos romances Magnólia, A mulher de costas e O manto (Record, 2009).