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Funk no transporte público inspira novo curta de Marcelo Reis

“Esculacho” aborda polêmico fenômeno que tem tomado conta dos ônibus de Belo Horizonte

A popularização de smartphones, caixinhas de sons portáteis e players tem colaborado para um controverso cenário nos ônibus da capital mineira. Recentemente, jovens da periferia de Belo Horizonte descobriram que podem comandar a trilha sonora entre uma viagem e outra. É este tema polêmico que envolve o novo trabalho do cineasta Marcelo Reis, o documentário “Esculacho”. O filme busca dar voz a esses jovens e entender os motivos que fizeram da sonorização dos coletivos uma tendência.

 

O filme, que tem duração de 22 minutos, estreia em Belo Horizonte com uma sessão especial no próximo sábado (14), às 16h, na sala José Tavares de Barros do Sesc Palladium. O diretor estará presente à sessão e, em caso de lotação da sala, em seguida será realizada uma segunda exibição do curta.

 

Marcelo revela que, a partir de 2009, começou a utilizar muito o transporte público, na região leste de Belo Horizonte, e, em todos os ônibus, se deparava com vários jovens escutando funk, principalmente no celular. “Com o passar do tempo chegaram as caixinhas e, em muitas linhas, o trajeto se tornou um inferno. Acompanhando esse “movimento”, que na verdade é totalmente desorganizado e não planejado, decidi fazer um documentário que investigasse o assunto”, disse.

 

Surgia, então, a ideia inicial de “Esculacho”. Durante 15 meses, o diretor se dedicou às filmagens de seu novo trabalho. Para tanto, Marcelo começou a capturar flagrantes dentro dos ônibus, mas com o tempo, decidiu ir direto à fonte do fenômeno. O cineasta percorreu oito comunidades de Belo Horizonte: Alto Vera Cruz, Granja de Freitas, Poca, Oi (Jardim Vitória), Conjunto Felicidade, Morro das Pedras, Serra e Morro do Papagaio.

 

Apesar de essa tendência receber constantes críticas de outros usuários do transporte coletivo, o documentário tem uma visão unilateral do assunto. O diretor explica que a ideia era transformar o filme em um relato “etnográfico e unilateral. Como documentarista não me interessava contrapor as demais opiniões, até mesmo porque as outras opiniões são bem conhecidas: todos se sentem incomodados. O filme era mesmo para ser a voz dessa juventude que só se faz ouvir pelo seu funk dentro do ônibus”, argumenta.

 

Embora a música dentro do transporte público não seja uma exclusividade dos funkeiros, Marcelo entende que os jovens da periferia foram os precursores desse movimento. Por esse motivo, “Esculacho” (o próprio nome faz uma alusão a uma gíria do estilo musical), se permeia apenas nos depoimentos dos adeptos. “Sem dúvida foram os jovens das favelas que começaram essa ‘moda’. Como pioneiros, não via como não escolher esse recorte do funk, por me parecer certamente o mais legítimo” aponta Marcelo.

 

O curta também aborda a questão do espaço público que, segundo o diretor, é errônea e distorcida. “Tudo me parece fruto da estrutura de educação e divisão de recursos da sociedade brasileira. Mas para além das minhas conclusões, vejo o Esculacho como um documento antropológico urbano da nossa época, para estudos e conclusões de cada espectador".

 

Para Marcelo Reis e, provavelmente, para os espectadores, “Esculacho” vai deixar uma sensação de que as personagens retratadas buscam, constantemente, uma forma de se inserir na sociedade. "Fica claro pra mim que esse modismo é uma busca por visibilidade por parte dos jovens da periferia. É uma forma, controversa. É um modo de ser visto, de ser notado”, finaliza.

 

Marcelo Reis também dirigiu “Aterro”, filme sobre catadoras de lixo e moradoras do Morro das Pedras, na região oeste de Belo Horizonte. Premiado internacionalmente, o longa-metragem produzido em 2011, esteve em cartaz na capital mineira em agosto deste ano.

Por Vitor Cruz

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