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Quando o uso do álcool se torna dependência?
Dados do segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), divulgados este ano pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), revelaram que 11,7 milhões de brasileiros são dependentes do álcool. O estudo, feito pela primeira vez em 2006, constatou um aumento de 20% na quantidade de brasileiros que consomem álcool uma vez ou mais por semana.
Além disso, pesquisa destaca o aumento do consumo de álcool abusivo entre as mulheres. A proporção das que passaram a beber uma vez ou mais por semana cresceu 34,5% entre 2006 e 2012, passando de 29% para 39%. Outro indicador que demonstra esse comportamento nocivo é o que avalia o consumo de álcool em relação ao tempo. As que ingerem quatro doses em até duas horas passaram de 36%, em 2006, para 49% no ano passado. Diante de dados como esses, surge a pergunta: de que forma o uso da rotineira cervejinha ou drinks da balada e do fim de semana tornam-se dependência e geram sérios problemas na vida de uma pessoa?
De acordo com Cristina Yumi, psicóloga da Nexus Clínica e membro da Academia de Terapia Cognitiva dos Estados Unidos, o maior problema do uso do álcool acontece quando a pessoa começa, por exemplo, a atrelar, com frequência, a felicidade e o prazer àquela cervejinha ou drink e passa a beber muitas doses, inclusive no meio da semana, colocando a bebida como prioridade diante de outras situações. “Às vezes o indivíduo tem o hábito de beber uma garrafa de cerveja para aliviar o estresse do dia a dia. De repente começa a beber três ou quatro garrafas. Esse é um sinal crítico. Na psiquiatria é comum usarmos um termo chamado comorbidade. Isso significa que a dependência do álcool também pode vir junto a um quadro depressivo, ou de excesso de ansiedade. A pessoa precisa beber para relaxar. É importante manter um sinal de alerta para esses sinais”, diz.
Pelo fato do álcool ser conhecido como uma “droga legal” na sociedade brasileira, as pessoas, em geral, têm uma percepção de que ele não é nocivo, mas os danos causados pelo uso excessivo são, na maioria das vezes, irreversíveis para a o corpo e a mente.
A psicóloga explica que, ao beber, uma pessoa libera dopamina do cérebro, um neurotransmissor que tem papel fundamental no controle das funções mentais e motoras. “Quando os níveis normais de dopamina estão presentes, a pessoa pode sentir prazer, apego, amor, altruísmo. Se ela toma uma latinha de cerveja, por exemplo, essa substância será liberada, dando ao indivíduo uma sensação de alívio e relaxamento. A partir daí, se o uso do álcool se torna bastante frequente, o organismo se acostuma com a liberação desse neurotransmissor, o que resulta na necessidade cada vez maior da bebida para viver esses instantes fugazes de prazer. Essa situação se torna problemática quando o indivíduo encontra, no álcool, a única forma de prazer e divertimento. Por isso ele vai desejar a bebida cada vez mais”.
Yumi destaca que o tratamento de um alcoolista deve acontecer de forma estruturada e com ajuda da família, principalmente quando a pessoa começa a se isolar e se prejudica no trabalho ou nos relacionamentos com os amigos. “Se a família não souber lidar com o dependente e desconhecer as peculiaridades do assunto o tratamento torna-se difícil. O maior problema do alcoolismo está relacionado ao fato de que muitas pessoas, do ambiente familiar inclusive, tratam o doente de forma preconceituosa, taxando-o com os piores adjetivos possíveis, mas esquecem de buscar informação, e compreender que a dependência é uma doença, que necessita ser tratada. Muitos pacientes também negam a doença e o vício. Isso dificulta ainda mais o tratamento”, afirma Cristina.
Uma das grandes dificuldades do paciente que tenta largar a dependência, segundo a psicóloga, refere-se à popularização do álcool. “Atualmente as bebidas estão muito acessíveis. A própria mídia se encarrega de construir uma imagem idealizada da cerveja, e com isso, os jovens, por exemplo, começam a beber cada vez mais cedo. Qualquer estabelecimento, desde uma loja de conveniências de um posto de gasolina a um restaurante comercializa bebida alcoólica. Diante dessa grande oferta, o dependente declarado precisa travar uma verdadeira batalha diária para se livrar do vício”, pontua a profissional.
Não existe um prazo certo para que o dependente do álcool seja totalmente curado. “A cura varia conforme o grau do vício. Vários transtornos psiquiátricos têm uma eficácia muito comprovada de resultados, principalmente com a terapia cognitivo comportamental, pois ela é uma terapia mais estruturada”, ressalta Cristina. Ela também destaca que o tratamento de um dependente através da terapia cognitivo comportamental deve ser gradativo. “Se a pessoa, por exemplo, bebia cinco garrafas de cerveja por dia, através do tratamento tentamos reduzir, aos poucos, essa quantidade. Se a redução acontece na sua totalidade, ou seja, se o usuário pára imediatamente de beber, o impacto dessa interrupção abrupta no sistema fisiológico é muito intenso”. A psicóloga ainda indica o uso de medicações coadjuvantes para suprir os sintomas da abstinência e o auxílio da psiquiatria diante de casos graves relacionados ao alcoolismo.
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