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Espetáculo “Memória não queima”
“Memorada”, espetáculo de formatura do Teatro Universitário da UFMG, realiza temporada na Funarte/MG no mês de dezembro
Dentre os muitos fios de tempo que se entrelaçam para tecer histórias sobre esse chão, uma voz profetiza a febre da Terra que despertará memórias enterradas vivas. Até então apagadas, escondidas e abafadas, essas memórias ressurgem para conviver com as pessoas viventes do agora. Como de praxe, as forças contrárias tentam acuar e sufocar tudo aquilo que evoca outras dimensões de quem nós fomos, somos e seremos.
Belo Horizonte, 28 de novembro de 2023 — O que motiva a perpetuação de algumas memórias e o silenciamento de outras? A quem interessa o famoso ditado: “brasileiro tem memória curta”? E se as memórias deste chão que foram caladas, sequestradas, apagadas ao longo de tanto tempo, fossem retomadas? A partir dessas questões, “Memorada” nasce como possibilidade de imaginar um cenário em que memórias, antes abafadas, ressurgem para habitar as narrativas que constituem nossos corpos, identidades e subjetividades. Como é de se esperar, surgem também forças contrárias para coibir tudo aquilo que evoca outras dimensões de quem fomos, somos e seremos. Os formandos da Turma X do Teatro Universitário, escola técnica de teatro da UFMG, realizam mais uma montagem anual de conclusão de curso, mobilizados a discutir sobre a memória como um direito fundamental em nível político e poético. O mote é o interesse pelos processos de reação aos apagamentos de memórias que o pensamento colonizador praticou ao longo dos cinco séculos de invasão no Brasil.
Com direção de Júlia Camargos, formada no T.U. em 2012, o espetáculo “Memorada” faz sua temporada entre os dias 06 e 17 de dezembro, sempre de quarta a domingo, às 20h30, e com sessões extras aos domingos às 16h30, no Galpão 4 da Funarte/MG. “É um prazer enorme retornar ao T.U. depois de tantos anos, especialmente assumindo o desafio da condução de uma formatura, um momento tão significativo e simbólico para a turma”, diz a artista.
O processo criativo foi um mergulho na pesquisa e na experimentação cênica, a partir de diferentes desejos de teatro apresentados pela turma. “Já em nossos primeiros encontros, optamos por realizar um trabalho autoral que estivesse alinhado com os temas sociais e linguagens teatrais latentes no coletivo. Escutando os interesses dos formandos, identifiquei que cada sugestão trazida poderia caber no caldeirão da memória, um tema complexo e diverso que parecia abarcar ao mesmo tempo o desejo por uma narrativa comum e os impulsos individuais (e também heterogêneos) para a nossa montagem” — comenta a diretora Júlia Camargos. Assim, a temática “memória” foi elencada como uma espécie de lume e manifestou-se de diferentes formas nos materiais criados na sala de ensaio. O elenco, composto por 15 atuantes, é diverso e possui inclinações para diferentes estéticas teatrais. Esse aspecto tem sido explorado pela direção, com o intuito de positivar os diferentes repertórios e perspectivas — de mundo, vida, teatro e arte — do coletivo.
A dramaturgia, assinada por Raysner de Paula, reivindica que as memórias empoeiradas, esquecidas e enterradas vivas habitem o imaginário das narrativas que constituem o momento presente. A proposta gira em torno da situação ficcional de um país que vive as consequências do processo de “revolver as memórias” e se depara com outras perspectivas, narrativas, vozes e figuras excluídas das histórias oficiais e, consequentemente, dos imaginários de sua população. As propostas de Raysner vieram ao encontro das de Júlia e, juntos, foram delineando como as memórias, individuais e coletivas, poderiam se transformar em jogos ficcionais, depoimentos, acontecimentos cênicos, performances, cantorias, elementos visuais e contações. Assim, viu-se nascer uma encenação polifônica, mesclada de diferentes pontos de vista, mergulhada em formas e conteúdos diversos que se afinam às múltiplas formas de cuidar, manifestar e compartilhar as memórias do coletivo.
As referências da montagem estão ancoradas em textos do escritor Ailton Krenak, na musicalidade e discurso de Kaê Guajajara, Brisa Flow e Chico César e nas obras teatrais dos grupos Yuyachkani (Peru) e Cia. do Tijolo (São Paulo). A montagem conta também com composição musical elaborada exclusivamente para o trabalho. Somando na equipe criativa, tem-se a presença de Thálita Motta, na direção de arte do espetáculo, Maria Clara Lemos, na preparação corporal e Helena Mauro, conduzindo a direção musical e a preparação vocal do coletivo.
O Teatro Universitário também se firma por memórias de longo, médio e curto prazo, desde a celebração de seus 70 anos de existência em 2022 — marcando o retorno das formaturas aos palcos, após o período pandêmico — até a realização de duas montagens de conclusão de curso por ano, novidade que permanecerá adiante com a entrada anual de duas turmas na escola, como proposto pela reforma curricular que entrou em vigor na instituição em 2023.
A penúltima turma a formar-se em 3 anos de curso no T.U. despede-se da instituição, criando memórias e tramando os fios de uma história que não se apagará. Fincando os pés no terreno das memórias, os formandos encenam a possibilidade do ato de recordar como resistência. Enfim, a memória não queima e sempre encontra formas de ecoar em nós.
Serviço: “MEMORADA”
Quando: de 06 a 17 de dezembro (quarta a domingo)
Horário: 20h30 (haverá sessões extras aos domingos, às 16h30)
Classificação: livre
Onde: Funarte/MG — Rua Januária, nº 68, Centro, Belo Horizonte
Haverá intérprete de Libras nos dias 07 e 14/12
Entrada franca, com retirada de ingressos 1h antes. Vagas limitadas (sujeito a lotação)
Ficha Técnica
Direção: Júlia Camargos
Elenco: Ana Luísa Alves, Ariene Cabral, Cristina Jota, Dara Ayê, Deborah Chaves, Gabriela Pires, Gabi Ribeiro, Gabriela Zinart, Larissa Braga, Luísa de Lourdes, mariana ozório, Pedro Moura, Ramon Frank, Sadallo Andere e Valderis Cunha
Dramaturgia: Raysner de Paula
Preparação Corporal: Maria Clara Lemos e Cecília Saruê
Direção Musical, Preparação Vocal e Musical e Assistência de Direção Sonora e Vocal: Helena Mauro
Monitoria de Preparação Vocal e Musical: Jéssica Pierina
Concepção Musical e Trilha Sonora: Júlia Camargos
Assistência Musical: Luísa de Lourdes
Direção de Arte: Thálita Motta
Cenografia: Caroline Manso e Gabriela Zinart
Figurinos: Dani Rosa, Davy Gea, Gabriela Zinart e Irene Cavalieri
Iluminação: Ismael Soares
Coordenação de Produção: Helena Mauro, Júlia Camargos e Maria Clara Lemos
Produção Executiva: Cecília Saruê
Assistência de Produção: Ariene Cabral, mariana ozório e Sadallo Andere
Assistência de Visualidades: Ana Luisa Alves, Cecília Saruê, Cristina Jota, Gabriela Pires, Gabriela Zinart, Larissa Braga, Luísa de Lourdes, Malu Melo, mariana ozório, Pedro Moura, Ramon Frank, Sadallo Andere, Sam Abranches e Valderis Cunha.
Assistência de Iluminação: Thais Lorena e Greicielle Souza
Operação de Luz: Ismael Soares e Greicielle Souza
Operação de Som: Júlia Camargos e Cecília Saruê
Projeto Gráfico: Dê Jota
Registro Fotográfico e Audiovisual: Naum Produtora
Fotografia: Pedro Carvalho
Comunicação: Analu Diniz e Alexandre Nunes
Agradecimentos: Aos familiares e amigos. Aos colegas, técnicos e funcionários do Teatro Universitário. Andy Barroso, Camila Morena, Daniel Ducato, Eliezer Sampaio, Enrico Mencarelli, Fernando Linares, Ismael Soares, Kaká Correa, Karina Vitorino, Marcos Donato, Núcleos de Cenário e Figurino do Galpão Cine Horto, Papillon, Pedro Castilho, Samuel Ozório, Tereza Bruzzi, Ludy Lins e Jefferson Góes.
Foto: Naum Produtora
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