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Café Controverso – Identidades Afro-brasileiras: O que significa isso?

Como se estabelecem as identidades afro-brasileiras em um contexto de valorização hegemônica da cultura europeia? O que isso representa em termos de construção cultural e histórica dos negros e negras brasileiros? Essas e outras questões constituem o tema do Café Controverso “Identidades afro-brasileiras: o que isso significa?”, a ser realizado neste sábado, 23 de novembro, a partir das 11h, na cafeteria do Espaço do Conhecimento UFMG. O debate conta com as presenças do Doutor em Antropologia Social e Professor da ECI- (Escola da Ciência de Informação) da UFMG, Rubens Alves da Silva, e do Coordenador do NEGA (Núcleo Experimental de Arte Negra e Tecnologia), o músico e arte-educador Gil Amâncio.

 

“Se o bom é a pluralidade, porque definir?”, questiona Gil Amâncio, um dos convidados do Café Controverso. A pergunta instiga outros olhares sobre o tema. Amâncio avalia que a questão da subvalorização da identidade afro-brasileira é o resultado direto da ausência de poder econômico e político, o que faz com que determinada produção simbólica ocupe um lugar marginal em relação às outras. Ele ressalta que o que mais desperta sua curiosidade quando se depara com um terreiro de candomblé, por exemplo, é como aquela forma de manifestação conseguiu resistir tanto tempo em um universo cultural em que é constantemente negada. “Esse é um dos pontos principais: entender quais ‘negociações’ foram feitas para que aquele costume sobrevivesse. O que foi agregado? O que se perdeu?”, indaga Amâncio, referindo.

Segundo o educador, muitos hábitos e costumes sobrevivem como resultado do que ele chama de “negociação”, ou seja, adaptações feitas para que a referência cultural seja aceita pelo grupo social hegemônico.

 

“Quando penso nisso me lembro do rap, que é a música do hip-hop. As letras, sempre extensas, costumavam ocupar três páginas. Hoje vejo que essa música é finalmente aceita, com veiculação em emissoras de rádio e tudo o mais. Mas o texto é bem menor, então avalio quais concessões foram feitas para que essa manifestação ocupasse este espaço, e o que foi perdido ou conquistado neste processo”, conclui, analisando os processos de construção das identidades africanas no país.

 

Para o professor Rubens Alves da Silva, autor do livro A Atualização de Tradições: performances e narrativas afro-brasileiras, as identidades são resultantes de uma população diversa e heterogênea. “Todo o processo histórico levou a uma construção negativa da identidade dos negros e negras, até pela forma como o africano chega ao Brasil, como um escravo, um objeto.  E nesta situação ele constrói estratégias para preservar a sua humanidade, buscando elementos que tragam alguma referência de uma memória coletiva que remeta à África, seja na música ou na religião”, explica.

 

Sobre o papel do 20 de novembro e a “consciência negra”, o professor enfatiza que é uma questão de posicionamento político. “A consciência, neste caso, ocorre quando ultrapassa a percepção de que há algo errado e de que os espaços são socialmente construídos, nada é natural. É necessário que essa tomada de consciência envolva alguma forma de ação para mudar o estado das coisas”, afirma, enfatizando a importância das mobilizações para o avanço das questões referentes à comunidade negra.

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