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Lançamento do curta No Rugir do Leão: as histórias de um matriarcado
Sessão gratuita apresenta o filme documental sobre a trajetória de Nengua Monange, importante liderança do candomblé congo-angola em Belo Horizonte
Na noite de 21 de novembro de 2024, às 20h, a comunidade Nzó Jindanji Kuna N’kosi abre as portas de sua sede, na Rua Iguaçu 261, bairro Concórdia, para o lançamento do curta-metragem No Rugir do Leão: as histórias de um matriarcado. Exibido de forma gratuita e produzido pela própria comunidade, o filme é resultado do projeto audiovisual contemplado pelo edital BH Telas, na edição da Lei Paulo Gustavo da Prefeitura de Belo Horizonte (projeto nº 91158/2023), fortalecendo o compromisso do terreiro com a preservação e difusão de suas tradições.
Com 40 minutos de duração, No Rugir do Leão reconstrói a trajetória de vida e fé da Nengua Monange, matriarca da Nzó Jindanji Kuna N’kosi, cuja história se confunde com a própria consolidação do candomblé congo-angola em Belo Horizonte. Em seu depoimento, ela revisita seus primeiros passos na religião, ainda na antiga Cabana Senhora da Glória (Nzo Kuna Nkosi), no bairro Ermelinda e Sarandi, onde se iniciou em 1987 pelas mãos de Tatetu Nepanji. Esta iniciação foi compartilhada com sua mãe carnal, Makota Ojibande, com quem caminhou lado a lado por décadas, até o falecimento da matriarca aos 97 anos, em 2023. Ambas foram reconhecidas como Mestras da Cultura Popular de Belo Horizonte em 2024, e o filme é dedicado in memoriam a Makota Ojibande, celebrando sua presença, força e legado.
Do início à maturidade religiosa: uma história de resistência
Nengua Monange compartilha não apenas lembranças, mas um testemunho sensível sobre resistência, continuidade e determinação, perpassando por diferentes momentos de sua trajetória até se tornar uma líder religiosa, como sua vivência enquanto muzenza (recém iniciada), os anos como Kota (momento em que conquista a maioridade religiosa após 7 anos de iniciada), o recebimento do cargo de Nengua Makula (mãe criadeira) da Cabana Senhora da Glória em 28 de janeiro de 2012, e a posterior fundação da Nzó Jindanji Kuna N’kosi, em 2017. Ela relata as dificuldades de erguer e manter um candomblé de tradição no contexto urbano, explicando como o tempo, o cuidado e o compromisso coletivo transformaram um sonho em terreiro consolidado. Oito anos depois da fundação, a matriarca fala com orgulho das batalhas vencidas e das conquistas que hoje sustentam a comunidade.
“Poder contar minha história e ser homenageada com este filme é um privilégio para mim. Ver tanta gente importante na minha trajetória juntas e ver minha comunidade alcançando essas conquistas me emociona muito. Espero que o filme possa tocar a todos”, destaca Nengua Monange, reafirmando a dimensão afetiva e espiritual que orientou a construção do curta.
A narrativa também se expande por meio dos depoimentos de suas irmãs e irmãos de santo, Kota Neduange, Tata Kamus'ende e Kota MonaKai, que estiveram presentes na fundação do terreiro e recordam, com carinho e reverência, os caminhos percorridos ao lado da matriarca. Filhos e filhas de santo também participam do filme, refletindo sobre como a presença de Nengua Monange transformou suas vidas, fortalecendo identidades, acolhendo trajetórias e reafirmando o papel da comunidade como espaço.
Audiovisual comunitário: memória, espiritualidade e política
Dirigido por Andréia Roseno (Makota Kinanjenu) e codirigido por Isabela Tavares (Muzenza Mazamenso), Josué Gomes (Muzenza Bandalekongo) e Lorena Vieira ( Muzenza Pokoamaza), o curta se estrutura como um experimento cinematográfico comunitário, onde tradição e juventude se encontram. A diretora, Andréia Roseno, reforça a dimensão intergeracional do processo criativo: “O Rugir do Leão foi nosso primeiro experimento cinematográfico e documental, de uma comunidade nova, mas assentada em pilares antigos. Escutar os nossos mais velhos, ver a história da Nengua Monange sendo contada por ela mesma, reencontrar imagens do seu início e acompanhar o empenho de uma juventude tão comprometida, em uma sociedade cada vez mais individualista, é um feito, uma vitória. Colocar este filme no mundo é mostrar que o terreiro está empenhado em sobreviver e viver na sociedade atual, usando as tecnologias do presente sem perder o olhar para as raízes. O audiovisual, aqui, afirma o terreiro como espaço de formação profissional e elaboração de pensamento crítico.”
Para Josué Gomes, que assina também a assistência de direção e a produção, participar desse projeto foi “um prazer inenarrável”. Ele explica que registrar a história da matriarca é também um gesto de ativismo político: “Falar sobre essa liderança é salvaguardar os saberes da tradição que resistem ao racismo religioso e ao apagamento histórico. O filme traz em sua estética e sua narrativa a nossa cosmovisão, exaltando nossas divindades, os Nkisis, que estão na natureza, mas também celebrando nossos corpos, cores e existências, que são sagradas e testemunham no presente a nossa ancestralidade.”
Um filme sobre força, memória e continuidade
O lançamento de No Rugir do Leão: as histórias de um matriarcado celebra a potência espiritual, política e cultural de uma liderança que atravessou décadas de trabalho sagrado e comunitário. O filme reafirma a força das mulheres negras que sustentam a tradição do candomblé congo-angola, e convida o público a testemunhar uma história que honra o passado, ilumina o presente e aponta caminhos para o futuro.
A sessão de estreia é gratuita e aberta ao público, reafirmando o compromisso da Nzó Jindanji Kuna N’kosi com a democratização da cultura e com a preservação das memórias ancestrais que emergem do terreiro para o mundo. O encontro promete ser um momento de celebração, partilha e reverência ao legado de Nengua Monange, cuja história agora também se inscreve no cinema.
Edital BH Telas – Lei Paulo Gustavo / Prefeitura de Belo Horizonte (Projeto nº 91158/2023)
Serviço: Lançamento do curta No Rugir do Leão: as histórias de um matriarcado
Data: 21/11, sexta-feira
Horário: 20h
Local: Sede da Nzó Jindanji Kuna N’kosi
Endereço: Rua Iguaçu, 261 – Bairro Concórdia, Belo Horizonte – MG
Entrada: Gratuita
Foto: Andréia Roseno
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