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O espetáculo de dança “E a cor a gente imagina” propõe uma reflexão sobre o olhar e sua ausência

Montagem inédita assinada pelo bailarino Victor Alves e pelo ator Oscar Capucho estreia no CCBB no dia 17 de novembro; ingressos à venda.

As conexões e diferenças entre o corpo cego e o corpo que enxerga são os fios condutores do espetáculo de dança inédito “E a cor a gente imagina”, que estará em cartaz no CCBB BH entre os dias 17 e 28 de novembro, sempre às 19 horas. Com direção do bailarino Victor Alves e dramaturgia do ator Oscar Capucho, a montagem coloca em perspectiva o pensamento que se tem da visão e a forma que o deficiente visual se relaciona com o mundo à sua volta. Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) e já estão à venda no siteeventim.com.br. Para mais informações, acesse bb.com.br/cultura.

 

“E a cor a gente imagina” foi concebido após um longo e rico processo de criação que envolveu artistas, pessoas cegas e pesquisas em entidades como o Instituto São Rafael e o departamento de braile da Biblioteca Luiz de Bessa. De acordo com Alves e Capucho - que também são os protagonistas do espetáculo -, a ideia é apresentar uma dança muito mais guiada pela sintonia entre os dois corpos que pelo sincronismo. “Buscamos uma dramaturgia corporal que aceitasse e valorizasse as especificidades e diferenças existentes entre as vivências do corpo cego e aquele que enxerga”.

Eles contam que o espetáculo é resultado de observações e pensamentos baseados principalmente no cotidiano do deficiente visual. “A importância começa na própria constatação de que a sociedade em que vivemos não está preparada para deficientes visuais independentes. Não dá condições para que circulem e acessem os espaços que queiram com total independência”, ressaltam os autores. “Esperamos que a nossa mensagem artística, política e humana possa provocar reflexões no público, e que seja um público mais diverso e receptivo possível. Será nossa primeira temporada num teatro de grande importância no cenário artístico de Belo Horizonte, e a maior até hoje também. Esperamos que esses dois fatores também potencializem o alcance do público”.

 

Oscar Capucho explica que o corpo que não enxerga vive num mundo predominantemente visual e cheio de obstáculos à sua frente. “Caminha com mais cuidado, devagar, inseguro, seu deslocamento é de uma natureza defensiva. Primeiro ele toca, sente, imagina e/ou percebe, e depois avança. Diferente de quem mapeia rapidamente tudo que está a sua frente com um olhar. Na montagem, a dança é assimilada pelo corpo cego através do toque, da descrição dos movimentos e da analogia feita entre passos (ou técnicas) e situações cotidianas”, destaca.

 

Já para o corpo que enxerga, como explica Victor Alves, é só olhar, absorver e reproduzir. Compreender uma coreografia vendo seu desenho no reflexo do espelho é muito diferente de assimilá-la pelo toque. É um outro tempo. O olhar apreende, capta em segundos. O toque (na ausência da visão) precisa percorrer cada membro, perna, braço, dedos, cabeça para compreender movimentos coreografados.

 

Sessões com audiodescrição ampliam a acessibilidade

O espetáculo terá sessões com audiodescrição realizadas nos dias 18 e 19 de novembro pelo grupo Svoa, especializado em recursos para acessibilidade voltado às pessoas com deficiência visual. O recurso poderá ser realizado por meio dos aparelhos celulares do próprio espectador ou por aparelho de rádio fornecido pela produção do espetáculo. “Planejar a audiodescrição para um espetáculo de dança foi resultado de muita escuta sobre acessibilidade – no seu verdadeiro sentido – em entrevistas com deficientes visuais, alunos do Instituto São Rafael, leitura de textos relatando dificuldades de acesso, e por aí vai”, ressalta Victor Alves.

“Sabemos que ainda estamos longe da acessibilidade plena para pessoas com quaisquer tipos de deficiência ou limitação, seja física ou mental, mas acreditamos que o uso dessa ferramenta, além de necessária, seja uma forma de contribuir para a discussão”, destaca.

O processo de criação

Victor Alves e Oscar Capucho contam que a ideia surgiu da vontade de estender as pesquisas, questionamentos e reflexões que já vinham desde o espetáculo “Sentidos”, também assinado pela dupla. “Nos conhecemos em 2013 para a criação de uma performance que culminou nesse espetáculo e com o tempo foram surgindo novas oportunidades de trabalho e com isso o laço de amizade entre a gente. A vontade de realizar novos projetos foi aumentando. Pude conhecer mais de perto o Oscar e as questões do cotidiano das pessoas cegas. Nossa relação é de amizade, de troca e de profissionalismo. Acredito que estamos sempre aprendendo com as nossas diferenças, sejam físicas, artísticas e/ou de experiências de vida. O Capucho é um artista poético, intenso e inquieto, e isso me inspira”, diz Victor.

O processo de criação do espetáculo ocorreu entre dezembro de 2015 e outubro de 2016 e incluiu diversas visitas ao Instituto São Rafael, onde Victor e Oscar entrevistaram estudantes e funcionários cegos e tiveram a oportunidade de participar de atividades do seu dia a dia. As pesquisas incluíram ainda o estudo de obras do acervo em Braille da Biblioteca Pública Luiz de Bessa, o livro “A vida de quem não vê”, do professor José Espínola Veiga, e o documentário “Janela da Alma” de João Jardim e Walter Carvalho.


Foto:  Fernanda Abdo

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