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Sucesso em São Paulo, ‘Ciclo’ entra em cartaz em BH no dia 19 de novembro com obras feitas a partir de materiais industrializados
Vista por cerca de 400 mil pessoas em São Paulo, a exposição “Ciclo – criar com o que temos” ocupa, a partir de 19 de novembro, o Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte com trabalhos antológicos de 13 artistas de diferentes gerações e nacionalidades, pautada por uma única e instigante questão: a urgência e relevância de produzir uma arte a partir de elementos do mundo, conferindo novos significados a materiais e reinventando maneiras de ver e sentir as coisas. A exposição pretende estabelecer uma espécie de ponte entre um momento fundador da arte contemporânea – a criação, há exatamente um século, dos primeirosready-made por Marcel Duchamp – e a fértil reinvenção desse tipo de operação nos dias de hoje.
Os materiais explorados são os mais diversos: câmaras de pneus, palitos de dente, dejetos eletrônicos, armas, doces, veículos e até mesmo lixo. As técnicas também são propositalmente inusitadas, mescladas e ousadas.
“Procuramos trabalhos que buscam criar o novo sem criar mais coisas; que partem daquilo que já está, já existe”, explica o curador Marcello Dantas.
Foram dois anos de intensa pesquisa e o resultado é um panorama bastante diversificado, que combina grandes nomes do circuito internacional, como o chinês Song Dong e o italiano Michelangelo Pistoletto, com artistas mais jovens, com carreiras ainda em ascensão, como a uruguaia Julia Castagno e o italianoLorenzo Durantini (veja abaixo a lista completa dos artistas e suas respectivas obras).
A temporada da exposição na capital mineira apresenta algumas novidades, entre elas, a obra Terceiro Paraíso, de Michelangelo Pistoletto, inédita ao público brasileiro. A instalação consiste em um conjunto de peças rejeitadas de metal que se justapõem na criação de uma nova versão do símbolo do infinito.
O americano Michael Sailstorfer, por sua vez, mostra um trabalho ligeiramente diferente da que foi exibida na versão paulistana. Composto pelos mesmos materiais (câmaras de pneus e fios de aço), o trabalho ocupará o pátio do CCBB, enquanto que em São Paulo a instalação recobriu a fachada do prédio.
No dia 29 de novembro, acontece a aguardada intervenção organizada pelo chinês Song Dong, durante a qual o público é convidado literalmente a devorar a cidade de Belo Horizonte, reconstruída na forma de uma gigantesca maquete de doces.
Para Carlos Nagib, Gerente Geral do CCBB Belo Horizonte, “ao propor novos significados a materiais já existentes, a mostra traz consigo o debate acerca da responsabilidade socioambiental e da reutilização de objetos, questões sobre as quais o mundo contemporâneo não pode se esquivar”.
A exposição, que conta com o patrocínio do Banco do Brasil, fica em cartaz em Belo Horizonte até 19 de janeiro de 2015, antes de seguir para o CCBB Brasília, onde permanece até 20 de abril.
Lista de artistas e obras:
Daniel Canogar (1964) – Artista espanhol, que investiga a memória implícita contida nos objetos eletrônicos descartados e que antes foram depositários de nossas afeições. Trabalhos como “Do all flip phones go to heaven?”, presente na exposição, recolocam em discussão questões como o caráter aurático dos objetos e buscam quebrar a separação entre os seres animados e inanimados. “Trata-se de um retrato físico da nossa complicada e muitas vezes contraditória relação com os eletrônicos de consumo. O trabalho é na verdade mais sobre nós do que sobre tecnologia”, afirma ele.
Daniel Rozin (1961) – Nascido em Jerusalém e atualmente residindo em Nova York, Rozin foi o primeiro artista a integrar a exposição, com sua sintética e metafórica estratégia de usar alta tecnologia para espelhar os homens em seu próprio lixo. Seu “Trash Mirror”, obra de 2001, faz parte de uma série de espelhos mecânicos e reflete por meio de sofisticados recursos de computação a imagem que passa diante dele através da movimentação sutil de centenas de resíduos, de latinhas de alumínio amassadas a cartões velhos de metrô.
Daniel Senise (1955) – Único artista brasileiro da mostra, Senise participa com uma série de trabalhos nos quais se reapropria de sua própria memória artística, recompondo fragmentos de seus catálogos, promovendo um processo de digestão e apagamento de registros produzidos em escala gigantesca pelo mundo da arte e transformando elementos como catálogos, convites e livros de arte em tijolos de papier machê.
Douglas Coupland (1961) – Renomado escritor canadense, responsável pela disseminação do termo Geração X, Coupland também se dedica à arte conceitual, atividade que julga complementar à ficção, e está presente na mostra com dois trabalhos distintos. No interior do prédio exibe um conjunto de frases de efeito, numa evidente interelação entre literatura e visualidade. E no exterior do prédio comparece com “Gum Head”, uma obra sarcasticamente narcísica, na forma de gigantesco autorretrato em forma de escultura sobre o qual o público é convidado a colar chicletes mascados.
Michelangelo Pistoletto (1933) – Em plena Minas Gerais – território em que o minério de ferro sempre teve papel importante na economia – um conjunto de sucata propõe uma mudança de paradigmas. As peças rejeitadas de metal se justapõem na criação de uma nova versão do símbolo do infinito. A forma, criada pelo italiano Michelangelo Pistoletto, já foi repetida nos cinco continentes, em ações realizadas por voluntários para o projeto Terceiro Paraíso. O conceito desenvolvido pelo artista se baseia no investimento pessoal em uma terceira forma de vida sobre o planeta, em que o âmbito natural (primeiro paraíso) e o artificial (segundo paraíso) dão espaço para a criação do terceiro, em que haja um equilíbrio entre essas duas esferas. Reproduzindo o símbolo, que sugere um território ampliado de união entre o eu e o outro, qualquer indivíduo pode aderir a causa e à obra, definida por Pistoletto como uma forma de arte espiritual – fundada igualmente na liberdade e na responsabilidade social.
Julia Castagno (1977) – “Modelo para la supervivência” é uma surpreendente e complexa estrutura geométrica composta por milhares de poliedros, criada pela artista uruguaia ao longo de dois anos de trabalho para colar cerca de 10 mil palitos de dente num processo lento de repetição de padrões e exploração de elementos geométricos no espaço. A artista reapropria-se esteticamente do objeto de menor valor comercial no mundo atual, para criar uma obra plasticamente sublime, que não por acaso será exibida no cofre forte da antiga sede bancária.
Lorenzo Durantini (1987) – Artista e curador italiano que vive atualmente em Londres, Durantini desenvolve uma série de experimentações tendo por base as antigas fitas de VHS, atuando nos limites entre a performance e a escultura, ao desenrolar quase simultaneamente milhares de metros de filme contidos nessas matrizes em desuso. Sua ação gera um emaranhado de linhas que são ao mesmo tempo desenho no espaço e memória de um tempo perdido. A ideia de movimento, contida tanto no material explorado como no desenrolar das fitas remete ao próprio conceito de filme, termo que em italiano (fiume) também quer dizer rio, ou fluxo.
Michael Sailstorfer (1979) – As grandes construções habitam os sonhos de todo menino. Dispor de equipamentos de armar e técnicas que permitem manipular o que há de mais pesado e maciço é desafiar a natureza. A brincadeira vale ainda mais quando impressiona pelo feito: é possível manusear câmaras de pneu de caminhão, tão resistentes, como se fossem balões de festa? Sim. Igualmente, o engenho humano é capaz de criar a sua própria versão de céu, controlando à sua maneira as condições meteorológicas do ambiente por ele coberto. A obra ‘Nuvens’ aposta no jogo entre peso e leveza, suspensão no ar e conexão com a terra. Na instalação, o alemão Michael Sailstorfer provoca o espectador deslocando pneus – criados para o contato com o solo – para se tornarem matéria de nuvem, a pender do alto. Recobrindo o pátio interno do prédio, suas nuvens de borracha, escuras e consistentes, amenizam a claridade do céu de verão belo-horizontino e lhe estabelecem um poderoso contraste. O interesse do artista por projetos ao ar livre condiz com suas manipulações de forma e volume. Nesses projetos, o espaço da instalação é expandido, envolvendo o entorno em um ambiente de sentido. Um experimento de reflexão sobre o poder de construção do homem – e um convite a todo passante a vivenciá-lo.
Pedro Reyes (1972) – “Trabalhar com arte é uma maneira de converter os instintos mais negativos, instintos de morte, em instintos de criação”, afirma o artista mexicano, que exibe em “Ciclo” o trabalho “Disarm”, uma série de instrumentos musicais automatizados, confeccionados a partir de pedaços de 6,7 mil armas confiscadas e inutilizadas pelo governo em uma das regiões mais violentas de seu país. Trata-se de uma intervenção que combina tecnologia, poesia e plasticidade com equilíbrio preciso, como em diversos outros trabalhos da exposição.
Petah Coyne (1956) – Escultora e fotógrafa americana, Petah Coyne é de uma ousadia ímpar na exploração de materiais não convencionais, como por exemplo em “Eguchi’s Ghost”, obra em que transforma um tradicional trailer de viagem (símbolo da cultura americana e residência de muitos de seus conterrâneos) num emaranhado de fios, que remetem a tufos de cabelo, num processo de desconstrução e digestão de imagem de uma radicalidade impressionante.
Ryan Gander (1976) – Artista inglês de grande destaque na cena internacional, Gander lida com evidente sarcasmo com a relação entre espectador e obra e debruça-se sobre as condições de produção e percepção da arte. Em “Ciclo” ele exibe “Samson's Push, or no. VI / Composition No. II”. Trata-se de uma torre feita em homenagem ao artista Bart Van de Leck, construída a partir de mesas da marca Ikea. Os elementos modulares formam um pilar colorido que aponta para a solidez e a racionalidade do Modernismo.
Song Dong (1966) – O artista chinês que já participou da 26a Bienal de São Paulo (2004) com um mapa-múndi feito de balas devorado pelos visitantes, apresenta em Belo Horizonte um projeto bem mais ousado da série “Eating the city” (“Comendo a cidade”). No dia 29 de novembro, o público será convidado a digerir uma maquete inspirada na capital mineira, com ícones de sua arquitetura, feita de doces e biscoitos por Dong. A escolha do material não é casual, como nada na obra do artista: “Biscoitos são simples, como materiais de construção, mas são coisas nefastas, como estas grandes cidades construídas”, sintetiza.
Tara Donovan (1969) – A artista americana é autora de grandes instalações e esculturas feitas a partir da manipulação de grandes quantidades de material industrializado, como canudos, copos e até mesmo escovas de dente. O publico brasileiro terá a oportunidade de descobrir um trabalho de grande sucesso da artista, apresentado pela primeira vez em 2006, no qual a artista recria uma topografia sedutora, uma paisagem imaginada, na qual explora texturas, efeitos de luz e sutilezas cromáticas utilizando apenas milhares de copos de plástico transparentes.
Tayeba Begum Lupi (1969) – Nascida em Bangladesh, Tayeba Begum Lupi lida em seu trabalho com questões relativas ao universo feminino e as tensões de gênero. Reverbera, por meio da apropriação de materiais cortantes como a gilette e os alfinetes de segurança, problemas da violência real enfrentada pelas mulheres ou aqueles baseados em estereótipos de sensualidade e dominação, aos quais são submetidas.
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