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Novo Projeto De William Pajé Sacode O Lugar Da “Tradicional Música Instrumental Mineira”
Vencedor do Prêmio BDMG Instrumental e maestro da Babadan Banda de Rua, o trompetista lança com show no dia 12 de novembro seu primeiro trabalho solo, “Pajé e a Nave Vol. 1”, no Cine Theatro Brasil, com ingressos a preços populares
Um menino danado – como lembram bem a mãe, o pai, as tias: não parava quieto, corria para todo canto, ligado na voltagem 220. Isto até a banda começar a tocar. Filho do maestro da Filarmônica Leopoldino Gandra, banda tradicional da cidade mineira de Malacacheta, o menino William Alves só sossegava mesmo quando os instrumentos começavam a soar, sob a regência do pai. Aí, toda a atenção e a energia se voltavam para a coisa meio mágica que é o fazer musical.
O William Alves que chegou aos 18 anos na capital para realizar o sonho do menino de Malacacheta de estudar música na UFMG e que aos 25 anos já tinha faturado um dos principais prêmios de arranjo e composição do país – o BDMG Instrumental, em 2017 – foi aos poucos dando lugar a uma nova persona: William Pajé, maestro da Babadan Banda de Rua, pesquisador dos ritmos afromineiros, e, agora, líder do grupo Pajé e a Nave, com o qual acaba de lançar o seu primeiro disco, “Pajé e a Nave Vol. 1”. O disco estreou nas plataformas no dia 1º de novembro e no dia 12 será celebrado com show, no Teatro de Bolso do Cine Theatro Brasil, com ingressos a preços populares. A festa será dupla, pois, no mesmo dia em que festeja o trabalho que ele considera como um filho no mundo, Pajé comemora seus 33 anos.
Não foi só o nome que mudou ao longo de sua trajetória. Seu som também foi se transformando, sob essa outra identidade. O trompetista ocupou, sim, lugares da cena instrumental mais tradicional e jazzística, mas foi ao se aprofundar nos temas do candomblé e do congado mineiro que encontrou seu lugar de fala.
Ao mesmo tempo em que se volta para os ritmos tradicionais afromineiros, William Pajé está interessado é na mistura. Com Pajé e a Nave, ele criou o ambiente fértil para experimentar suas múltiplas referências e influências – e isso inclui os ritmos ligados às religiões de matriz africana, mas também o rock, o pagode e até o arrocha, subvertendo o que se espera de uma certa música instrumental brasileira.
“O momento é de fazer algo diferente. Ainda que seja uma instrumentação versátil, muito utilizada na música instrumental, com guitarra, baixo, bateria, percussão, dois sopros, a ideia é movimentar algo novo. Incomodar mesmo, não ser mais do mesmo. Quando vamos para a universidade, não aprendemos lá a cultura afromineira, afrobrasileira. Acredito que desde o primeiro momento, com a Babadan e agora com Pajé e a Nave, existe essa vontade de balançar os lugares estabelecidos, porque nós não somos dessa ‘cena instrumental mineira’, num sentido de que não somos nós a sermos convidados a ocupar determinados espaços, mas ao mesmo tempo somos dessa cena”, afirma Pajé.
Se fosse categorizar Pajé e a Nave e este primeiro lançamento, o trompetista apontaria para o afrobeat, que define como valoroso e inspirador não apenas como sonoridade, mas como movimento. “Eu diria que está mais para esse lado, um instrumental dançante. Talvez o que a gente está fazendo aqui hoje, defendendo uma música afromineira, um dia também seja reconhecido como movimento”, avalia. “A pessoa vai poder ouvir um pagodão instrumental, logo escuta um serra-abaixo, um catupê, um sató, um vasi... Tem o rock’n’roll, mas não é o tradicional. Está voltado para dentro da curimba, a clave de Exu está lá... Além de incomodar, a gente tem que saber o que está fazendo”.
Há, nesse trabalho, momentos de especial emoção para o artista. “Certo dia, meu pai e minha mãe vieram meio do nada de Malacacheta para Belo Horizonte. Nisso eu pensei: preciso dar um jeito de tê-los nesse disco. Assim, em questão de horas, organizei um coro para que eles pudessem participar”, cita Pajé. Outro: “Uma das músicas, ‘Capitão Du’, é uma homenagem ao Capitão Aldo Bibiano, meu amigo e capitão da Guarda de Nossa Senhora do Rosário do bairro Santa Efigênia de Brumadinho, que foi quem me guiou nesse universo do congado e do reinado mineiros. Pedi que ele gravasse uma participação com sua voz. Ele me entregou uma oração! E é assim que abrimos essa faixa”, lembra.
A FORÇA DO COLETIVO
Todo o trabalho em torno de Pajé e a Nave é realizado de forma independente, sem apoios institucionais ou de editais. “É como colocar um filho no mundo. Tem muitas pessoas envolvidas para fazer isso acontecer. É um filho coletivo”, afirma ele. A banda que subirá ao palco é a mesma que gravou o disco e reúne essas parcerias que não são de agora, são de uma vida: Acauã Ranne na guitarra, Egberto Brant no contrabaixo, Fernando Feijão na bateria, Lucas de Moro no teclado, Silas Prado no sax e flauta e Talles Bibiano na percussão. No trompete e flugelhorn, ele. O disco será executado na íntegra e surpresas sempre podem pintar.
Pajé faz questão de ressaltar que este grupo deriva da incubadora de projetos alicerçados pela música diaspórica que se tornou a Babadan Banda de Rua. “Desse coletivo maior, nasceram e ainda vão nascer mais projetos de cada integrante”, pontua ele, citando, por exemplo, os trabalhos individuais de parceiros e companheiros como Juventino Dias, Acauã Ranne e Silas Prado.
“Uma coisa que é importante falar: existe o Sagrado, mas a gente faz arte. A gente primeiro aprende aquilo, entende as tradições, mas a gente faz o profano. A gente não é o Sagrado. Não é porque minha banda é inspirada e ancorada no congado e no candomblé que a gente é um congado ou o candomblé. Não. A gente é artista. E é como artista que a gente vai defender o que a gente é ancorado”, ressalta Pajé. “É entender o que a gente está fazendo, trazer as claves certas, os toques certos e a partir daquilo por que não também criar outra coisa?”, provoca.
FAIXAS COMENTADAS
CHEGANÇA Nº 1 | “Chegança, substantivo feminino, significa chegada ou ação de chegar. Chegança é uma série de composições que visa mostrar de forma simples e dançante a influência das claves do candomblé na sua música. Traz a clave do ritmo sató, que no candomblé é consagrado ao Orixá Oxumaré.”
ROCK DE EXU | “É uma mistura do ritmo vasi com rock’n’roll inspirada na força e na comunicabilidade do Orixá Exu. Um som que abre o caminho para que a música de Pajé e a Nave possa ecoar mundo afora.”
CATOPÊ DO PAJÉ | “Essa composição é uma simbiose com a música Coisa nº 4 do Maestro Moacir Santos. Inspirada nos ternos de catopês do centro-oeste de Minas Gerais e ancorada pelo baixo em ostinato de Coisa nº 4, inserido na composição dentro da estruturação rítmica trazida pelos catopês.”
CAPITÃO DU | “Composta em homenagem ao tubista, professor e capitão de congado Aldo Bibiano e sua família. Os Bibianos são os principais mantenedores da festa e da tradição do Reinado de Nossa Senhora do Rosário no bairro de Santa Efigênia na cidade de Brumadinho-MG. A composição inicia com a fala/reza do Capitão Du, traz na sua essência o ritmo do massambique serra-abaixo e propõe o encontro dos tambores do reinado com os instrumentos eletrônicos.”
SEGREDO DA MATA | “Composição inspirada no agueré, ritmo consagrado ao Orixá Oxóssi divindade da caça, que vive nas florestas e que vence a fome e a miséria com sua flecha certeira. A composição é uma balada construída sobre o ritmo do agueré e melodias suaves, criando uma atmosfera cheia de mistérios e sedução.”
CHEGANÇA Nº 7 | “Composição inspirada na quentura de um Alujá de Xangô, ao ritmo do Alujá, o rei Xangô, Orixá da Justiça e do fogo expõe todo o seu poder, força e agilidade.”
PAGODÃO Nº1 | “Inspirada no som dos paredões automotivos que tocavam o pagodão baiano pelas ruas de Malacacheta, que sofre muita influência desse gênero criado em Salvador, misturando o pagode-baiano com elementos do batidão do funk e música eletrônica.”
· PARA OUVIR: https://tratore.ffm.to/pajepaje
SERVIÇO: SHOW DE LANÇAMENTO “PAJÉ E A NAVE VOL. 1”
Dia 12 de novembro, terça-feira, às 19h
Cine Theatro Brasil (avenida Amazonas, 315, centro)
Ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada de acordo com a Lei). À venda na bilheteria do teatro e online: https://bit.ly/ingressosPAJEEANAVE
Foto: Élcio Paraíso_Bendita Conteúdo
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