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Fórum das Letras inaugura primeira residência para autores perseguidos da América do Sul

Iniciativa empreendida pelo ICORN permitirá que escritores ameaçados em seus países de origem continuem produzindo, garantindo assim a liberdade de expressão

O Brasil será o primeiro país da América do Sul a organizar uma residência de 4 meses para escritores perseguidos ou ameaçados de morte em seus países de origem. A CABRA (Casas Brasileiras de Refúgio), associação afiliada à International Cities of Refuge Network (ICORN), intermediou o contato entre aUniversidade Federal de Ouro Preto e o Fórum das Letras, evento literário classificado como um dos mais importantes do país, para ajudar a divulgação do conceito e trabalho da organização. A carta de intenção entre a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e ICORN para disponibilizar uma bolsa de residência anual para um escritor foi assinada em 2014. A primeira residência será inaugurada em 2015, em Ouro Preto, durante o Fórum das Letras, que será realizado entre os dias 4 e 8 de novembro, com o tema “Diversidade Cultural e Liberdade de Expressão”.

 

O primeiro autor a ser hospedado, que viverá em Ouro Preto como pesquisador visitante integrado ao programa de pós-graduação em História da UFOP, será Girma Fantaye. Nascido na Etiópia, o jornalista, escritor e poeta, fundou, em língua amárica, ao lado de outros cinco colegas, o jornal político ”Addis Neger”, sediado na capital do país, Adis Abeba. No periódico, atuou em diversas editorias, até sua partida forçada da Etiópia, em direção à Uganda, em razão da linha editorial adotada. Isso se deu em dezembro de 2009.

 

Trabalhou também como subeditor chefe da versão online do “Addis Neger” (www.addisnegeronline.com), criada por ele, ao lado de outros antigos membros da equipe do jornal, atualmente exilados na capital de Uganda, Kampala. Seus artigos sobre política, artes e viagens, junto a seus contos, foram lançados em publicações como os periódicos “Meznagna”, “Ethiomirror.com”, o jornal e site “Addis Neger” e no “New York Times”.

 

De 2011 a 2012, Girma Fantaye recebeu a bolsa de Jornalismo John S. Knight, pela Universidade Stanford, EUA, onde se concentrou em um projeto que visava tornar mais sustentável a mídia no exílio. Em 2012, publicou seu primeiro volume de poesia, The Quest for the Lost City (Mahlet Publishing, Adis Abeba, 2012). Também publicou seu romance de estreia na língua amárica, intitulado SELF Meda (Field of Queue), em agosto de 2014, e atualmente está trabalhando na publicação de suas obras em outras línguas. Foi hospedado por ICORN em Ljubljana (Eslovênia) de 2013 até 2015.

 

Além do anúncio de sua residência em Ouro Preto, Girma Fantaye participará do debate Exílio ou Silêncio? - Inauguração de Residencias para Escritores perseguidos em Ouro Preto, que acontece no dia 6 de novembro, sexta-feira, a partir das 19h, no Cine Vila Rica. Além da representante internacional do ICORN, Elisabeth Dyvik; da representante do ICORN no Brasil e fundadora da CABRA, Sylvie Debs; e do reitor da UFOP, Marcone de Freitas; estará presente a poeta, cineasta, ensaísta, filósofa e tradutoraegípcia Safaa Fathy, hospedada pelo ICORN no México.

 

Safaa Fathy é, atualmente, diretora do Colégio Internacional de Filosofia, em Paris. Doutora pela Universidade de Paris IV, Sorbonne (1993), traduziu O ‘conceito’ de 11 de setembro, de Jacques Derrida, para o árabe. Seus filmes mais recentes são Mohammad sauvé des eaux, D’Ailleurs Derrida, os filmes-poemas Nom à la mer e Hidden Valley, e um filme in progress: Tahrir, Lève, Lève, la voix.

 

Escreveu duas peças de teatro, Terreur e Ordalie, prefaciadas por Jacques Derrida, com quem escreveu um livro, Tourner les mots, em torno de um filme. É autora de várias coletâneas de poesia, dentre as quais Nom dans une bouteille à la mer, 2010, e Où ne pas naître…, em 2003. Seus ensaios mais recentes, publicados entre 2011 e 2014, são Scander, voir et croire, Le secret est dans l’image, « Hijab » est un mot qui en lui-même… e L’écriture Matricide. Alguns de seus poemas traduzidos para o português fazem parte de seu último livro de poemas, editado em 2014: Une révolution traverse des murs.

 

“O fato de Ouro Preto acolher um projeto como esse é de extrema importância, já que a cidade foi palco de movimentos de resistência e de lutas pela liberdade. A Inconfidência, o movimento de insurgência mais importante do Brasil colonial, foi realizado por uma agremiação de poetas, a Arcádia Mineira. Esse movimento é revivido simbolicamente todos os anos com a homenagem a Tiradentes. Ouro Preto é a cidade ideal para celebrar a liberdade de expressão”, afirma Guiomar de Grammont.

 

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