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“Vozes Femininas – do Silêncio ao Grito”, projeto que une arte, escuta e acolhimento a mulheres vítimas de violência em Minas Gerais, encerra a primeira edição com show em Belo Horizonte

A iniciativa percorreu sete cidades mineiras promovendo diversas atividades, como rodas de conversa, vivências sensoriais e apresentações musicais, conduzidas pelas cantoras Dea Trancoso, Coral, Irene Bertachini, Isaddora, Iza Sabino e Julia Tizumba

Um grande show musical e inédito reunirá no dia 31 de outubro, sexta, a partir das 18h30, no Viaduto das Artes, no Barreiro, as artistas Coral, Dea Trancoso, Irene Bertachini, Isaddora, Iza Sabino e Julia Tizumba. O espetáculo marca o encerramento do projeto “Vozes Femininas – do Silêncio ao Grito”, uma iniciativa que une arte, escuta e acolhimento a mulheres cis e trans vítimas de diferentes formas de violência em Minas Gerais. As seis artistas estarão juntas no palco conduzindo o repertório de músicas apresentadas nos municípios visitados pelo projeto e canções inéditas como Mira (Coral), Negra Rima (Lisa de Sena e Maíra Baldaia), Somos Uma e Rural (Lona Preta), que se entrelaçarão em uma dramaturgia criada para tocar a plateia. “Não é uma apresentação individual de cada artista. Estaremos todas juntas, o tempo inteiro, como corpos e vozes femininas que atravessam a jornada do silêncio ao grito”, afirma Dea Trancoso.

No show, Coral, Dea Trancoso, Irene Bertachini, Isaddora, Iza Sabino e Júlia Tizumba estarão acompanhadas de uma banda formada por mulheres: Débora Costa (bateria), Raíssa Uchôa (baixo) e Glaw Nader (teclado). O espetáculo terá ainda a participação especial da artista Efe Godoy como mestre de cerimônias. A entrada é gratuita, mediante retirada de ingresso no site Sympla ou no local.  

O “Vozes Femininas – do Silêncio ao Grito” é realizado pelo Viaduto das Artes, por meio de emenda do Ministério da Cultura e com o apoio da deputada federal Duda Salabert, referência na defesa dos direitos humanos e da população LGBTQIAPN+. Dea Trancoso explica que “a ideia nasceu de um desejo de oferecer apoio, por meio da arte, a mulheres em situação de violência.” Ao mesmo tempo, a proposta vislumbra a geração de oportunidades de trabalho para artistas mineiras, em um cenário ainda fragilizado pela pandemia, além da descentralização da arte e da cultura como exercício da cidadania.

Entre junho e setembro deste ano, o projeto circulou pelas cidades de Contagem, Juiz de Fora, Santa Luzia, Itabira, Ouro Preto, Betim e Sabará, promovendo diversas atividades, como rodas de conversa, vivências sensoriais e apresentações musicais conduzidas pelas artistas que agora protagonizam o show de fechamento na capital mineira. "A proposta era essa: oferecer apoio e trabalho a mulheres", resume Dea Trancoso.

O Viaduto das Artes como palco para o show de encerramento do “Vozes Femininas – do Silêncio ao Grito” conversa com a proposta do projeto de promover o direito à cidadania e tornar acessível a arte e a cultura.  “A ocupação dos espaços localizados na Região Metropolitana de Belo Horizonte rompe com a ideia de que a cultura está restrita aos palcos convencionais. E o Viaduto das Artes é um equipamento cultural multidisciplinar, instalado sob o viaduto Engenheiro Andrade Pinto, no Barreiro, que há 20 anos tem como missão tornar a arte acessível a uma das regiões mais produtivas de Belo Horizonte. A escolha do espaço para receber o espetáculo vai ao encontro com um dos objetivos do ‘Vozes Femininas’, que é promover a cidadania por meio da descentralização da cultura”, comenta Josiane Amâncio, coordenadora do projeto.

Do silêncio ao grito - Cada encontro realizado pelo projeto foi cuidadosamente desenhado para oferecer uma experiência sensível e transformadora. Já na abertura, uma espécie de “viagem xamânica” conduziu as participantes a um tempo de atenção às pequenas coisas, à respiração, ao corpo e ao entorno. A partir daí, as artistas construíram uma dramaturgia musical, composta por canções autorais e de outros compositores, que interagem com as falas e depoimentos dessas   mulheres, como uma forma de denunciar, anunciar, curar e regenerar. "Trata-se de uma ação política e cultural que busca prevenir a violência contra a mulher e acolher, por meio da arte, aquelas que foram silenciadas. Cada encontro é um espaço de cura e empoderamento, onde a arte é o lenitivo e o impulso, o descanso e a bandeira de luta. A arte é o silêncio e é também o grito. A arte é a potência", explica Dea Trancoso.

As atividades têm como base a valorização das tradições populares, os ritmos ancestrais, os saberes dos povos originários e a força simbólica dos tambores e das lutas femininas. A escuta ativa, o canto coletivo e o fortalecimento de redes de apoio entre mulheres foram os pilares de cada encontro. “O nome do projeto é muito eloquente: vamos, literalmente, do silêncio ao grito”, diz Dea. A curadoria das artistas também carrega um profundo simbolismo. “Todas as seis cantoras e compositoras representam um território importante: a mulher negra, a mulher cabocla, a mulher trans, a mulher mãe, a mulher que já foi abusada, a mulher artista que não desiste nunca”, completa Dea Trancoso.

Cada cidade revelou uma paisagem afetiva diferente, com encontros emocionantes, em que a escuta coletiva foi tão potente quanto o canto. Dolly, Coordenadora de Políticas Sociais no projeto Vozes Femininas – representante do mandato da Dep. Federal Duda Salabert -, conta que o projeto se tornou um lugar de cura e pertencimento, em que a fala deixou de ser confissão e virou afirmação de existência. “As mulheres se reconheceram nas histórias umas das outras, e nós também nos vimos refletidas nelas. Foi um espelho duplo: o público e as intérpretes partilhando o mesmo território simbólico. Saímos de cada cidade transformadas, com a certeza de que o silêncio imposto à mulher não é natural, é político, e pode ser rompido pela arte”, afirma.

As artistas destacam que a passagem do projeto pelas cidades mineiras trouxe experiências profundas e transformadoras, marcadas por trocas intensas e emocionantes. “A mulheridade é um território infinito, a partir desse seu lugar, desse contexto, temos o feminismo branco, o feminismo negro, o trans feminismo... O projeto fala do encontro dessas vozes, da violência que passamos apenas por sermos mulheres em todas as esferas. É nessa esquina que a gente se encontra. É nesse lugar que durante o projeto passamos a perceber a nossa potência apenas por sermos mulheres”, diz Coral.

“O  Vozes  também teve um cunho muito pessoal, foi um lugar onde a gente conseguiu expandir a nossa voz.  E esse movimento de se enxergar na dor do outro e do outro se enxergar na sua dor é transformador”, diz Isaddora.  

Para Irene Bertachini, o Vozes femininas é um encontro potente e diverso, onde a música das artistas sintetiza essa busca por liberdade e autonomia, o sonho e o desejo de ocupar o lugar que desejarem. “Nesses encontros e intervenções, a escuta e a conexão com a vivência de mulheres que relataram sobre a violência experienciada nos uniu e nos fortaleceu, trazendo para esse espetáculo mais força para traduzirmos e transpormos a dor.”  

“O Vozes Femininas é a potência de muitas mulheres juntas, unindo e discutindo sobre força e a coragem, construindo ideias e regenerando sorrisos de cada mulher vítima de agressão doméstica”, conclui Iza Sabino. 

Próximos passos – O show no Viaduto das Artes encerra as apresentações, mas não coloca um ponto-final no projeto. O “Vozes Femininas – do Silêncio ao Grito” prevê o lançamento de um documentário, dirigido por Carina Santos, com o objetivo de registrar e ampliar o impacto das ações. O filme será disponibilizado gratuitamente para centros de atendimento e referência de enfrentamento à violência contra a mulher.

Também será produzido um catálogo impresso, com textos, imagens e registros do projeto, a ser distribuído em equipamentos públicos que atuam na rede de apoio às mulheres. E os planos não param por aí. “Desejamos que o ’Vozes Femininas’ chegue a ainda mais pessoas. Talvez com uma imersão criativa junto às mulheres atendidas pelos centros de acolhimento, compondo novas canções, produzindo arte de forma mais transdisciplinar. Quem sabe, também, possamos pensar num registro em áudio desse trabalho? Vamos vibrar por isso!”, finaliza Dea.

SERVIÇO: Show de encerramento do projeto “Vozes Femininas – do Silêncio ao Grito”
Data: 31 de outubro, sexta, a partir das 18h30 (início do evento)
Local: Viaduto das Artes 
Av. Olinto Meireles, 45 - Barreiro (Belo Horizonte)
Entrada: Gratuita. Ingressos retirados no site www.sympla.com.br 

Foto: IsisMedeiros

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