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Quadrinista lança obra sobre tragédia de Mariana durante o FLI BH
Escrito pelo professor e quadrinista João Marcos Mendonça, que viu de perto a tragédia, livro é retrato sensível da tragédia ambiental; lançamento em BH acontece no próximo sábado, 25 de outubro
Em 5 de novembro de 2015, o Brasil assistiu a um de seus episódios mais dramáticos: o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). A estrutura da mineradora Samarco liberou 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos – o equivalente a 21 mil piscinas olímpicas –, que avançaram em forma de lama tóxica por 660 quilômetros do Rio Doce. No caminho, 38 municípios foram atingidos, comunidades inteiras desapareceram, vidas foram interrompidas e um ecossistema foi soterrado, com a lama, por fim, chegando à foz, no Espírito Santo, e alcançando o Atlântico.
Entre as cidades impactadas estava Governador Valadares, no leste de Minas, com quase 280 mil habitantes. Dependente exclusivamente do Rio Doce para o abastecimento, a população viu as torneiras secarem e o cotidiano entrar em colapso. Foi nesse cenário que o quadrinista e professor universitário João Marcos Mendonça, morador da cidade, decidiu transformar a experiência vivida com a família em um relato gráfico. O resultado é Doce Amargo, lançamento da Editora Nemo (Grupo Autêntica), que chega às livrarias no ano em que a tragédia completa uma década.
A obra será lançada em Belo Horizonte no próximo sábado, 25 de outubro, sábado, durante o Festival Literário Internacional de Belo Horizonte (Fli BH), com duas atividades que contarão com a participação do autor. Às 13h, João Marcos Mendonça ministra a oficina Traço a traço: o desenho muito além da imaginação para crianças. Às 16h30, ele participa da mesa Contar histórias com imagens, ao lado de Anna Cunha e de Fereshteh Najafi. A medição é de Rodrigo Teixeira. O Fli BH acontece na Funarte (R. Januária, 68, Centro).
Misturando memória pessoal e testemunho coletivo, a obra acompanha o primeiro ano após o desastre: o medo diante da incerteza da água, as longas filas por galões, os boatos que se espalhavam mais rápido do que as informações oficiais, a sensação de abandono frente a promessas não cumpridas – e também o choque diante de comerciantes que, movidos pela oportunidade, cobravam preços abusivos pela água mineral ou colocavam à venda galões supostamente lacrados que continham água imprópria para consumo. Em meio a essa mistura de desespero e desconfiança, sobressaem ainda os pequenos gestos de solidariedade entre vizinhos, as conversas de família e as cenas corriqueiras que, diante do caos, ganham nova dimensão.
“Me interessou contar essa história sob a perspectiva humanizada, do ponto de vista ordinário. De pessoas que tiveram suas rotinas impactadas em situações absolutamente comuns, como tomar água ou um banho. E também, principalmente, para que essa história não fosse esquecida – pois isso também acontece com o passar dos anos. Relembrar esta tragédia agora que ela completa 10 anos é um passo importante nesse sentido”, afirma o autor.
Com traço sensível e narrativa precisa, João Marcos constrói um testemunho gráfico que é, ao mesmo tempo, denúncia e memória. “Doce Amargo não nasce só da mão do artista. Ele nasce do encontro, da escuta e do amor que resiste”, escreve o professor Hernani Santana, autor do prefácio, ao lembrar que a HQ reconfigura a memória da tragédia e rompe com versões oficiais.
As cores são de Marianne Gusmão, que conseguiu traduzir visualmente os sentimentos envolvidos na narrativa. Por meio da lama de rejeitos de minério de ferro, ela pontua a variação de tons emocionais da história, reforçando a densidade dramática e o impacto humano da tragédia. Marianne também assina as graphic novels Gioconda e O Menino Rei – estas em parceria com Felipe Pan e Olavo Costa.
Sobre o autor
João Marcos Mendonça nasceu em Ipatinga (MG). Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG, é professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vale do Rio Doce (Univale). Autor de mais de 15 livros em quadrinhos para crianças, publicados por diversas editoras, recebeu prêmios como a Cátedra 10 UNESCO de Leitura (PUC-Rio).
Em 2024, foi artista convidado do Batman Day, da DC Comics, em comemoração aos 85 anos do personagem. Atua também como ilustrador e pesquisador do uso das HQs na educação – trabalho que lhe rendeu o Troféu HQ Mix e originou publicações teóricas. Ministra palestras e oficinas em instituições de ensino, eventos literários e de quadrinhos no Brasil e no exterior. É autor da série de tiras Escola de Passarinhos, publicada no Instagram, que aborda o universo da educação e deu origem a uma startup de mídia.
Mais informações: www.grupoautentica.com.br/nemo.
Foto: Ana Pereira
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