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Um Andar Sobre o Mar

Cineinstalação da videoartista Cris Ventura, criada para o espaço Mari’Stella Tristão, do Palácio das Artes, estará aberta ao público de 8 a 21 de outubro

Na obra Um Andar Sobre o Mar, da videoartista Cris Ventura, o público irá mergulhar na intimidade de quatro moradores do mesmo pavimento de um edifício à beira-mar em uma cidade portuária. Imerso em imagens e sons, o espectador ficará à deriva, podendo transitar livremente por quartos, um corredor e uma varanda, onde encontrará os personagens em cenas projetadas sobre paredes, móveis e outros objetos. Por meio de suas escolhas de percurso, cada visitante participará do processo de montagem, criando sua própria narrativa fílmica.

 

Contemplado pelo edital Filme em Minas 2013/2014, na categoria Formato Livre, o projeto Um Andar Sobre o Mar foi criado especificamente para a planta do espaço Mari’Stella Tristão, do Palácio das Artes. A obra estará aberta ao público de 8 a 21 de outubro, de terça-feira a domingo, com sessões de hora em hora, das 10h às 21h. A entrada é gratuita, limitada a 25 pessoas por sessão.

 

Trazendo no currículo outras criações audiovisuais apresentadas em exposições, Cris Ventura busca neste novo trabalho explorar mais profundamente as potencialidades do espaço da galeria para a exibição da obra. Em Um Andar Sobre o Mar estão presentes elementos característicos do chamado cinema expandido, como projeções simultâneas em suportes diversos e diferentes canais ou fontes de imagem e som, além de um ambiente que possibilita a movimentação e a imersão do público.

 

Esse último aspecto é determinante para estabelecer jogos com o público, cuja participação na construção da narrativa, por meio de escolhas de trajeto, por exemplo, é solicitada em uma montagem aberta e dialógica. “A proposta é quebrar a frieza do cubo branco [galeria de arte] e também a distância de um espectador entregue à passividade, sentado na poltrona de uma sala de cinema. O público poderá andar pelo espaço como também sentar-se na cama do personagem, aproximando-se a realidade ficcional deste da realidade factual de cada espectador”, explica a videoartista.

 

Espaço protagonista

Se o público é coautor em Um Andar Sobre o Mar, o protagonista é o espaço, que deixa seu testemunho por meio de rastros e marcas do tempo sugeridos nas projeções em paredes, janelas, portas e móveis. Com esses efeitos sensoriais, a videoartista pretende ativar a memória do público. “A memória parece abstrata enquanto ideia de uma linha temporal, mas torna-se mais concreta ao se relacionar com o espaço. Construímos um ambiente fantasmagórico, em que essas imagens em movimento transitam junto ao público”, descreve Cris.

 

Ambiente por excelência do inconsciente e da intimidade, a casa, em especial o quarto, é a espacialidade em questão na obra. Ao desenvolver um trabalho artístico na perspectiva do íntimo, Cris Ventura, no entanto, fugiu do registro de massa daquilo que é da ordem do privado, propondo ressignificar o voyeurismo, desgastado pelas fórmulas dos reality shows e outras exposições do eu. “Um programa televisivo como Big Brother virou um espetáculo tão grande que não tem intimidade de fato ali. Em Um Andar Sobre o Mar, pelo contrário, o quarto é o lugar em que as máscaras sociais estão desmontadas”, afirma a diretora.

 

Hibridismo de linguagens

A memória também emerge na obra a partir do mar, presente tanto em imagens visuais e sonoras quanto em seus significados, principalmente àqueles ligados ao ato de recordar. Introspectivos, os personagens terão uma relação com uma cidade aberta ao oceano, portuária, o que remete a alguém que partiu e à saudade. Foram criados a partir do eu lírico de quatro poemas: Mar Absoluto, de Cecília Meirelles; Difícil Ser Funcionário, de João Cabral de Melo Neto; Fama e Fortuna, de Ana Cristina César; Elegia 1938, de Carlos Drummond de Andrade. Os textos não são declamados nem encenados pelos atores, que partiram deles para criar ações em um trabalho conjunto com a construção do espaço cênico - arquitetônico e audiovisual.

 

O hibridismo de linguagens é outra característica de uma produção de cinema expandido, que está na fronteira de diferentes disciplinas além do cinema, incluindo fotografia, vídeo, teatro, música, literatura e podendo valer-se tanto das tecnologias digitais de última geração quanto de antigas técnicas, como a projeção de sombras. “O hibridismo sugere a criação coletiva e a experimentação”, diz Cris Ventura, que buscou incorporar o trabalho autoral de cada artista envolvido no projeto.

 

Sobre a artista

Cris Ventura (1984) nasceu e vive em Belo Horizonte. Um Andar Sobre o Mar é o desdobramento prático de uma pesquisa teórica da artista, que é mestre em Estudos de Linguagens pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Sua dissertação é o resultado de investigação sobre filmes e vídeos autorreferenciais, que se utilizam de materiais de arquivo pessoal ou familiar para a construção de narrativas fílmicas.

 

Graduada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também estudou música, teatro e cinema. Um de seu primeiros trabalhos audiovisuais, a videoinstalação Sangre (2009) já flertava com o ambiente da galeria e foi exibida na exposição Masculino/Feminino, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (PR), durante a mostra Multiolhares do Festival Olhar de Cinema, em 2012. Também apresentada em galerias, a obra Drop in the darkness, da qual é coautora, esteve presente nas exposições Sismógrafo, realizada no Palácio das Artes em 2012, e Fluxus, no Oi Futuro de Belo Horizonte, em 2011.

 

O projeto de vídeo concebido por Cris Ventura para o espetáculo musical Nave Fluorescente, de Rubens Aredes, realizado no Espaço Fluxo, em 2012, dialoga particularmente com o atual trabalho. Nele, cada músico ocupava um espaço diferente na casa que sediava o espaço, na Floresta, Belo Horizonte, enquanto suas imagens eram transmitidas ao vivo para televisores na sala de estar.

 

Os demais trabalhos de videoarte de Cris Ventura são E Depois do Começo (2011), Oslo (2010) e Krípton (2009). Sua obra de estreia, Nôva (2009), assim como Um Andar Sobre o Mar, é contaminada pela literatura, tendo sido inspirada em personagens da escritora Clarice Lispector. Também dedicada ao documentário, dirigiu o longa-metragem Nas Minhas Mãos Eu Não Quero Pregos (2012) e o curta Quarteirão do Soul (2007). É codiretora de Analogia do Verme (2009) e Negros Encontros Negros (2007).

 

Sinopse

O antigo prédio Águas Correntes, em uma cidade litorânea, resiste aos fortes ventos, ao intenso sol, à maresia e seu sal. Seus habitantes de diferentes épocas são envolvidos emocionalmente com o espaço. Suas paredes, quinas, janelas, portas parecem ter gravadas em si imagens, reminiscências e rastros daqueles que por lá viveram. Como esquecer aquele pôr do sol de 21 de junho de 1938? E o amanhecer de um dia de primavera de 1976? Convidamos o público a mergulhar e deixar-se à deriva nessas imagens, no ambiente íntimo do eu lírico dos poemas Mar Absoluto, de Cecília Meireles; Difícil Ser Funcionário, de João Cabral de Melo Neto; Fama e Fortuna, de Ana Cristina César; Elegia 1938, de Carlos Drummond de Andrade.

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