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Ronaldo Fraga: Recosturando Portinari

Casa Fiat de Cultura, recebe a exposição gratuita

O pintor Candido Portinari (1903- 1962) chamou a atenção de Ronaldo Fraga de uma forma mais íntima quando o estilista ainda estava envolvido com o processo de pesquisa sobre outro artista brasileiro: Athos Bulcão (1918- 2008), que inspirou uma coleção lançada em 2011. “Uma passagem que me chamou a atenção foi quando, nos anos 1940, Athos se inscreveu para participar de uma bienal de artes e seu trabalho foi recusado. Ao saber daquilo, Portinari esbravejou, achou um absurdo e, em meio aos rompantes de indignação, o convidou para ser seu assistente aqui em Belo Horizonte, na equipe que faria o mural da igreja de São Francisco, na Pampulha”, lembra. 


A generosidade para com seus contemporâneos modernistas, expressa nessa e em outras atitudes, e o fato de o pintor ser, segundo Fraga, um “célebre desconhecido” – alguém de quem todo mundo já ouviu falar, mas que poucos conhecem profundamente – o motivaram a mergulhar em seu universo e o resultado desse mergulho poderá ser visto a partir da próxima terça (26), na Casa Fiat de Cultura, que recebe a exposição “Recosturando Portinari”. 

Com curadoria de Fraga, a mostra traz o quadro “Civilização Mineira” (1959) e suas etapas de restauração, em instalações e ambientes sensoriais que proporcionam a imersão do público no processo de recuperação da obra. Em outra vertente, poderá ser vista a coleção de moda “O Caderno Secreto de Candido Portinari”, lançada por Fraga em abril na São Paulo Fashion Week, acompanhada de croquis e desenhos que aproximam o público do modo de criação do estilista, que ainda traz concepções exclusivas para a mostra, elaboradas especificamente a partir do quadro em questão. 



Em “Civilização Mineira”, um painel de 2,34m x 8,14m restaurado ao longo do último ano, Portinari representou a mudança da capital de Minas Gerais de Ouro Preto para Belo Horizonte, em 1897. Segundo Fraga, a exposição foi pensada dessa maneira para aproximar Portinari de crianças, adolescentes e jovens. “Hoje existe um desafio muito grande que é trazer Portinari da forma como ele merece para uma nova geração e simplesmente mostrar o processo de restauração do quadro poderia não ser tão eficaz. Entendemos que eram necessárias outras formas de diálogo”, explica. 


 

Família 

O contato do estilista com a obra do pintor teve um mediador fundamental: João Candido Portinari. “Tive uma grande oportunidade, que considero uma das melhores coisas que já me aconteceram na vida, que foi ter ficado amigo do filho dele, que é uma figura tão generosa, amável e inteligente quanto o pai”, conta. “Quem me apresentou à obra foi o João. E ele conseguiu passar para mim essa paixão que tem por aquele legado. Não fosse por ele, que criou o Projeto Portinari e catalogou e disponibilizou cerca de 5.000 obras, o trabalho do pintor talvez estivesse perdido”, ressalta, lembrando o período de ostracismo pelo qual o nome de Portinari passou durante a ditadura, já que a direita o considerava comunista e a esquerda o associava à obra pública. 



Sobre a ligação do pintor com Minas Gerais, apesar de ser paulista, Fraga diz que Portinari é o tipo de artista tão essencialmente brasileiro que sua relação com a cultura do país transcende os limites regionais. “Eu o coloco num panteão ao lado de pessoas como Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e João Cabral de Melo Neto, dos quais eu até esqueço o Estado em que nasceram”, diz. 

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