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Ciclo de Conferências Mutações recebe Jorge Coli e Mari Rita Kehl
Pensadores abordam, respectivamente, as formas estéticas do discurso autoritário e a utopia da cura em psicanálise
Nos dias 24 e 25 de agosto, o crítico de arte Jorge Coli e a psicanalista Maria Rita Kehl são as atrações do Ciclo de Conferência Mutações, no BDMG Cultural. Idealizado e dirigido pelo filósofo Adauto Novaes, o tema desta edição, Mutações: o novo espírito utópico, promove uma discussão sobre as novas formas de utopia. Na segunda-feira, 24, o crítico de arte Jorge Coli discute as Formas estéticas do discurso autoritário. No dia 25, Maria Rita Kehl apresenta A utopia da cura em psicanálise. As palestras são realizadas às 19h. As inscrições podem ser feitas pelo site www.mutacoes.com.br e os valores para o ciclo completo são de R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), e, para inscrição de palestra avulsa, R$ 10 (inteira) e R $5 (meia). Além de Belo Horizonte, o ciclo conta com conferências em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília.
Para o crítico de arte Jorge Coli, os projetos utópicos – sejam eles formulados em termos filosóficos e conceituais, sejam instituídos por convicções coletivas, e, muitas vezes alimentados por ambos – significam uma força de redução da complexidade contraditória e fluida própria às múltiplas dimensões humanas. A crítica à modernidade pressupõe ultrapassar a episteme que ela revelou. Por isso, uma análise de sua atividade artística é, sob tal ponto de vista, particularmente esclarecedora, pois foi nela que as formulações conceituais, as crenças coletivas, as instituições encantadas e felizes – e, também, as relações com as piores realidades – viabilizaram-se, denunciando estruturas, conflituosas ou não, constituídas por uma origem universal.
Já Maria Rita Kehl questiona, em primeiro lugar, se a cura da psicanálise seria utópica. Revela dúvidas, ainda, quanto ao indivíduo que se diz curado: “Trata-se da representação do fim da travessia de seu processo de desejo?”, questiona, para ressaltar, em seguida, que o universo de mercadorias é hoje tão natural que restringe o desejo a algo. “Assim sendo, conquistado esse algo, o movimento desejoso cessa? Na melhor das hipóteses: não, pois, do contrário, o que haveria seria a morte do sujeito em meio a um atoleiro de objetos que proporcionaram plenitudes fugazes”, completa.
Nas próximas semanas, o Ciclo de Conferências Mutações receberá o físico Luiz Alberto Oliveira (“Antropoceno, objetos invisíveis, utopia”), o professor de filosofia da USP Vladimir Safatle (“O afeto como utopia”), o ensaísta Marcelo Coelho (“Socialismo utópico, capitalismo científico?”), o professor de filosofia Franklin Leopoldo e Silva (“Experiência histórica e imaginação”), o arquiteto Guilherme Wisnik (“Projeto e destino”), o cientista político Renato Lessa (“Utopia e negatividade – modos de reinscrição do irreal”), o jornalista e professor da USP Eugênio Bucci (“Ladrões da utopia”) e a filósofa Olgária Matos (“Sem fronteiras e sem passagens”).
Mutações: o novo espírito utópico é uma realização da Artepensamento, do Sesc São Paulo, e da Associação Pró-CulturaPromoção das Artes – APPA. O evento conta com patrocínio, em Belo Horizonte, do BDMG Cultural.
Sobre Jorge Coli
Jorge Coli é professor titular em História da Arte e da Cultura da Unicamp. Formou-se em História da Arte e da Cultura, Arqueologia e História do Cinema na Universidade de Provença. Doutor em Estética pela USP, foi professor na França, no Japão e nos Estados Unidos. Foi também colaborador regular do jornal francês Le Monde. É autor de Musica Final (Unicamp); A Paixão segundo a ópera (Perspectiva) e Ponto de fuga (Perspectiva), O corpo da liberdade (Cosac Naify). Verteu para o francês Os sertões, de Euclides da Cunha, e Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos. Recentemente, participou das seguintes publicações: O homem-máquina; Ensaios sobre o medo e Mutações: a experiência do pensamento; Mutações: a invenção da crença, Mutações: elogio à preguiça e Mutações: fontes passionais da violência.
Sobre Maria Rita Kehl
Maria Rita Kehl é doutora em psicanálise pela PUC, psicanalista e, atualmente, membro da Comissão Nacional da Verdade. Atuante na imprensa brasileira desde 1974, escreveu O tempo e o cão (São Paulo: Boitempo, 2009; Prêmio Jabuti),Ressentimento (São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004), Videologias (em parceria com Eugenio Bucci, São Paulo: Boitempo, 2004),Sobre ética e psicanálise (São Paulo: Companhia das Letras, 2001), além de ensaios para os livros Ensaios sobre o medo,Mutações: ensaios sobre as novas configurações do mundo, Vida, vício, virtude, Mutações: a condição humana, Mutações: elogio à preguiça (Prêmio Jabuti em 2013) e Mutações: fontes passionais da violência.
O novo ciclo, segundo Adauto Novaes
“Utopia, o livro célebre de Thomas Morus, faz 500 anos. Durante meio milênio, esta bela palavra, que quer dizer não lugar, mas também se pode traduzir por eutopia – lugar da felicidade –, fez um longo percurso cheio de enigmas. Promessa, esperança, simulação antecipadora, horizonte de nossos desejos, a utopia tem um destino comum, a ‘severa e lúcida crítica da realidade’. Ou, como diz Marx, ela é a ‘expressão imaginativa de um mundo novo’. O fundamento da utopia é, pois, a crítica do presente. Hoje vemos, entretanto, a construção de um silêncio não só sobre o desejo utópico, mas também sobre seu pensamento. Um dos lugares comuns da nova opinião – lembra Abensour – consiste em dizer que quem pensa a democracia deve fazer o luto da utopia; inversamente, quem insiste em pensar a utopia afasta-se da democracia. Nada mais danoso para a política e para opensamento. ‘Esta hipotética contradição entre o pensamento do político e o pensamento da utopia faz pouco caso de toda uma tradição da filosofia política moderna’, diz, ainda, Abensour. O ódio da utopia alimenta-se do ódio à emancipação. O pensamento conservador vai além e tenta justificar esse ódio de maneira sinuosa, desqualificando a utopia com mais um lugar comum, ‘apolítica é pensamento; a utopia é ilusão’. Um ciclo de conferências que relaciona mutações e utopia nos remete, ainda, às perspectivas criadas pelas revoluções tecnocientífica, digital e biotecnológica ou, mais precisamente, ao futuro pensado pelo que se convencionou chamar de advento do pós-humanismo, 2030 seria a data da grande virada, triunfo da inteligência artificial sobre a inteligência biológica, milhões de nanorobôs circulando por todo o corpo humano, no sangue, nos órgãos, no cérebro para corrigir erros do DNA; a vida poderá ser prolongada ao infinito e seria anunciada, então, ‘a morte da morte’”.
Foto: Divulgação
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