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Odeon Companhia Teatral apresenta Horácio em BH

Sob a direção e argumento de Carlos Gradim, espetáculo traz uma reflexão sobre temas centrais da existência humana, como escolhas, destino, finitude e percepção da morte. Uma reflexão sobre o quanto nos aprisionamos diante de certos acontecimentos da vida e como eles limitam a nossa existência. Como enterramos desejos para sobreviver e se inserir socialmente no mundo. Estes são alguns temas abordados em “Horácio”, drama filosófico dirigido por Carlos Gradim, onde três atores vivem um só personagem, em idades diferentes. A dramaturgia é de Edmundo de Novaes Gomes e o elenco é formado por Geraldo Peninha, Leonardo Fernandes, artistas mineiros, e Sávio Moll, ator carioca convidado. A montagem é da Odeon Companhia Teatral segue até o dia 18 de agosto, sempre de sexta a domingo, no Teatro Oi Futuro Klaus Viana. “Horácio” é uma realização do Instituto Odeon, com o patrocínio da OI, BDMG e BMG, por meio das Leis Estadual e Federal de Incentivo à Cultura e do Fundo Municipal de Cultura. Um time de primeira linha acompanha o diretor: Telma Fernandes, designer de luz, Dr Morris, trilha sonora, preparação vocal de Rose Gonçalves, cenário e figurinos, Niura Belavinha e preparação corporal, Suely Machado, do grupo de dança 1º. Ato. Segundo o diretor Carlos Gradim, o espetáculo segue a mesma linha de trabalho experimental, presente na trajetória da Odeon, que transita entre clássicos, textos contemporâneos e criação própria. Neste caso, o argumento e inspiração para montar “Horácio” surgiu a partir da leitura do livro "Homem Comum", de Philip Roth. O livro, de 120 páginas, trata de temas centrais da existência humana, como desejos, arrependimentos, doenças, velhice e morte. “Após a leitura, fiquei bastante tocado pelo tema, uma vez que eu entrei na meia idade e estava vivenciando muito dos questionamentos levantados no texto. As escolhas que fazemos em algum momento da vida e como elas determinam nosso destino na linha do tempo; a finitude e a percepção da morte, a reflexão em torno do caminho trilhado”, explica Gradim. O autor, Edmundo de Novaes Gomes, relata que o título do espetáculo foi inspirado no filósofo romano, Horácio, o deus da poesia na Roma Antiga. O trabalho contou com a colaboração de João Gabriel, de 23 anos, filho de Edmundo. “Por coincidência, ele escreveu um poema com o mesmo título e utilizamos alguns trechos no texto final. O humor ácido e linguagem moderna se aproxima do pensamento do grande poeta e filósofo grego, que trazia para estas reflexões que abordamos na peça”. O autor destaca a importância em se aproveitar o presente frente à brevidade da vida e a sua consonância com a realidade como traços diferenciais da montagem. A ideia central expressa também a inquietação pessoal do diretor. “Esse texto surgiu porque o Gradim, assim como todos nós, vive a angústia de ver o tempo passar, a impotência frente ao tempo. Em dado momento da vida, descobrimos que somos pequenos, somos uma bobagem perto disso tudo que é o universo e sua finitude”, explica Edmundo. Gradim e Edmundo criaram Horácio, um personagem multifacetado pelo tempo. “Deparar-se com Horácio significa estranhar-se a si mesmo. Reconhecer-se novamente. Colocamos três homens em idades diferentes - 23, 46 e 72 anos que, na verdade, são a mesma pessoa – Horácio. No palco, estão diante de seu próprio velório, criando um diálogo absurdo em relação a sua existência”, adianta o diretor. O experimento na cena é fazer com que o texto que é árido e, de alguma forma, pouco linear, seja completado com o olhar e com a experiência do próprio público. A complexidade está em revelar o herói contido em cada um. “É uma tentativa de demonstrar que não devemos nos aprisionar na experiência de um trauma, de uma dor ou de uma perda. Pois, uma vez nessa prisão, deixamos passar as oportunidades de prazer e de alegria que a vida nos traz”, completa Gradim. Para seleção do elenco, o diretor esclarece que o desafio foi encontrar atores que estivessem na idade do personagem. “Além disso, buscamos atores com experiências diversificadas no teatro para contribuir na dimensão proposta pelo texto, mas que de alguma forma se assemelhasse com a própria vida deles”. O ator Leonardo Fernandes interpreta Horácio aos 23 anos, que sonha em ser poeta, com pouca idade, com menos lembranças. Sávio Moll é Horácio aos 46, pessoa que resolveu sua vida, tornou-se advogado, diferentemente de seu impulso inicial, que era ser poeta. Mergulha em um embate de memória, descobrindo seu próprio universo. Ele traz, não só a defesa de sua escolha profissional, mas memórias traumáticas, como a de um acidente que sofreu. Geraldo Peninha interpreta o mais velho, de 72 anos. Um homem maduro que olha para trás e consegue enxergar toda sua trajetória. Em um labirinto de lembranças, os três dialogam, utilizando-se de suas memórias individuais. Muitos questionamentos surgem, como a dúvida sobre suas escolhas. Em um de seus diálogos os mais novos questionam, por exemplo, o por quê de não terem vivido outras coisas, citando grandes nomes como Jimmy Hendrix, Marilyn Monroe, Carmem Miranda etc. O experiente Horácio esclarece que essas pessoas não envelheceram como ele, não chegaram aos 72 anos, não fizeram uma ponte de safena, porque morreram antes. “O espetáculo não se propõe a mastigar ou digerir algo para o público. Entregamos um quebra-cabeça, com diversas peças que podem ou não serem montadas por cada um”, diz Peninha. Para a preparação corporal do elenco, Gradim contou com a experiente Suely Machado, diretora e bailarina do Grupo 1º Ato, já parceira da Odeon em outras montagens da companhia. “Horácio é um trabalho de muito texto, que situa os corpos dos atores de uma forma que, o movimento do corpo, já é, em si, um texto”, conta Suely. A trilha sonora fica a cargo de Dr Morris e o desenho de luz, assinado por Telma Fernandes, cria a ilusão proposta pela cenografia, de Niura Bellavinha, que também assina os figurinos. Na montagem, não há uma ordem cronológica. O tempo é representado por um pêndulo, em constante movimento. Espelhos são usados nos figurinos, vestindo e despindo os personagens de seus significados. De cores azuis arroxeados e desgastados, iguais para os três atores, fazem uma referência ou reverência ao tempo.

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