Notícias
Espetáculo no Teatro Marília traz uma reflexão sobre a vida humana
Amauri Reis celebra 35 anos de carreira com a comédia dirigida por Inês Peixoto e escrita por Carlos Nunes
Esta semana, de quinta a domingo (28 a 31 de julho), no Teatro Marília, em BH, é a última oportunidade de ver o espetáculo do ator Amauri Reis: “Boa noite cinderela”. O texto é do amigo e também ator Carlos Nunes, que criou a história de um bancário cinquentão, bailarino clássico amador que, após conhecer um rapazote na boate, acorda, três dias depois, em casa, sozinho, sem móveis, sem dinheiro, com medo e sem coragem de acionar um socorro, por vergonha. Com o enredo em mãos, Amauri convidou a amiga de infância, parceira de outras produções, a atriz e diretora Inês Peixoto para fazer a direção. Uniu-se ao time, Cícero Miranda, responsável pelo cenário e figurino, Wladimir Medeiros, pela iluminação, e Márcio Monteiro, para criar a trilha sonora.
E no ano comemorativo de seus 35 anos de carreira, Amauri está há mais de 24 meses aprendendo balé clássico para interpretar seu personagem, que fica sozinho no palco. Cheio de angústia, o personagem dispara para si mesmo perguntas do tipo: Como é que eu vou contar para a minha mãe? Como eu vou falar com o meu pai? Como que eu vou contar para o mala do meu chefe? Como vou falar com minha amiga Marcilene?”. Para o ator, o texto revela a realidade compartilhada por grande parte da sociedade que vive oprimida pelo medo das reações das pessoas. “Estamos vivendo um momento de exacerbação da homofobia, onde um cara entra numa boate e mata, a tiros, 50 homossexuais. É um espetáculo que alerta para que as pessoas se respeitem, independente se é branco, negro, espírita, católico, hétero ou homossexual”, diz Amauri.
Inês Peixoto conta que quando leu o texto, aceitou fazer a direção com a condição de que tivessem um tempo maior de processo para que conseguissem levar a história para um lugar mais vertical. “Eu não queria abordar esse tema somente brincando com o inusitado de um homem vestido de bailarina . Então, ela propôs ao Amauri que tentassem achar o humor, com outra pegada. “E nada como mexer no material pra você ir se apropriando. Então, quando conseguimos tocar na delicadeza desse personagem, começamos a sentir que estávamos com um espetáculo leve e muito tocante nas mãos. Fui me emocionando com este processo todo. Acho que é um assunto que precisamos falar muito, a cada dia. Desde o começo do ano pra hoje, ou seja, de março de 2016, quando começamos a ensaiar, até junho, essa urgência tornou-se ainda maior diante dos acontecimentos que estão ocorrendo no nosso país, esse retrocesso na liberdade de expressão, nas liberdades de escolha”, avalia.
A montagem - produção
O ponto de partida para começar a montagem foi a necessidade de Amauri Reis dominar um pouco de balet clássico para realização do número de dança presente no texto. Em 2013, ele iniciou as aulas. Depois, realizou workshops de imagem do personagem como gerente de banco e como bailarino clássico. Os ensaios da montagem começaram em março de 2016.“Amauri me mostrou, no primeiro dia de ensaio, a coreografia que ele trabalhou durante os dois anos a que ele se dedicou ao balet. Desta primeira cena, partimos para o "acordar" de um "boa noite Cinderela". Mergulhamos nos temas da solidão, do preconceito, da fantasia, do amor e da perda. Assistimos filmes realistas sobre relações amorosas pagas, como por exemplo "O Cheiro da gente". Assistimos diversas versões de "Cinderella" e "O lago dos cisnes ", mergulhando no universo encantador e feminino das princesas bailarinas. Bebemos em Chaplin e no Les Ballets Trockadero de Monte Carlo. Fomos encontrando nosso jeito de dançar, sofrer e rir dessa história”, revela Inês Peixoto.
A diretora explica que os elementos utilizados no espetáculo remetem a uma fuga do espaço real. “Fizemos a opção de não entrar no realismo, no gabinete realista. Temos vários simbolismos, tanto no figurino, no cenário, como na maneira de atuar. Entramos em territórios simbólicos com a intenção de tocar as pessoas. Acho importante mesclar o masculino e o feminino que, na peça, estão bem representados, visualmente, na figura do Amauri, quando mesclamos a musculatura dele com o brilho do tutu que ele
veste. Fazemos uma fusão desses dois universos porque nossas almas são isso, tanto do homem quanto da mulher. Acho que, simbolicamente, a gente traz um discurso na imagem que pode dar um clique nas pessoas no sentido de que nós podemos ser aquilo que queremos e respeitando o outro. A nossa subjetividade tem que ser respeitada. Isso traz a discussão de gênero, o que é de menino ou menina. E acho que essa nova geração não quer mais esse limite, que tem que ser de homem ou de mulher. Tem que ser do ser humano. Há muito preconceito a ser quebrado”, acredita Inês.
Márcio Monteiro conta que o pontapé inicial para a trilha sonora foi o Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, que já era referência na construção da personagem e preparação corporal. “Isso, somado à estranheza dissonante da Suíte Cinderella, de Prokofiev. Em contraste com este universo da música clássica, algumas músicas populares já faziam parte do processo criativo e foram modificadas, ganhando novo significado na dramaturgia sonora. Desenhos animados clássicos também serviram de inspiração para a criação dos efeitos sonoplásticos”, adianta.
Classificação: 16 anos
Duração: 70 minutos
Datas: 21 a 24 e 28 a 31 de julho, quinta a domingo
Horários: quinta a sábado, às 21h / Domingo, às 19h
Ingressos: R$40,00 - inteira / R$20,00 - meia-entrada conforme a Lei.
Posto do SINPARC - R$15,00 - preço único
Local: Teatro Marília - Avenida Alfredo Balena, 586, Funcionários
Informações: (31) 3277-4697
Foto: Tiago Pereira
Selecionamos os melhores fornecedores de BH e região metropolitana para você realizar o seu evento.