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Espetáculo “Coivara”, De Ana Rocha, Encerra Circulação Com Apresentação Em Capitólio
Última parada será no dia 19 de julho, no Espaço São Vicente de Paula, em parceria com o Espaço Cultural do Lar de Idosos. Show celebra o protagonismo feminino na viola brasileira com repertório autoral e tradição do Vale do São Francisco
A violeira, compositora e educadora musical Ana Rocha encerra neste mês a circulação do espetáculo Coivara, com apresentação marcada para o dia 19 de julho, em Capitólio (MG). O show será realizado no Espaço São Vicente de Paula, em parceria com o Espaço Cultural do Lar de Idosos, reafirmando o compromisso do projeto com a inclusão, o afeto e o alcance da cultura popular a todos os públicos.
Baseado no álbum homônimo lançado em 2022, o espetáculo celebra a força da viola caipira em mãos femininas, trazendo ao palco as tradições de folias, batuques e cateretês do Vale do São Francisco, com direção musical e arranjos de Rogério Delayon. Ana Rocha se apresenta ao lado do multiartista Javier Sotelo, responsável pela percussão, piano e também pela cenografia do projeto, construída com argilas e barros da própria região.
Além de Capitólio, a circulação passou por Pimenta, onde a apresentação aconteceu no Galpão Cultural em junho, e por Guapé, durante o Festival Arte no Mato em maio — evento no qual Ana participou pela terceira vez.
Show em Capitólio: encerramento simbólico em um lugar de origem
A cidade de Capitólio ocupa um lugar central na trajetória artística de Ana Rocha e na própria concepção do Coivara. Por isso, o espetáculo se despede ali, no dia 19 de julho, com uma apresentação especial no Espaço Cultural do Lar de Idosos — local carregado de história, cuidado e significado para a comunidade.
Fundado em 1921, o Lar de Idosos é um símbolo do espírito coletivo dos capitolinos: há mais de um século, pessoas se unem para garantir dignidade, conforto e amor àqueles que guardam, em seus olhos e gestos, a sabedoria de gerações. O espaço, que já foi vila, hospital e abrigo, se transformou em um verdadeiro hotel de muitas estrelas, onde a ternura e o afeto são pilares do cotidiano.
Realizar o Coivara nesse cenário é reafirmar o compromisso do projeto com a inclusão, com o pertencimento e com a valorização dos ciclos da vida. Ana espera viver ali um momento de celebração e conexão com a memória, com as raízes e com os saberes que florescem na escuta atenta dos mais velhos. A entrada é gratuita e acessível — um convite para todos que desejam partilhar música, presença e ancestralidade.
COIVARA: tradição e renovação
Coivara vem de koybara, palavra do tupi antigo que significa “cata-paus de roça”, designando uma técnica agrícola ancestral utilizada por comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas e caiçaras. A prática consiste em queimar restos de troncos e vegetação após o desmatamento de uma área verde para o cultivo. Essa queima libera nutrientes no solo, preparando-o para o novo plantio. Daí o conceito de todo o projeto: a renovação e o ciclo contínuo da vida, valores que se refletem na abordagem artística de Ana Rocha.
A origem de Coivara está profundamente ligada à trajetória da artista e sua relação com a viola caipira. Desde a infância, no Vale do São Francisco, ela se encantava com a sonoridade da folia de reis, despertando um fascínio que hoje se traduz na sua interpretação e criação musical. “Acordava com os foliões afinando os instrumentos e ficava na porta do quarto em estado de silêncio e contemplação”, relembra Ana Rocha.
São 7 composições da própria Ana, além de 5 números de domínio público. Entre esses, está "Gabiroba" - de forte apelo pessoal. A faixa remete à figura de seu avô, que a incentivou a seguir a carreira musical.
Coivara teve produção musical de Rogério Delayon, também responsável pelos arranjos. Além de Ana na viola caipira, o disco conta com Ana Lu Braga e Gladston Braga na percussão; Tatá Sympa na sanfona e piano e Renato Savassi na flauta.
Ana espera momentos inesquecíveis na circulação: “A expectativa é muito boa de fazer circular minha arte com todos os tipos de pessoas em movimento de inclusão e inspiração para todos. Vejo o Coivara como uma oportunidade de fortalecer o círculo de violeiras compositoras, e o patrimônio cultural mineiro”.
Um cenário que veio da terra
“Assim como depois de uma tromba de água que arrasta com pedras paus e tudo o que fica no seu percurso, chega a calmaria e tudo parece tomar o seu lugar”… assim Javier Sotelo define o processo de criação da cenografia de Coivara, de sua autoria.
Nas palavras do artista, o cenário do espetáculo se consolidou como “um espaço de confluência onde vibram as histórias e as vivências de um povo que cresce e evolui acompanhado pelas espiritualidades, que para nossos antepassados eram representadas pelas labaredas de fogo que compõem a koybara”.
A marca central das esculturas que compõem o trabalho é a argila original manufaturada a partir da mistura de diferentes barros e minerais da região de Capitólio, cidade chave de toda a concepção do projeto. A argila foi desenvolvida por Javier, na busca de um elemento que não apenas representasse o conceito do projeto visualmente, mas que também pudesse construir e ser construído como obra do próprio processo criativo do espetáculo.
Ana Rocha: a voz feminina em 10 cordas
Violeira, cantora, compositora e educadora musical, Ana é uma artista multifacetada cuja trajetória reflete o compromisso com a renovação e a preservação da cultura mineira.
Ana Rocha nasceu e cresceu no Vale do São Francisco, onde, desde a infância, teve contato com a música tradicional da região. A mãe, Maria Rodrigues, ensinou-lhe as canções que cantava nas novenas e rezas, e o pai, Adão Ferreira, transmitiu-lhe a paixão pelas modas de viola, fundamentais na trilha sonora de suas manhãs.
Ana se formou em Educação Musical pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), com especialização pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Está cursando mestrado na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). A formação acadêmica fortaleceu ainda mais sua dedicação à cultura popular.
Ao longo dos anos, Ana Rocha tem consolidado sua presença na cena musical, colaborando com grandes nomes da música de viola como Pereira da Viola, Joaci Ornelas, Chico Lobo e o Grupo Viola Urbana. Sua versatilidade e empenho em conectar a tradição da viola caipira com novas linguagens musicais a tornaram uma das principais defensoras da cultura mineira e da representatividade feminina na música tradicional.
Entre suas principais inspirações, estão Badi Assad, Titane, Elza Soares, Zé Côco do Riachão e Renato Andrade, cujas obras a influenciaram tanto no aspecto sonoro quanto no posicionamento e representatividade dentro da cultura popular.
Realizações e projetos socioculturais
Além de sua carreira como artista, Ana Rocha tem se dedicado há mais de 12 anos a projetos socioculturais que promovem a musicalização de crianças, adolescentes e adultos em Minas Gerais.
Ela é criadora de iniciativas como o Projeto Cantarolar (canto coral em escolas e comunidades periféricas de Belo Horizonte), o Projeto Harmonia (musicalização em escolas públicas de Contagem) e o Projeto Luthier (iniciação à viola caipira e formação de orquestras de jovens).
Ana também criou o Grupo de Viola de Itabira, uma das ações de destaque em sua trajetória de ensino e formação. Seu trabalho como educadora é essencial para o desenvolvimento de novos talentos na música tradicional, com um enfoque especial na valorização da música indígena Maxakali em escolas da região.
Javier Ignácio Sotelo: um multiartista entre fronteiras
Nascido na Argentina e radicado no Brasil há 7 anos, Javier Ignácio Sotelo tem trajetória multifacetada em música, teatro, audiovisual, cerâmica e ação cultural.
Seu caminho nas artes começou aos 11 anos, estudando piano e dança na escola Centro Polivalente de Artes, em Mendoza. Após incursões pelo jazz, cursou Composição Musical, participou de cursos de teatro e artes circenses e trabalhou com Alice Pen como assistente de direção e preparador vocal.
Em 2018, mudou-se para o Brasil, onde fundou o Ateliê Arte Macaúbas em Capitólio, oferecendo aulas gratuitas de cerâmica. Há mais de quatro anos, leciona piano e participa ativamente da cena cultural, apresentando-se em festivais e na Casa de Cultura de Capitólio.
Mulheres na Viola: uma tradição silenciosa no Brasil
A presença das mulheres na viola caipira sempre existiu, mas por muito tempo permaneceu à margem da visibilidade. Nomes como Inezita Barroso e Helena Meirelles romperam barreiras e abriram caminho para que outras violeiras pudessem ocupar espaços de destaque na música brasileira. Hoje, essa presença feminina vem ganhando força e forma em uma cena cada vez mais pulsante, onde a viola não é apenas um instrumento, mas também uma forma de afirmação cultural e identidade.
A cena contemporânea revela uma geração de mulheres violeiras que têm reinventado tradições e trazido novos olhares para a música de raiz. Artistas como Adriana Farias, Letícia Leal, Paola Matos e Marina Ebbecke mostram que a viola está viva, plural e cada vez mais diversa em vozes e sotaques.
É nesse contexto que Ana Rocha se destaca ao colocar Minas Gerais no centro desse movimento. Com o álbum e espetáculo Coivara, Ana conecta a tradição caipira à sonoridade e à poética das margens do Rio São Francisco, reafirmando o protagonismo mineiro na cultura da viola. Sua trajetória como violeira, compositora e educadora musical mostra que, além de tocar e cantar, ela cultiva e transforma a tradição, abrindo espaço para que novas histórias femininas ecoem pelas cordas da viola.
SERVIÇO: Coivara, de Ana Rocha.
Ana Rocha (viola caipira), Javier Sotelo (piano, percussão)
19 de Julho: Espaço São Vicente de Paula, em parceria com o Espaço Cultural Lar de Idosos - Capitólio/MG, às 14h
Foto: Tássio Lopes:
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