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Fernando Brant deixa CD comemorativo de 15 anos de parceria com o músico Geraldo Vianna
No CD, as recitações de Fernando Brant são um convite às canções em parceria com o violonista Geraldo Vianna. A voz de Mariana Brant completa o clima poético deste sonoro trabalho produzido a seis mãos de Minas. Para descrever este presente musical, o musicólogo e jornalista Zuza Homem de Mello conta sobre o álbum que marca a carreira dos músicos.
“O recitativo vem a ser um procedimento de música vocal cuja função é preparar o ouvinte para o que vai ser cantado. Remonta à música lírica do século XVIII sendo inserido entre duas árias. Nos musicais da Broadway o recitativo tem precisamente o mesmo objetivo, podendo ser interpretado como uma introdução quase independente da canção em si, seja cantado, seja declamado com um fundo melódico, o que lhe confere assim caráter um tanto indefinido, o de não ser nem uma melodia propriamente dita, nem uma fala do ator.
Neste CD as emocionantes recitações de Fernando Brant antecedendo a cada canção de sua parceria com o excelente violonista Geraldo Vianna funcionam assim, mesmo que ele não tivesse tido essa intenção. Sua intenção é mais profunda: levantar a cortina para exteriorizar facetas, momentos, costumes, narrativas, meditações, olhares, manias e sentimentos do seu povo, lembranças e descrições das terras de Minas Gerais.
Descreve o cenário de montanhas e vales e igrejas, fala das crenças e motivos que levam cada mineiro a ter do que falar quando fala, com sua costumeira mansidão fluvial, de Minas. Falando tanto do que se vê como do ocultado.
Mas mesmo com isso tudo, com a fecundidade do poeta declamando seu próprio texto, nunca seria um CD musical. Faltariam as canções. Qual dos dois veio antes, as falas de Fernando ou as canções dele e Geraldo na voz de Mariana? Atrevo-me supor que ambas podem até ser sido concebidas ao mesmo tempo, pelo menos na cabeça de Fernando Brant. Se de todo não for isso não tem a menor importância. O que vale é o resultado desse original CD que simboliza em versos e prosa a alma mineira. Versos com melodia, isto é canção. Tem-se aí o trio Fernando – Geraldo – Mariana num CD que mesmo não tendo só canções de temática idêntica, acaba alçando um voo sobre a paisagem onde nasceram e vivem os três.
O violonista Geraldo Vianna abre suas composições para o cromatismo de melodias harmonizadas em surpreendentes modulações que se casam com as inovações que estão a ocorrer em canções brasileiras do século XXI. Quem ainda vive no XX vai ter que dar uma sacudidela em si próprio para atravessar a fronteira o quanto antes.
Kiko Continentino compreendeu com sua sensibilidade como tais composições deveriam ser tratadas, acrescentando seu piano “satieniano” abrasileirado como envolvente cama sonora para o canto suave de Mariana Brant.
Defini-la precipitadamente como voz monocórdica pode levar a um erro de cálculo. A interpretação que Mariana dá a determinadas canções do CD remete diretamente às esculturas das igrejas de Minas, a algumas daquelas imagens de santas, que cantariam se assim pudessem, com sua voz barroca (Pavane). Mesmo abordando temas amorosos (Cinema, Beijo) ou não (Trem, Muchino RiáCongo) Mariana não altera o clima poético deste presente sonoro dos três mineiros.
Um presente danado de bom. Ou, aludindo a uma das falas de Fernando ao representar a voz do povo mineiro, “Ê trem bão Sô!”.”
Foto: Divulgação
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