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Obras de Salvador Dalí inspiradas na "Divina Comédia" estão em exposição em Belo Horizonte
Belo Horizonte recebe a partir de 18 de julho a exposição "Dalí - A Divina Comédia". Em cartaz na Academia Mineira de Letras até 17 de agosto, a mostra conta com 100 ilustrações do mestre do surrealismo, Salvador Dalí, para uma das principais obras da literatura universal, "A Divina Comédia", de Dante Alighieri.
Salvador Dalí (1904-1989) criou uma centena de aquarelas - uma para cada um dos poemas épicos que compõem a obra - entre 1950 e 1960 por encomenda do governo italiano, no âmbito das comemorações dos 700 anos do nascimento de Dante (1265-1321). As gravuras percorrem a viagem imaginária do poeta, desde os círculos infernais, acompanhado por Virgílio, até ao centro da terra, onde encontra Lúcifer. Depois regressando à superfície terrestre, sobe a montanha do purgatório para, guiado pela sua amada Beatriz, ser admitido no paraíso.
A proposta visual da exposição respeitou a estrutura sequencial dos cantos do Poema Sagrado de Dante. A primeira sala e? dedicada ao Inferno, com 34 imagens, um segundo espaço corresponde ao Purgatório, e o terceiro ao Paraíso, com 33 quadros cada. Proveniente de uma coleção privada da Espanha, o acervo de gravuras pretende conduzir o público a uma viagem a partir desse diálogo enriquecedor entre literatura e artes visuais.
A Divina Comédia - Dante e Dalí
Para Dante, homem-síntese da Idade Média, a finalidade da vida humana era buscar o bem e a verdade, que só em Deus se encontravam - a obra seria uma forma de despertar nos homens valores morais e a consciência da redenção. O olhar de Dalí, por sua vez, não fica limitado a uma interpretação literal da história do texto, mas explora o potencial metafórico das palavras de Dante, que e? expandido para um fluxo de imaginação próprio do pintor catalão, que tanto rompe padrões como combina harmoniosamente estilos que vão do classicismo greco-romano ao barroco e surrealismo, criando seu próprio universo da Divina Comédia.
Dali? pintou as obras e trabalhou por cinco anos em um sistema para que estas pudessem ser reproduzidas mecanicamente. Para isso teve ajuda dos gravadores Raymond Jacquet e Jean Taricco, que fizeram 35 placas com 3500 blocos xilográficos para reproduzir as aquarelas peça por peça. Nos anos 60, as xilogravuras foram publicadas em forma de livro por uma editora francesa ilustrando em seis volumes as obras completas com o texto de Dante. Essa exposição é realizada com o exemplar 283 desse conjunto de ilustrações.
"Dalí - A Divina Comédia", que estreou em julho de 2012 no Rio de Janeiro - passando posteriormente por Curitiba, Recife, São Paulo e Salvador -, é uma rara oportunidade de ver o trabalho do artista espanhol, que também retratou outras obras da literatura de autores como André Breton e Miguel de Cervantes ("Dom Quixote"). Se aprofundar mais na poética de Dante, cuja "Divina Comédia" também já foi retratada por mestres como Botticelli, Dore?, Bouguereau e Barcelo?, ajuda a entender a força e a permanência de imagens poéticas presentes no imaginário popular e que tiveram origem na obra do italiano.
Dante Alighieri e a Comédia
Poeta, filósofo, político e “pai da língua italiana”, Dante Alighieri nasceu sob o signo de Gêmeos em Florença em 1265, e morreu de malária em Ravenna no dia 14 de setembro de 1321, aos 56 anos de idade. Sua “Commedia” –nomeada assim pelo seu final feliz que contrasta com a tragédia- e? uma obra-prima da literatura mundial e foi um salto de transição do pensamento medieval ao renascentista.
O Poema Sagrado de Dante, séculos mais tarde registrado como “A Divina Comédia”, não foi escrito em latim como era de costume em seu tempo, mas na voz do povo, no dialeto toscano, semente do italiano atual. Sua escrita começou em 1304 e foi fechada na época da morte do poeta. A arquitetura do trabalho e? claramente simétrica tanto no interior das linhas como na soma do todo. 14.230 versos hendecassílabos em terza rima, formam os tercetos de musicalidade rítmica que em sua vez, compõem os 33 cantos das três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso, adicionando um canto de introdução ao começo, para um total de cem cantos.
A trilogia articula o poema inteiro: Razão – Humano – Fe?, Virgílio – Dante – Beatriz, Onc?a – lea?o – loba, Pai – Filho – Espírito Santo, Passado – Presente – Futuro, Culpa – Redenção – Esperança, e outras muitas associações que gravitam sob a consistência da Trindade.
Dante viveu com intensidade e coerência: lutou na Batalha de Campaldino, defendeu os ideais dos Guelfos Brancos, sofreu o exílio e a traição, amou platonicamente Beatriz de Portinari, uma jovem com quem ele so? trocou algumas palavras de saudação antes de sua morte prematura aos 24 anos. Toda a vida de Dante, o valor estético e moral daqueles que o influenciaram, a denúncia a? política prevalecente, o desmascaramento de seus inimigos, seus agradecimentos a Deus, sua dor, sua solidão, sua sabedoria, sua religião, sua filosofia doutrinária e seu amor sublime, estão presentes na Divina Comédia.
Dante impôs uma forma de entender o sentido da vida e da morte, a partir das culpas, os medos e as promessas. Ele projetou uma linearidade temporal e espacial que e? um eixo encadeador da ordenação da história. Além de ter sistematizado julgamentos e preconceitos que compõem hoje o pensamento ocidental, criou estereótipos de beleza e virtude, que logo seriam adotados pelo Renascimento e disseminados ao longo de séculos de dominação cultural. É difícil imaginar o mundo dos mortos sem as âncoras do universo de "A Divina Comédia".
Salvador Dalí e a Divina Comédia
Salvador Dali? i Domenech Felip Jacint Dome?nec, conhecido como Salvador Dali?, foi um pintor espanhol considerado um dos maiores representantes do surrealismo. Nascido em Figueras no dia 11 de maio de 1904, morreu em sua própria cidade natal em 23 de janeiro de 1989.
Admirador da arte renascentista, grande desenhista, apaixonado pela escultura, a moda, a fotografia e o cinema, Dali? criou um estilo pessoal facilmente reconhecível pela sua imaginação excêntrica. Entre os seus símbolos iconográficos se incluem os relógios moles, os elefantes, os ovos, as formigas e os caracóis. Dali? produziu cerca de mil e quinhentas pinturas durante sua frutífera carreira, inúmeras ilustrações para livros, litografias, desenhos de cenografias, vestuários e um número considerável de desenhos, esculturas e projetos paralelos para fotografia e cinema.
Dali? propôs o método parano?ico-cri?tico como uma forma de apreciar a realidade longe do racional, encontrando ligações entre objetos aparentemente desconexos. Ele o descreveu como um “método espontâneo de conhecimento irracional baseado na objetividade crítica e sistemática das associações e interpretações dos fenômenos delirantes”.
Várias ilustrações de “A Divina Comédia” surgem com essa maneira de ver o cosmos dantesco e de reescrever os cantos da vida e da morte.
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