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Centro Cultural UFMG expõe até domingo duas exposições com obras sobre questões e imaginários relacionados à latinidade e o autoritarismo brasileiro

Confira a programação

O Centro Cultural UFMG está nos últimos dias com as exposição Insegurança Pública, do artista visual Riel, e Sangre latina, com obras de treze mulheres artistas residentes em Belo Horizonte que trazem questões e imaginários relacionados à latinidade. As obras podem ser vistas até o próximo domingo, dia 6 de julho. A entrada é gratuita e tem classificação indicativa de 10 anos.

A mostra Insegurança Pública reúne treze pinturas e duas esculturas que retratam o legado do autoritarismo militar no Brasil, ainda constante na política e no cotidiano da população.

Insegurança Pública – por Pablo Pires Fernandes

A exposição Insegurança Pública coloca o autoritarismo brasileiro no centro do debate e retoma uma arte política e engajada das décadas de 1960 e 1970 que combateu e denunciou a ditadura. No entanto, propõe uma abordagem nova ao centrar seu trabalho na denúncia explícita, como que para estampar diretamente para o expectador as mazelas desse traço histórico.

A denúncia de Riel retoma ícones do passado e os redimensiona. Esse resgate não é aleatório e traz elementos de sua própria vivência como jovem da periferia, em que assistiu ‘os mais pretos’ sofrerem mais discriminação. O artista transpõe sua indignação para as telas, substituindo personagens das fotografias por pessoas próximas, mantendo os rostos dos agentes públicos de segurança borrados, apontando para a impunidade da violência policial. Ao mesclar passado e presente, o artista reforça a necessidade de lidar com o tema da memória e aponta para a forte herança do autoritarismo na sociedade atual.

Se as telas explicitam a violência, as duas esculturas que compõem a exposição fazem menções ao jogo de passado e presente de maneira sutil. Ossadas, composta de peças de barro cobertas de tinta negra, é uma referência ao Cemitério de Perus, na Zona Norte de São Paulo, onde mais de 1.000 vítimas da ditadura foram sepultadas clandestinamente pelo regime militar. A outra escultura, Constituição, é também uma denúncia sobre a Carta Magna brasileira, que sofre constantes ataques e tem sido descaracterizada por sucessivas violações, corte de direitos e conquistas de sua essência cidadã. Símbolo da democracia brasileira, a produção em aço resiste, mas apresenta ranhuras, desgaste e marcas de bala, numa alusão aos retrocessos sofridos desde 1988, quando foi promulgada.

As obras de Riel abordam temas urgentes e trabalham temas muito caros à sociedade brasileira. Em um momento em que a democracia sofre constantes ataques, a memória sobre a ditadura é questionada e a violência policial segue matando e reprimindo impunemente, o questionamento de um artista da periferia é um alento e uma voz importante de indagação do status quo. Como seus personagens que resistem e enfrentam a truculência policial, sua arte é uma bandeira na luta em defesa de valores imprescindíveis para uma sociedade mais justa e pacífica.

Exposição Sangre latina

As obras de treze mulheres artistas residentes em Belo Horizonte que trazem questões e imaginários relacionados à latinidade compõem a exposição coletiva Sangre latina, das artistas Barbara Daros, Zi Reis, Adriana Santana, Govinda Navegando, Carol Merlo, Carina Aparecida, Mirele Brant, Daniela Schneider, Luciana Lanza, Marina Takeishi, Noemi Assumpção, Nathalia Falagan e Thatiane Mendes, com curadoria de Mirele Brant e Govinda Navegando. A mostra reúne 53 obras, que apresentam instalação, esculturas, pinturas, objetos, colagens e fotografias, que suscitam questões e imaginários relacionados às mulheres latino-americanas. As obras podem ser vistas até 6 de julho. A entrada é gratuita e tem classificação indicativa de 14 anos.

A latinidade é um conceito complexo, em constante transmutação, que já nasce carregando em si a representação da violência histórica da colonização. É, ao mesmo tempo, um chamado para abraçar a vasta diversidade de identidades culturais, sociais e políticas dos povos que resistem e reexistem. Se, por um lado, a latinidade traz a marca de uma identidade forjada à força, eurocêntrica e colonial, por outro, é também um símbolo de resistência — um lar simbólico onde ecoam as memórias e raízes ancestrais sequestradas pelo processo da invasão.

Ser latino-americana, latino-americano, é caminhar numa diversidade que desafia as fronteiras impostas, numa identidade que nunca se fecha, que não se acomoda. A mostra busca apresentar a potencialidade das mulheres desse território, contemplando artistas residentes em Belo Horizonte. Parte dessas artistas trabalham viajando entre estados brasileiros e países da América Latina, atuando em movimentos ativistas feministas e de retomadas. Muitas dedicam-se a processos educativos com públicos diversos, em sala de aula, oficinas e centros de convivência da rede de saúde mental.

São mulheres autônomas que defendem e disseminam seus saberes, territórios, tradições, símbolos, subjetivações e modos de vida. A identidade tem um valor estratégico nessa proposta, levantando questões femininas e feministas que permitem observar e compreender as regulações que interpelam as mulheres. A visão coletiva está relacionada às memórias e às ancestralidades, que vão sendo repensadas e reconstruídas por meio das narrativas tensionadas nos trabalhos.

As obras expostas reúnem, por múltiplas linguagens que se alternam, matérias de expressão como resistência. Essa resistência e produção ativa situam-se em imaginários de encantaria, rebelião e liberdade. São mulheres latino-americanas, atravessadas por questões existenciais, dispostas a fazerem da arte uma bandeira da luta íntima e coletiva.

Serviço: Exposição Insegurança Pública – Riel
Visitação: até o dia 6 de julho
Terça a sexta: das 9h às 20h
Sábado e domingo: das 9h às 17h
Espaço Experimentação da Imagem
Classificação indicativa: 10 anos

Exposição Sangre latina
Visitação: até o dia 6 de julho
Terça a sexta: das 9h às 20h
Sábado e domingo: das 9h às 17h
Sala Celso Renato de Lima
Classificação indicativa: 14 anos
Local: Centro Cultural UFMG (avenida Santos Dumont, 174 - Centro, Belo Horizonte)
Entrada gratuita

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Foto: Divulgação

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