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A memória da capital mineira pela história do Presépio do Pipiripau e seu criador
Durante os dias festivos da Copa do Mundo no Brasil, o longa-metragem “Pipiripau: o mundo de Raimundo” ganha temporada de exibição com sessões comentadas no Memorial Minas Gerais Vale
Dirigido por Aluizio Salles Junior, o longa-metragem “Pipiripau: o mundo de Raimundo”, misto de documentário e ficção sobre o secular presépio construído ao longo de uma vida por um homem que presenciou o surgimento e crescimento da nova capital de Minas Gerais, é uma das interessantes atrações para os visitantes que vão passar por Belo Horizonte na 20ª edição da Copa do Mundo de Futebol no Brasil.
Até o dia 31 de julho, no Memorial Minas Gerais Vale, acontece o projeto ”Cinema e Memória da Cidade de Belo Horizonte: exibição do filme ‘Pipiripau, o Mundo de Raimundo’" , que na próxima quinta-feira (3/7), às 19 horas, contará após a exibição do filme com uma sessão comentada com o diretor e Maria Luíza Machado e Publio Machado, filha e neto de Raimundo Machado – o genial criador do presépio do Pipiripau. Todas a exibições acontecerão com entrada franca, sendo que outras terão também bate-papos com pessoas envolvidas no desenvolvimento do filme.
O projeto acontece com subsídios do “Edital de Concessão de Subvenção a eventos realizados no período da Copa do Mundo”, da Belotur.
Presépio do Pipiripau
Em 1906, o ainda menino, Raimundo Machado compra sua primeira figura para o presépio, uma imagem do menino Jesus que aconchegou com palhas de milho em uma velha caixa de sapatos. Não imaginaria ele que esse seria o início de uma obra que resultaria em centenas de figuras e personagens misturados no tempo e na história, desde as que representam a religiosidade cristã do nascimento de Cristo a de trabalhadores em reproduções cotidianas de uma jovem capital em processo de modernização. Da visão renascentista e das mãos de Raimundo surgiram pastores, reis magos, crianças, bois, jumentos, cenários em um complexo mecanismo mecânico para “dar vida” e movimentos ao presépio. Por volta de 1912, Raimundo adaptou o mecanismo de um velho gramofone, adicionando polias e correias, e o Pipiripau ganha seus primeiros movimentos. Então, não parou mais. O Presépio alimentou-se da força do vapor e logo depois da energia elétrica. E as figuras multiplicaram-se. Criando cenas e personagens sempre a partir de materiais simples, Raimundo foi aos poucos acrescentando ao seu presépio o engenho de suas criações mecânicas, adaptadas a partir daquilo que aprendia em seu trabalho nas oficinas das grandes empresas que trabalhavam para a cidade em expansão.
Até o ano de sua morte, em 1988, Raimundo criou peças e cuidou do presépio como um filho, resultando em 586 figuras distribuídas em 45 cenas. Mas ao mesmo tempo em que nos fins de semana, Raimundo criava sua obra de devoção, nos dias úteis ele trabalhava nas oficinas de grandes empresas que ajudaram a escrever a história da cidade que crescia e se tornava uma metrópole - como as Oficinas Gravatá, a Central do Brasil e a Imprensa Oficial. Raimundo Machado criou uma obra ímpar e de eterno significado nas comemorações natalinas da nossa cidade.
O filme
Todo rodado em HD utilizando-se de imagens captadas com o auxílio de uma grua que passeia sobre os detalhes de cada uma das cenas que compõem a obra de Raimundo Machado, o longa é feito a partir da recuperação de um precioso depoimento de história de vida, realizado em 1983 pela Professora Vera Alice Cardoso Silva e registrado em uma simples fita cassete, em que Raimundo Machado, criador do Presépio do Pipiripau, narra sua própria história que se funde com a criação do presépio e os primeiros anos da nova capital mineira. Assim surgiu o documentário “Pipiripau – O mundo de Raimundo”, longa-metragem de Aluizio Salles Junior. Ao longo da narrativa, percebem-se os traços e o desenvolvimento da jovem cidade de Belo Horizonte, fundada em 1898, apenas oito anos antes do início da construção do famoso presépio mecânico.
O filme revela a surpreendente história da criação do Presépio do Pipiripau e de seu autor, a saga individual de um homem negro que na primeira metade do século XX trabalhou como industriário nos grandes empreendimentos que marcaram a construção de nossa capital, e que em suas horas vagas era um dedicado artesão, movido pela devoção ao sentimento religioso, pelo trabalho incansável através de décadas, voltado para a criação de uma obra única, singela e profundamente sincronizada com seu tempo, obra que foi um espelho rústico e fiel do espírito desenvolvimentista da época e do fascínio do Homem pela ideia da mecanização e do movimento. Raimundo trabalhou nas Oficinas Gravatá, uma das empresas encarregadas por Aarão Reis da construção da nova Capital, e ali, com seus conhecimentos de mecânica, vai dar manutenção nas máquinas a vapor e na mecânica de suas diversas oficinas. Na Gravatá, ele vai aprender as técnicas de fundição e participar ativamente da construção e no acabamento de diversos monumentos da cidade. As estátuas da torre do Prédio da Estação, as colunas das plataformas e seus capitéis, as belas peças fundidas de suas grades e portões, as peças fundidas dos prédios monumentais da Praça da Liberdade, assim como elementos de diversas outras construções importantes da nossa cidade passaram por suas mãos. A instalação do pirulito da Praça Sete contou com os conhecimentos de mecânica, e Raimundo, que participou ativamente do seu levantamento. E todo esse saber, adquirido como operário das grandes empresas construtoras da nova Capital, Raimundo vai aplicar, de maneira simples e criativa, na construção do mecanismo de seu presépio, inspirado nas grandes oficinas de locomotivas do início do século XX.
Para a elaboração do roteiro, o diretor desenvolveu uma cuidadosa e extensa pesquisa a partir do acervo de documentos do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG - onde hoje se encontra o Presépio em restauração -, abrangendo toda a vida de Raimundo Machado, com o levantamento de toda a iconografia existente e uma cuidadosa pesquisa videográfica com personagens significativos, tais como os filhos e netos de Raimundo, a Profa. Vera Alice, a então diretora do Museu Mônica Meyer e com o atual operador do Presépio do Pipiripau, Emanuel Fernandes, que foi preparado durante anos pelo próprio Raimundo Machado para este ofício.
A direção de fotografia é assinada pelo experiente Carlos Giovanni, com direção de arte e desenhos animados feitos por Leonardo Cata Preta. Já a trilha musical foi composta e arranjada pelo maestro Mauro Rodrigues, e conta com a participação da Orquestra de Câmara do SESIMINAS em 12 dos 32 temas quem compõem a trilha sonora.
A produção do filme foi viabilizada através do patrocínio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, com recursos gerenciados pela Fundação Municipal de Cultura da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, e do SESI/FIEMG.
O diretor e produtor Aluizio Salle Junior
Formado em publicidade pela PUC Minas no final da década de 1970, Aluizio Salles Junior atuou na Criação de Roteiros para Embrafilme, além de ter dirigido séries e programas de TV para a TV Escola do MEC na TV Minas e Secretaria de Educação de Minas Gerais, onde também dirigiu e coordenou a montagem técnica e operacional da Central de Produção Audiovisual do Portal Web e Centro de Referência Visual do Professor. Atuou também como diretor de cena, fotografia em inúmeras produções audiovisuais.
Em 1981, funda a Fazenda Cinema e Vídeo, voltada para produções culturais e educacionais, realizando diversos curtas, médias e longas metragens, principalmente com um olhar dedicado às culturas regionais e os bens materiais e imateriais em Minas Gerais.
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