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Última semana da Exposição "Complexo", na Aliança Francesa BH, com imagens da vida nas ruas da cidade, por Drin Cortes e Douglas Resende

A partir das sombras escuras que a fuligem projeta nas paredes de viadutos do Complexo da Lagoinha, no centro de Belo Horizonte, o artista Drin Cortes revela imagens que o público frequentemente ignora. O trabalho do grafite reverso é captado pelas lentes de Douglas Resende e será mostrado em “Complexo”, exposição inaugurada na Aliança Francesa Belo Horizonte a partir do dia 17 de junho.

 

As figuras iniciais foram inspiradas em cartazes de pessoas desaparecidas, muitas delas com histórico de dependência do crack. Nos viadutos do Complexo da Lagoinha, região que inspira e dá nome à exposição, as fogueiras dos moradores de rua deixam grandes manchas de fuligem no concreto.

 

“Está assim expresso o complexo entrelaçamento entre a imagem, a cidade e nós todos, transeuntes, observadores, moradores das casas e das ruas. Quem são esses que nos olham das paredes, dos muros e viadutos? Quem são esses seres revelados por baixo das cinzas e das queimaduras dessa pele da cidade? Quem são eles, senão nós... Refletidos nesse estranho espelho que expõe um corpo em carne viva. A respiração, o toque, o olhar estão lá. Inscritos ou extraídos, provocadores ou silenciosos, no seu plexo, complexo... Eles pulsam!”, define Drin Cortes.

 

Desenhando sobre as manchas ao remover o pó com pano, pincel e água, o artista cria texturas e imagens, retratos dos moradores de rua que remetem à realidade que vive nelas e é ignorado pelo outro. “A impressão que fica é que a vida nas ruas incomoda, deixa o cotidiano das pessoas menos parecido com as propagandas. Eu queria dar forma e sensibilizar sobre essa questão. As pessoas ignoram que aquilo ali é um quadro de humanidade, de pessoas como eu e você que estão naquela situação”, afirma.

 

Devido à matéria-prima utilizada e sua exposição ao ar livre, as obras acabam tento um caráter pontual, efêmero. Afinal, o grafite reverso em fuligem é facilmente apagado pela chuva, por exemplo. Por isso, Douglas Resende participa do trabalho documentando as intervenções, com o objetivo de fazer com que o trabalho dure mais tempo.

 

As impressões sobre o não-lugar, o espaço de passagem, também se revelam nas fotos e vídeos produzidos por Douglas. "É um espaço totalmente feito para carros, só asfalto e cimento, mas por onde passa muita gente. O trânsito de pessoas é intenso, gente o tempo todo. A ideia é mostrar esses fluxos, observar como a vida interfere nesse lugar que não é feito pra ela", diz o fotógrafo.

 

“Complexo” é um recorte da série “Faltas”, um projeto maior que envolve a produção dos grafites. Além de imagens das intervenções nos viadutos, a exposição traz também objetos que falam sobre a criação da série: desenhos e estudos de forma, objetos utilizados na produção, peças da região, do tema e da técnica. Drin define “Complexo” como uma exposição-processo, segundo uma tendência da arte contemporânea de abrir e explorar a relevância dos processos criativos.

 

Foto: Divulgação 

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