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ÈGBÉ - Nós Somos: 3° Encontro Nacional da Cultura dos Povos de Matriz Africana reúne, em Belo Horizonte, as principais referências do pensamento negro e da política nacional ancestral e contemporânea
Ministra Anielle Franco, Bukassa Kabengele, Cida Bento, Dulce Pereira, Edelamare Melo, Hédio Silva, Joana Célia dos Passos, Joelzito Araújo, João Pedro Stedile, Sandra Manuel, Sheila Walker, são alguns dos nomes que farão parte do evento
Entre os dias 13 e 16 de junho, Belo Horizonte sediará a terceira edição do EGBÉ – Encontro Nacional da Cultura de Povos de Matriz Africana, que vai reunir mais de 500 povos de Terreiros e mais de 50 referências do movimento negro em prol da luta pela igualdade racial e respeito à diversidade religiosa no Brasil e na América Latina.
Idealizado pelo Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileiro (Cenarab), sob a coordenação geral da Makota Celinha Gonçalves, o evento propõe a afirmação "Nós Somos" como um ato de resistência para manter viva a luta pela equidade racial no Brasil e busca estabelecer que cada Terreiro seja um espaço de memória cultural, artística e ancestral, sendo, portanto, um micro museu que guarda a riqueza da cultura e da arte material e imaterial de nossas heranças afro-diaspóricas e afro-brasileiras.
“Vimos o racismo se estruturar, se institucionalizar para nos segregar e hierarquizar nossos corpos socialmente, economicamente, ambientalmente, culturalmente, religiosamente, educacionalmente. Na base de tantas camadas de opressão estão os corpos interseccionais de mulheres negras, que nunca tiveram outra escolha a não ser resistir e lutar. Por isso, na terceira edição do EGBE, nosso Encontro Nacional de Povos de Matriz Africana, vamos reverenciar a importância do papel e atuação das mulheres negras em todos os setores da sociedade”, explica Makota Celinha.
Patrocinada pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura, a abertura oficial será realizada no dia 13 de junho, às 17h, no Cine Theatro Brasil Vallourec, com a presença de lideranças religiosas, políticas e sociais, como João Pedro Stedile, dirigente nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), que acumula 60 prêmios por sua carreira à frente do movimento.
Em seguida, às 19h, a Conferência Magna “Do mar que nos separa à ponte que nos liga” recebe Sandra Manuel, Antropóloga especialista em gênero e membro do conselho editorial da revista Feminist Africa de Maputo, Moçambique; ao lado de Dulce Pereira, comunicadora social e ex-diplomata brasileira e atual Assessora para as pautas de Mulheres Negras, Pobreza e Injustiça Ambiental do Ministério das Mulheres e da cineasta e antropóloga Sheila Walker, com mediação de Benilda Regina, presidenta do Nzinga-Coletivo de Mulheres Negras da PBH.
Durante os quatro dias de evento, temas sobre sociedade, política, direito, educação, cinema, literatura, saberes ancestrais, igualdade racial, respeito à diversidade religiosa serão colocados à mesa para debate pelas principais referências negras nacionais e internacionais.
Um evento de feitos inéditos
Entre os dias 14 e 16 de junho os mais de 500 integrantes de povos de Terreiro terão a oportunidade de ouvir e debater, no Sesc Venda Nova, junto a nomes como o da escritora Cida Bento, do cineasta Joelzito Araújo, do ator e músico Bukassa Kabengele, e da Prof. Dra. Joana Célia dos Passos - Vice-reitora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que defendeu e autorizou, pela primeira vez na história, o uso de uma beca na cor branca para a formanda Cynthia Luiza Ribeiro do Amaral, que estava de preceito, prática sagrada para praticantes de religiões de matriz africana.
Também será a primeira vez, no dia 14, que um evento reúne, em uma mesma mesa, todos os ex-ministros e ministras da Igualdade Racial, a Ministra Anielle Franco. Ao lado de Matilde Ribeiro, Edson Santos, Elói Ferreira, Martvs das Chagas e Nilma Limo, a ministra e o conjunto de representantes do Estados estarão unidos para refletir sobre A conjuntura, o combate ao racismo e a luta pela igualdade racial” sob a mediação do professor e historiador Marcos Cardoso.
Dia 14 de junho
O evento recebe duas outras grandes mesas. “A Benção dos mais velhos” se propõe refletir sobre os diálogos entre os saberes ancestrais e a promoção da igualdade racial com a participação da juventude dos povos de Terreiro: Cristiano Lima (BA), Miriam Ndeuamaze (MG), Ana Árvore (MG), Egbome Gleison (MG), Letícia de Oya (MG) e Babalorixá Júlio (SP), com mediação do Professor baiano Cassi Coutinho (BA).
A mesa “Vou aprender a ler para ensinar meus camaradas” vai debater educação, ações afirmativas e resistência, com a presença da escritora, psicóloga e ativista Dra. Cida Bento (SP), do Doutor em Educação e vice-reitor por dois mandatos da Universidade Federal de Alagoas Dr. Clébio Araújo (AL) e da professora gerente das relações étnico-raciais na Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte Makota Mara Evaristo, acompanhando as Dras. Cida Bento e Dra. Joana Célia dos Passos, vice-reitora da Universidade Federal de Santa Catarina nos debates mediados pela professora Rosa Margarida, da UFMG.
Dia 15 de junho
A cultura e o cinema abrem os trabalhos do dia com a “A colonialidade do ver: cinema negro e a descolonização da imagem”, com a presença do professor Dr. Roberto Borges ao lado do cineasta Joelzito Araujo, além da Yalorixá Jô Brandão e tendo o Mestre Marcão Pesada como mediador.
Sob a justiça de Xangô, o 3° EGBÉ vai reunir profissionais do direito como Dr. Leonardo Cardoso de Magalhães, defensor público-geral federal (DF), a Dra. Denise Botelho, Professora Associada do Departamento de Educação da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Dr. Hédio Silva (SP), Advogado, Mestre em Direito Processual Penal e Doutor em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; ex-Coordenador Geral da Comissão de Liberdade Religiosa do Conselho Seccional da OAB/SP, Dra. Edelamare Melo, Subprocuradora-Geral do Trabalho no Ministério Público do Trabalho (DF) e Dra. Marolinta Dutra, presidenta da Associação das defensoras e dos defensores públicos de Minas Gerais (ADEP-MG), com mediação do Dr. e Kota Kilumbando Rafael Vicente para debater na mesa “O Oxé de Xangô - Racismo religioso e os direitos humanos no Brasil”.
Patrocinado pelo Sebrae Nacional e pela Fundação Banco do Brasil, os três dias de imersão dos povos de Terreiros também abre espaço para a espaço para a discussão dos Saberes Ancestrais Em Diálogo Com Instituições Parceiras, contando também com a presença do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a Fundação Getúlio Vargas, o Fundo Itaú Social, o Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), o Movimento dos Sem-terra (MST), a Fiocruz e o Instituto Paulinho, com mediação do cientista social e Doutorando em Pré-História, Cultura Material e Gestão do Território- UTAD/Portugal Dr. João Carlos Nogueira.
O 3° EGBÉ – Nós Somos – reunirá ainda grandes escritores da literatura afro-diaspórica brasileira que trarão suas reflexões para a mesa “Poéticas e Oralituras: a literatura negra e a emancipação do pensamento afro-diaspórico”. Estarão presentes na mesa as escritoras pedagoga, escritora de literatura infantojuvenil, cantora de ritmos afro-brasileiros e percussionista Yalorixá Patrícia Adjoke (CE), a Doutora em História Social Marize Conceição (RJ), escritora brasileira de livros infantis, educadora, contadora de histórias e mestra em Relações étnico-raciais do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ) Sinara Rúbia (RJ), Elaine Cristina Marcelina Gomes (RJ), além do escritor Èle Semog (RJ) e da professora, historiadora e pesquisadora Dra. Vanda Machado (BA), sob mediação da professora Doutora em Estudos Literários, Dra. Iris Amâncio (MG).
Sem folha não tem candomblé. Com essa premissa a mesa “Atoto, jardins do Sagrado As plantas curam” faz um debate sobre as ervas na ritualística de terreiro com os sacerdotes Tata Italeuazi (MG), Tata Kasulembê (MG), Mameto Muinhandê (MG), tendo Pai Ricardo de Moura (MG) à frente da mediação. O dia 16 será reservado à plenária final, com mediação e encerramento de Makota Celinha, coordenadora geral do CENARAB.
O evento ainda fará uma homenagem especial ao antropólogo, professor e escritor Congolês Kabengele Munanga, especialista em antropologia da população afro-brasileira, atentando-se à questão do racismo na sociedade brasileira. Ele será representado por seu filho, o ator e músico Bukassa Kabengele.
Assunto atual e de relevância nacional
Segundo dados do Censo do IBGE de 2022, 55,9% da população brasileira se autodeclara como negra. Religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, estão entre as cinco mais seguidas no Brasil, com mais de um milhão de adeptos. Em contrapartida, dados do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania apontam um aumento de 140,3% no caso de denúncias de intolerância religiosa contra povos de Terreiros e mais de 240,3% de aumento nos casos de violações desde 2018. Entre 2022 e 2023 o aumento de denúncias foi de 64,5% e o de violações, 80,7%.
Por isso, e pela urgência em garantir plena cidadania a todas as pessoas negras do Brasil, para além das suas religiosidades, o ÈGBÉ – Nós Somos vai discutir, avaliar e propor diretrizes para continuar a resistência contra o racismo estrutural enfrentado pelos povos de Terreiro, bem como pelas culturas e religiões de matrizes africanas no Brasil.
ÈGBÉ transcende nossas convicções individuais, sendo transcontinental e indo além de nossas fronteiras individuais, das casas de cada um, para formar um espaço que acolhe a todos em uma célula, um núcleo com uma força propulsora do pensamento de um mundo melhor para todos. O evento não se destina a debater formas, estilos ou meios de nossas práticas religiosas, mas sim construir estratégias e táticas que garantam nosso direito a essa prática, à liberdade, à democracia e à vida, sob nossas perspectivas e as de nossos Terreiros. É um espaço onde podemos buscar a unidade para além de nossas convicções políticas, partidárias e militantes, sendo um local fundamental na defesa de nossos direitos, de nossas vidas e de nossas práticas culturais.
ESPAÇO OJÁ
Feira de Afro empreendedorismo
Ojá (“mercado” em iorubá) é o espaço cultural dos encontros e trocas de saberes. Será montada no SESC Venda Nova uma mostra de afro empreendedores com estandes de artesanatos, comidas e bebidas. Neste espaço também acontecerão exposições de fotos, oficinas para crianças, shows, performances artísticas e atividades do 3º ÈGBÉ.
No espaço Ouro Preto As mesas de debates acontecerão no Teatro do SESC Ouro Preto, Venda Nova. Será lá também a mostra dos cartazes da campanha criada pelo CENARAB “Minha Fé não Fere o Meu Ser Mulher”. Em 2021, 31 mulheres (que atuavam com práticas tradicionais de Terreiro e na cultura) cederam suas imagens para ilustrar essa importante ação do CENARAB, que também comemorava 30 anos de sua fundação.
SERVIÇO: ÈGBÉ - Nós Somos: 3° Encontro Nacional da Cultura dos Povos de Matriz Africana
Dia 13 de junho, às 17h – Cine Theatro Brasil Vallourec
Ingresso gratuito retirado na bilheteria do teatro ou no Cenarab
Dias 14 a 16 de junho – Sesc Venda Nova no Teatro do SESC Ouro Preto, Venda Nova
Evento para convidados
Foto:
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