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Teatro da Fumaça apresenta: "Canção de Engate", com Ítallo Vieira
Solo teatral de Ítallo Vieira, novo espetáculo do Teatro da Fumaça, investiga a performance da identidade masculina e homossexual
Um jovem ator precisa gravar um vídeo de apresentação para um teste de elenco. Diz seu signo, sua idade, sua altura. Conta que sabe cantar, dançar, que chora com facilidade. Mas o que o define de verdade? Canção de Engate é um espetáculo que mergulha no desejo — desejo que atravessa o estado de Minas Gerais, invade as avenidas durante o Carnaval e transborda para além das margens, como um rio que não se pode conter. Investigando o uso original de recursos audiovisuais em cena, o novo trabalho do Teatro da Fumaça é um solo de Ítallo Vieira, com direção de Fábio Furtado.
QUEM É VOCÊ?
A todo tempo somos convocados a dizer quem somos. Seja no perfil de uma rede social, seja na bio de um aplicativo de relacionamentos, seja mesmo em um currículo profissional. Nosso campo de trabalho, nossa origem e nosso status social se transformam em códigos para tentarmos ler e nos explicar uns aos outros. Mas existem palavras que dão conta de traduzir tudo o que somos?
No meio das artes da cena e do audiovisual, tornou-se comum a prática dos “Vídeos de Apresentação” — ou selfie tapes. São gravações, geralmente feitas em casa, em que atrizes e atores se apresentam para concorrer a um papel em um filme ou comercial. O artista diz seu nome, sua idade, seus principais trabalhos. Sua formação, sua estatura, sua cidade de residência. E o que mais? Sua cor? Suas aptidões? Seu signo? Sua identidade de gênero? Sua sexualidade?
Em Canção de Engate, acompanhamos um jovem ator que, voltando inebriado da folia carnavalesca, precisa gravar um teste para um possível trabalho. Ele tenta então se lembrar — ou talvez descobrir — quem é. A tentativa de realizar essa apresentação o faz navegar por muitas águas distintas: as águas livres da cidade do interior onde cresceu e as que ainda correm subterrâneas pela capital, por baixo dessas ruas movimentadas, prontas para, a qualquer momento, romper o asfalto.
Ao tentar se traduzir, ele mergulha em lembranças — faladas, cantadas, expressas pelo corpo e pela palavra — e atravessa também mitos, clássicos do teatro nacional e da literatura universal. Afinal, além de se apresentar, é solicitado que interprete uma cena a partir de um fragmento de roteiro ou dramaturgia. Mas se definir é também se limitar, há sempre uma rachadura por onde algo escapa — algo que ele não pode controlar: o desejo.
Com o intuito de explorar o uso de diferentes linguagens na construção do espetáculo, Canção de Engate é um trabalho que surge a partir de algumas referências principais: a poesia de Matilde Campilho, a música de Antônio Variações e a água como metáfora do desejo. Ator e diretor que transita entre o teatro e o audiovisual, Ítallo Vieira protagoniza o solo que investiga a hibridez dos dois formatos e que irá originar, além da peça, um experimento em videoarte. Ganhando primeiro os palcos do que as telas, o espetáculo do Teatro da Fumaça tem direção de Fábio Furtado e uma equipe que inclui, ainda, Lívia Espírito Santo na orientação de pesquisa e direção de movimento, Maria Trika na mentoria audiovisual e Isabela Arvelos na preparação vocal. Os colegas de Ítallo no Teatro da Fumaça assumem diferentes funções: João Santos e Júlia Oliveira assinam a dramaturgia, Jean Gorziza a assistência de direção e Domênica Morvillo a assistência audiovisual.
Canção de Engate estreia dias 19, 20, 21 e 22 de junho na Funarte-MG. Os ingressos são gratuitos, com retirada pelo Sympla ou na bilheteria 1h antes das apresentações.
EROTISMO EM PESQUISA
Foi Guimarães Rosa que apelidou o Cerrado de Caixa d’Água do Brasil. A grande reserva aquífera do país superficialmente apresenta uma vegetação seca, espinhosa e árida. Mas as longas raízes das árvores retorcidas buscam, na profundeza da terra, aquela abundância hídrica de onde brotam também os rios que abastecem o estado.
A água, em Canção de Engate, é um símbolo da vida e do desejo. O projeto investiga o erotismo não apenas como uma temática, mas também como linguagem. Tal investigação teve início ainda em 2024, quando o Teatro da Fumaça promoveu, no seminário No Fundo de Cada Vontade Encoberta, encontros com oito pesquisadores de diferentes áreas da criação. Nos debates com Ricardo Alves Jr., Bruno Leal, Isabela Prado, Bruna Kalil Othero, Maria Trika, Otávio Campos, Fábio Furtado e Lívia Espírito Santo, disponíveis no canal do Teatro da Fumaça no YouTube, foram discutidas os caminhos do erotismo como força vital tanto no teatro propriamente como na poesia, no audiovisual, nas artes visuais e na comunicação, além de relações do tema com outras metáforas e alegorias.
Desde o início de 2025 o projeto entrou em sua etapa mais prática. A criação da dramaturgia ocorreu concomitantemente às práticas de Ítallo Vieira, como ator, com a direção, preparação vocal, corporal e com o desenvolvimento do audiovisual. O primeiro resultado artístico do trabalho poderá ser visto na temporada de estreia de Canção de Engate, que acontece de 19 a 22 de junho na Funarte. Ainda em 2025, a pesquisa terá continuidade com a publicação de uma série de ensaios sobre os temas, abordados no Portal Primeiro Sinal (Galpão Cine Horto), e com a disponibilização do experimento em vídeo.
SOBRE O TEATRO DA FUMAÇA
O Teatro da Fumaça é um grupo de teatro criado a partir da reunião de cinco artistas residentes em Belo Horizonte: Domenica Morvillo, Ítallo Vieira, Jean Gorziza, João Santos e Júlia Oliveira. Com diferentes experiências criativas, eles se uniram para investigar o trânsito do teatro com outras linguagens. Em 2023 o coletivo estreou o experimento audiovisual "Os Benefícios do Tabaco", peça-conferência que aborda o tema da desinformação a partir da indústria do tabaco e do texto "Sobre os Males do Tabaco", de Anton Chekhov. Em 2024 o coletivo teve seu projeto MINERAL IBSEN contemplado com o Ibsen Scope Grant, premiação norueguesa que financiará o espetáculo de mesmo nome. No mesmo ano o coletivo realizou a primeira edição do Curso Livre Teatro da Fumaça na UFMG e apresentou seu primeiro espetáculo, “O Mundo Está em Chamas, o Teatro Também tem de Estar”, esgotando todas as sessões da temporada de estreia no Sesc Palladium. Em 2025, o Teatro da Fumaça trabalha no desenvolvimento do projeto MINERAL IBSEN e estreia seu segundo espetáculo, Canção de Engate, solo de Ítallo Vieira.
FICHA TÉCNICA - CANÇÃO DE ENGATE
Atuação: Ítallo Vieira
Direção: Fábio Furtado
Dramaturgia: João Santos e Júlia Oliveira
Direção de Movimento e Orientação de Pesquisa: Lívia Espírito Santo
Orientação Audiovisual: Maria Trika
Preparação Vocal: Isabela Arvelos
Concepção de Iluminação: Marina Arthuzzi
Montagem e Técnica de Luz: Ismael Soares
Assistência de Direção: Jean Gorziza
Assistência Audiovisual e Operação de Luz: Domenica Morvillo
Figurinos: Domenica Morvillo e Ítallo Vieira
Cenografia: Ítallo Vieira
Operação de Som: Jean Gorziza
Identidade Visual: Bia Perdigão
Fotos: Gabriel Werneck
Vídeos: Amanhã Filmes
Produção Executiva: Davds Lacerda e Duda Carmona
Assistência de Produção: Matheus Carvalho e Gra Bohórquez
Gestão de Projeto: Davds Lacerda - Alecrim Gestão Cultural
Libras: BH em Libras
Participação no Seminário No Fundo de Cada Vontade Encoberta: Ricardo Alves Jr., Bruno Leal, Isabela Prado, Bruna Kalil Othero, Maria Trika, Otávio Campos, Fábio Furtado e Lívia Espírito Santo.
Comunicação: Teatro da Fumaça
Incentivo: Prefeitura de Belo Horizonte
Apoio: Galpão Cine Horto, Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Belas Artes (UFMG), Departamento de Artes Cênicas (UFMG), Colegiado de Teatro (UFMG), LIC - Laboratório de Iluminação Cênica (UFMG), Funarte MG, Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura e Governo Federal
Agradecimentos: Fundação de Educação Artística, Alexandra Simões, Anna Letícia Crizologo, Bya Braga, Eduardo Caixeta, Fernanda Lara, Maria Augusta Gomes Pereira, Marlene das Graças Vieira, Sebastião Luiz Caixeta, SLOP-EBA e Teuda Bara.
Realização: Teatro da Fumaça
“Este projeto foi apoiado pelo PROGRAMA FUNARTE ABERTA 2025 – OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS CULTURAIS DA FUNARTE e é realizado por meio do Edital Público 03/2023 - BH NAS TELAS - EDIÇÃO PAULO GUSTAVO da Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte”
Número do projeto: 91487/2023”
SERVIÇO: dias 19, 20, 21 e 22 de junho, quinta à domingo, sempre às 19h. Entrada Gratuita com retirada de ingressos pelo Sympla ou 1h antes das apresentações na bilheteria. Local: Funarte MG (Rua Januária, 68 - Centro, Belo Horizonte). As apresentações contarão com interpretação em Libras e visita tátil acessível / Acompanhamento de pessoas cegas para reconhecimento de palco
Foto: Gabriel Werneck
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