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Cineasta Maurice Capovilla participa da Mostra do Filme Livre em BH
A MFL apresenta sete sessões com as mais expressivas obras do diretor e o mais recente “Nervos de Aço”; Capô fala sobre seus filmes, desafios e trajetória no cinema no dia 20 de junho, às 17 horas, no CCBB-BH
A cada ano a Mostra do Filme Livre homenageia um grande nome do cinema de invenção brasileiro (cinema dito experimental, marginal e underground). Esse ano a homenagem será ao cineasta Maurice Capovilla, com a exibição de seus longas-metragens seguida de bate-papo com o público. A MFL apresenta, de 18 a 21 de junho, sete sessões com as mais expressivas obras do diretor, entre elas: “Subterrâneos do Futebol” (1964); “O Profeta da Fome”; “O Jogo da Vida” (1977); e o mais recente “Nervos de Aço”, que será lançado comercialmente na edição da Mostra na capital mineira. Capovilla fala sobre seus filmes, desafios e trajetória noTeatro II do CCBB BH no dia 20 de junho, às 17 horas. Todas as sessões são gratuitas. Mais informações em www.mostralivre.com.
Entre os cineastas homenageados em outras edições da Mostra, destacam-se Andrea Tonacci, Eliseu Visconti, Edgard Navarro, Helena Ignez, José Sette, Joel Pizzini, Luiz Rosemberg Filho, Carlos Alberto Prates e Ana Carolina, entre outros.
Maurice Capovilla, o “Capô” (como é chamado pelos amigos), possui uma ampla trajetória na defesa de um cinema de expressão livre, atuando não só na realização para cinema e televisão, mas também como crítico e como professor. Como realizador, iniciou no documentário, influenciado pelo argentino Fernando Birri e a Escola de Santa Fé. Realizou “Subterrâneos do Futebol”, que integra o grupo de quatro médias-metragens produzidos por Thomas Farkas entre 1964 e 1965, e é um dos marcos pioneiros do “cinema verdade” no país. Também teve destaque nos anos 60 e 70, como “Bebel, garota propaganda” (1968), “O profeta da fome” (cult-movie de 1970 estrelado por José Mojica Marins, o famoso “Zé do Caixão”, mas fazendo papel de um faquir) e “O Jogo da Vida” (1977, com Maurício do Valle, Gianfrancesco Guarnieri e Lima Duarte). Realizou também o longa “O Boi Misterioso e o Vaqueiro Menino” (1980).
Capô atuou também na televisão, fez parte da equipe que criou os programas Globo Shell e Globo Repórter para a Rede Globo. Criou núcleos de especiais na Rede Manchete e na Rede Bandeirantes, onde realizou a novela "O Todo Poderoso", musicais e séries de televisão. Dividiu o roteiro de "Bububú no Bobobó" (1980) com Marcos Faria.
Foi diretor do Instituto Dragão do Mar de Arte e Indústria Audiovisual do Ceará, entre 1996 e 1999. Como professor, possui importante experiência no gerenciamento de cursos audiovisuais, como no Instituto Dragão do Mar (Fortaleza) e no Acre. Em 2003, retoma ao longa de ficção, com “Harmada”.
O cineasta acaba de finalizar “Nervos de Aço”, sobre Lupicínio Rodrigues e estrelado por Arrigo Barnabé. Matias, seu filho, fez a trilha sonora do filme, dando uma roupagem às canções do velho Lupi. As letras costuram a dramaturgia, e Arrigo Barnabé canta e atua, reinventando o poeta de “Nervos de Aço”. Aos 79 anos, Capô não abriu mão de reinventar, e se reinventar. Nasceram um para o outro, a Mostra do Filme Livre e ele.
Segundo Capovilla, “Nervos de Aço é um filme musical “que eu queria fazer muito tempo atrás. Terminei em janeiro uma história que levei quatro anos para realizar. Estou muito contente com o resultado e espero que os jovens brasilienses tenham a oportunidade de vê-lo na mostra”, diz.
Capovilla: Invenção e Revolução na Linguagem
Por Chico Serra
Estes textos, lançados a véspera do lançamento de “O Profeta da Fome” (1970) são apenas algumas visões bem sugestivas da agitação / provocação e da força do segundo longa metragem de Maurice Capovilla (professor de cinema, roteirista, produtor e muitas outras funções em diversos filmes da transição cinema novo / cinema de invenção / boca do lixo), um autor e tradutor de uma revolução na linguagem da ficção, usando alegoria e documentário como elementos em sinergia, potencializando a expressão máxima de “O Profeta da Fome”, mas recurso já anunciado em “Bebel, Garota Propaganda” (1967).
O início da filmografia de Capô dialoga com uma tradição do documentário social: “Subterrâneos de Futebol” (1965) é um filme sobre a dialética da luta de classes na indústria do futebol no imaginário brasileiro. Capovilla filma como um torcedor de futebol, vibrando, gritando, chorando, às vezes em estado de choque ao ver seu time (Brasil) tomar uma surra nos campos do jogo da vida.
Através de uma filmografia essencialmente política (sua postura política é sua estética), ainda percorre caminhos que encontram um certo lirismo numa visão sobre os marginais da sinuca e da contravenção, os bêbados e os desapropriados da grande cidade: “O Jogo da Vida” (1977), passando por uma revolução no documentário televisivo (seus filmes cruzam constantemente a fronteira ficção e documentário, como “O Último Dia de Lampião”), um quase filme-manifesto da sua visão sobre a arte livre e aberta, como diria Candeia: “Harmada” (2004).
Na ativa aos 70 anos, Capovilla ainda é ainda uma expressão nova no contexto do cinema brasileiro. Não se trata de uma questão de idade, mas uma questão de liberdade.
Foto: Divulgação
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