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Uma palhaça no hospital: histórias contadas por Tereza Gontijo ganham versão impressa
Aclamado pelos leitores, Do Riso ao Soro chega em formato físico. Sobrinha-neta de Maria Clara Machado, atriz tem experiência de 17 anos levando alegria a crianças e adultos internados em instituições públicas de saúde
No livro Do riso ao soro - Reflexões de uma palhaça no hospital e a incrível jornada dos afetos, a multi artista Tereza Gontijo convida o leitor a partilhar sua experiência como palhaça profissional atuando em hospitais de grandes cidades brasileiras, através da associação Doutores da Alegria. A publicação, primeiro apresentada em formato digital, em agosto de 2024, acaba de ganhar a versão impressa, pela editora Urutau, e será oficialmente levada ao público na Bienal do Livro no Rio de Janeiro. Não seria mero acaso que a obra é lançada na terra onde viveu a tia-avó da autora, a escritora Maria Clara Machado, consagrada pela criação de famosas peças infantis e fundadora do teatro O Tablado.
Há 17 anos, Tereza dá vida a Guadalupe, e com a palhaça vivencia histórias de luta em alas pediátricas e adultas de instituições públicas de saúde em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Mineira de BH radicada em São Paulo, ela constrói uma narrativa afetuosa e introspectiva que conecta episódios pessoais e o que lhe é apresentado nos hospitais, um trabalho que, segundo Tereza, transforma sua percepção de humanidade.
O livro começou a ser escrito em fevereiro do ano passado, mas a verdade, conta a atriz, é que ele já existia desde 2008, com a primeira vez que Tereza guardou um relatório feito sobre o trabalho na associação e pensou em um segredo guardado só para ela: "um dia ele será um livro". "Quanto tempo dura até que um desejo se torne uma semente, que a semente se torne uma ação, que a ação se desenvolva e ganhe forma, ganhe vida? Nunca se sabe . O importante é alimentar o desejo, porque, afinal, somos seres em expansão", diz Tereza, que não esconde a emoção em ter o resultado em mãos.
A artista conta que, a partir dos lançamentos das versões digital e física, com essas etapas amadurecidas, está elaborando uma palestra sobre o que chama de "inteligência artesanal" - uma forma de olhar e vivenciar o cotidiano de forma mais humana, a partir da experiência relatada na obra em articulação com pensamentos de outros autores e filósofos. "É uma proposição que visa contribuir para uma cultura de mais afeto e trocas mais humanas em empresas, escolas e organizações de trabalho", aponta.
Para ela, o novo livro chega como um bebê que nasce ou um velho amigo chegando de uma viagem longa. "Está aqui. Está aí. Para encontrar vocês. Uma nova etapa dessa aventura e eu estou animada". O lançamento oficial é em 14 de junho, sábado, de 17h30 às 18h30, no Riocentro (Avenida Salvador Allende, 6555, Barra da Tijuca). A apresentação do livro segue para São Paulo, Belo Horizonte e para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Jornada dos afetos
A jornada é de levar alegria para pacientes, famílias, enfermeiros, médicos e funcionários. "O livro é um mergulho investigativo. Examino como o encontro do humor com a dor, o desconforto e a morte, possibilitou o desvelamento da profundeza humana, suas fragilidades, potências e mistérios", diz Tereza. Tudo o que guia sua carreira e revela sua grande paixão: as pessoas, suas histórias de vida e a possibilidade do encontro.
A narrativa não apenas explora a transformação pessoal da autora, como instiga o leitor a refletir sobre a autenticidade e os afetos em sua própria vida. Oferece a oportunidade de apreciar a beleza das experiências humanas e pensar sobre as conexões que tornam a existência mais significativa.
"É uma conversa longa, afetiva, sobre minha trajetória artística dentro da Doutores da Alegria. Mas não é necessário que você se interesse pela palhaçaria ou pelas artes cênicas, em geral. Minha conversa é sobre como essa experiência foi me transformando como ser humano, uma vez que passei a encontrar, rotineiramente, as situações limítrofes que acompanham uma internação", relata.
Humor e arte para falar sobre dor, desconforto, frustração, tédio, doença, tratamento, cura, alta e morte. Algo que, para Tereza, a colocou em contato direto com o que havia de humano nos pacientes e famílias que atendeu e, mais ainda, com a humanidade latente em si mesma. Ela conta que, quando escolheu a carreira profissional como artista, jamais imaginou descascar as camadas da natureza humana, em suas palavras.
"Ao contrário do prestígio midiático que, porventura, projetei, ganhei profundos encontros com nossas fragilidades, vulnerabilidades, potências e magias, que revelaram minha maior paixão: as pessoas e suas histórias de vida, pelas quais sigo me apaixonando dia após dia quando visto minha máscara de palhaça e me coloco disponível ao encontro."
Assim, o chamado é para que o leitor se deixe afetar por tal experiência e possa iniciar essa jornada em sua própria vida, família e trabalho: a incrível jornada dos afetos. "Por vezes, a vida cotidiana se torna uma experiência pasteurizada e automática. No entanto, quando ela acaba repentinamente, ou eventos trágicos nos assaltam sem aviso, o despertar acontece. É quando nos confrontamos com tudo aquilo que realmente tem valor: o amor, a comunhão, a resiliência, a alegria, a gratidão."
Tereza tem 38 anos, é atriz, musicista, professora e diretora teatral, além de especialista na palhaçaria, e uma artista premiada. Para ela, cada pessoa carrega um valor inestimável e uma história a ser honrada, uma expressão única. "A beleza da diversidade é divina e partilhar humanidades há de ser das experiências mais transformadoras que temos o privilégio de vivenciar. Não à toa, além de palhaça, inventei-me profissões novas: detetive de metrô, jardineira de humanidades, pescadora de afetos."
Foto: Arquivo Pessoal
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