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Mostra do Filme Livre exibe, até 10 de junho, filmes de ícones do cinema brasileiro
A 15ª Mostra do Filme Livre apresentará, dias 08, 09 e 10 de junho, no CCBB Belo Horizonte, 14 filmes da sessão Autores Livres, recorte que exibirá diversos curtas e longas de realizadores ímpares, com produções totalmente livres e instigantes, alguns já premiados e/ou homenageados na MFL. São ícones do nosso cinema como Helena Ignez, ao lado de artistas audiovisuais que ajudaram a Mostra a nascer e crescer como Dellani Lima (MG/SP), Gustavo Spolidoro (RS), Camilo Cavalcante (PE), Luís Rocha Melo (RJ), Arthur Lins (PB), André Novais (MG), Pedro Diógenes (CE), Petrus Cariry (CE), Duo Strangloscope (SC) e também um estreante na MFL, Ivan Cordeiro, de Pernambuco, que exibirá três pérolas do início dos anos 80.
“Tudo na vida é frágil. Tudo passa...”. A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante, começa com esse verso de Florbela Espanca sobre a tela negra somado a uma respiração ofegante e gemidos de dor que posteriormente se tornam gritos arrepiantes. Antes mesmo de qualquer imagem projetada, o tom de estranhamento e inquietude já permeia todo o curta-metragem.
Filmado em um único plano-sequência, Trago o Seu Amor, de Dellani Lima, é um exercício de inquietação estética e consciência artística. “Gosto dessa ideia do amor que frustra… Principalmente quando ele se rompe. A gente pensa que o amor é só essa coisa da paixão, do corpo e da carne, mas o amor está em muita coisa. Saber viver com essas pulsões de vida e de morte. Gosto de considerar os atores em suas vidas privadas também, como a minha própria, em que meus dramas são retratados nos filmes”, diz Dellani, que também atua como protagonista nos filmes Max Uber e José Baleia, ambos exibidos na Mostra do Filme Livre 2016.
Já A História da Eternidade é dividido em pequenos esquetes que aparentemente não apresentam nenhuma relação apresenta uma viagem dentro dos instintos humanos. A morte, o amor, a rivalidade, a curiosidade, a fome, a angústia, o prazer, tudo isso é arremessado para o espectador desde a primeira cena. As cores quentes formam os fios condutores da narrativa fragmentada e elíptica, retratando o crepúsculo sertanejo e a aridez do cenário.
Rafael Schlichting e Cláudia Cárdenas compõem o Duo Strangloscope, que produz filmes focados em movimento, ritmo e composição, criando uma atmosfera mutante sem narrativa. As produções do duo são experimentais e ultrapassam os limites do cinema convencional, exigindo a participação ativa do espectador. Efeitos de iluminação e áudio são utilizados na tentativa de dar ao filme uma textura, seja aumentando o uso de pixels ou ampliando as imagens em sua própria materialidade digital. Essas características estão presentes no longa Angelus Novus.
Se pintar colou e Se colar olhou, de Ivan Cordeiro, são um resgate do movimento Super-8. Feitos para divulgar uma exposição de outdoor, os curtas são uma ode à liberdade criativa da “bitola nanica”, como frisou Ivan, cujas imagens do Recife de mais de trinta anos atrás ainda têm o poder de cativar. Seu curta Censura Livre também será exibido na sessão Autores Livres. "Em 1983, fui aceito por uma universidade e vim estudar comunicações, no curso de Radio, TV & Film da California State University at Northridge (CSUN). Era para voltar ao Recife após o curso, mas constituí família aqui, onde permaneço até hoje. Naquela época, a maior parte dos cursos básicos de cinema - dos níveis 100 e 200 - tinham aulas práticas em Super-8, sendo os mais avançados em 16 mm. Bem diferente dos de hoje, dominados pelo digital - instantâneo e mais barato, sem mistério e ansiedade, já que você pode vê tudo em tempo real", conta o diretor.
Embora houvesse todo um clima de desbunde e irreverência, a geração do Cinema Marginal não foi particularmente celebrativa. Revelavam, por trás dos gritos e dos esforços de transgressão, uma enorme angústia, um desgosto pelos rumos reacionários do país, a incapacidade de enxergar um horizonte onde as coisas pudessem mudar e ser diferentes. A saída foi eventualmente a religiosidade, o misticismo ou a investigação particular de um mundo paralelo, mais bonito, favorecido pelo uso das drogas, dados muito associados ao tropicalismo. Neste sentido, o gesto de Helena Ignez em Ralé de se assumir como hippie, e tomar a figura de seu barão (Ney Matogrosso) como um distribuidor de um chá alucinógeno produzido no Acre, é extremamente sincero. O filme é sobre uma geração que venceu e deu certo, na medida em que essa vitória significa a capacidade de inventar um novo estilo de vida, de pô-lo em prática, mesmo que isoladamente, mesmo que afastado do resto do mundo, onde todas as bandeiras podem ser levantadas sem que a realidade venha derrubá-las.
Errante, o mais recente longa de Gustavo Spolidoro, é um trabalho pautado, literalmente, pelo sonho. Com uma câmera digital e um smartfone, Spolidoro saiu pelas ruas de Porto Alegre, sua cidade, registrando o acaso. O homem e sua câmera saem pela vida, livres, leves e soltos, conversando aleatoriamente com pessoas que cruzam pelo caminho. O resultado fascina pelo despojamento. Não um despojamento gratuito ou vazio, mas sim um salutar desprendimento de encarar o cinema como ferramenta de registro da simplicidade sutil do acaso da vida, da riqueza de cada um daqueles seres humanos que se descobre a cada encontro. Sem se prender a normas, o cineasta se assume como personagem, ao mesmo tempo conduzindo e se deixando conduzir por uma narrativa que se constrói, destrói e se reconstrói a cada fotograma (ou a cada pixel, pois já quase não existe mais fotograma). Spolidoro chama sua proposta de “Cinema de um homem só”, e diz ter se inspirado em trabalhos da cineasta belga Agnés Varda. Errante é um sopro de frescor que ajuda a varrer a poeira dos sisudos arquivos burocráticos da nossa travada produção audiovisual.
Clarisse ou Alguma Coisa sobre Nós Dois, terceiro longa-metragem de Petrus Cariry se configura essencialmente a partir da edição sonora. Os dias da protagonista (Sabrina Greve) na casa de um pai doente e moribundo (Everaldo Pontes) são conduzidos pelos sons que chegam a ela e a afetam: zumbidos de moscas, gritos de animais abatidos, ranger de portas e tábuas. Trata-se de um projeto que fala de natureza – não só aquela formada por árvores, céu, animais, mas também a natureza da pele, da materialidade, do ser. Clarisse é um corpo, inicialmente inerte, posteriormente em deslocamento e, enfim, um corpo ativo, selvagem e violento. Os traumas e questões suscitadas pelo enredo logo são deixados quanto mais o filme adere a perturbações externas que têm por função afetar a imagem e o andamento da narrativa.
Em Aqueles que Ficam, de Arthur Lins, a cenografia traduz uma moradia para rapazes solteiros, apreciadores de literatura e música e abertos tanto à plasticidade dos LPs quanto à conveniência do MP3. Dois jovens adultos passam a noite conversando sobre suas vidas, imersos em cerveja e em ecletismo musical. Um voltado para a vida acadêmica, o outro para a carreira artística. Chamá-los de ‘adultescentes’ seria exagero? Ou negar esse adjetivo seria o mesmo que poupá-los? A razão dessa dúvida pode estar na atração exercida pelo cenário apresentado, entre o descompromisso da juventude e os deveres tão associados à maturidade. Arthur Lins muda o registro deste curta ao colocar duas moças no caminho dos amigos. A interação daí decorrente acrescenta a Aqueles que Ficam uma sensação de descompromisso e espontaneidade que remete aos filmes de um diretor citado nos créditos finais: David Neves.
Representante brasileiro na mostra paralela Quinzena dos Realizadores, no Festival de Cannes, o curta mineiro Quintal, de André Novais Oliveira, tem um elenco especial para o diretor. Os próprios pais do cineasta, Maria José e Norberto Novais, vivem os protagonistas da história, contracenando com atores iniciantes e alguns até improvisados, ao estiloCidade de Deus. Apesar do baixo orçamento da produção, a escalação do elenco, é, na verdade, uma opção estética. Também acontece em Ela Volta na Quinta, longa de estreia do cineasta, no curta Pouco Mais de um Mês, também selecionado para Cannes, em 2013. "Isso tudo aconteceu de forma natural. Simplesmente funcionou. Experimentei fazendo um curta com eles, que nem está pronto ainda, de uma forma mais documental, com falas meio soltas. E eles desenvolveram bem frente às câmeras. O filme narra o pacato cotidiano do casal, mas com fortes toques ficcionais e de realismo fantástico, influência do escritor mineiro Murilo Rubião", relata André.
SESSÃO AUTORES LIVRES
CAMILO CAVALCANTE
Data: 08 de junho, quarta-feira, às 16h30
A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante |PE | 120min
Em um pequeno vilarejo no sertão, três histórias de amor e desejo revolucionam a paisagem afetiva de seus moradores. Personagens de um mundo romanesco, no qual suas concepções da vida estão limitadas de um lado pelos instintos humanos e do outro por um destino cego e fatalista. Um delírio de violência e miséria humana.
DELLANI LIMA
Data: 08 de junho, às 19h
Agreste, de Dellani Lima |MG | 15min
O mar bravo inunda os corações.
Trago Seu Amor, de Dellani Lima | MG | 71min
As pessoas vivenciam diferentes conflitos em suas relações amorosas. Momentos definitivos em que os laços se fortalecem ou se rompem. Por toda a parte há morte, o sentimento da iminência de uma coisa terrível, a impressão de um fim.
DUO STRANGLOSCOPE
Data: 09 de junho, quinta-feira, às 15h
Angelus Novus, de Duo Strangloscope |SC| 75min
A partir do delírio, da mística e do devaneio, romper com a lógica de uma narratividade historicista e positivista. Buscar, na aventura mesma do experimentalismo cinematográfico, um tempo espaço imagem em que o Angelus Novus seja um chamado ao risco e é ruptura com a lógica linear da acachapante contação de histórias críveis. Pelo incrível!!!! - grita o Angelus Novus.
IVAN CORDEIRO
Data: 09 de junho, quinta-feira, às 17h
Se Olhar Colou, de Ivan Cordeiro | PE |15min
Se Pintar Colou, de Ivan Cordeiro |PE |18min
Durante o período de 1 a 15 de fevereiro de 1981, aconteceu a Primeira Exposição Internacional de Art Door na cidade do Recife, um evento criado pelos artistas plásticos Paulo Brusky e Daniel Santiago. Os órgãos culturais e de mídia produziram esse grande acontecimento transformando a cidade em uma grande galeria de arte utilizando os trabalhos de artistas dos quatro cantos do mundo. Com uma câmera Super-8 e um Fiat 147, juntamente com o fotógrafo Régi Galvão, o produtor executivo Claudio Barroso, o ator Angelo Lima e o artista plástico Alexandre Ricardo, documentaram toda a mostra. Daí resultaram dois curtas. O primeiro deles intitulado Se Pintar Colou (pré-produção e colagem dos cartazes) e o segundo Se Colar Olhou (o resultado como galeria urbana).
Censura Livre, de Ivan Cordeiro |PE | 27min
Um namoro com Maiakovsky dá aos cineastas mais prazer na hora de filmar. “O Cinema é Movimento! O cinegrafista ouve “Ação!”, mas não encontra ação. A câmera entra nos cinemas vazios, se coaduna com o estado letárgico de seus interiores e encontra um Carlitos Tupiniquim, que é páreo duro para Grande Otelo na cachaça. Um fotógrafo “frila” e um cineasta discursivo trabalham sob a ditadura da pornochanchada fazendo profecias televisivas em plena praça pública aos olhos e axilas de Joaquim Nabuco. Enquanto isso, nas feiras livres de concreto vende-se o Sabonete Lux, que já lavou a buceta de Greta Garbo e continua fazendo maravilhas aos corpos “sophialorênicos”, assim como o xampu de frutas proporciona um suave amarelo tropical aos pentelhos da “Brazilianist” Bo Derek. - “O Subúrbio é o refúgio dos infelizes” ... com toques de Lima Barreto o filme documenta sem estatísticas o rápido extermínio da memória nacional. Alguém se lembra daquela chanchada inocente da Atlântida?
HELENA IGNEZ
Data: 09 de junho, quinta-feira, às 19h
Ralé, de Helena Ignez |SP|73min
Ralé é um filme dentro de um filme. Jovens diretores, adolescentes prodígios, estão filmando A Exibicionista em meio a uma fazenda numa região paradisíaca. Barão, personagem de Ney Matogrosso, vive nesta fazenda onde irá celebrar seu casamento com o dançarino Marcelo. O filme investiga poeticamente a alma brasileira, colocando a Amazônia como epicentro do mundo, refletindo a respeito de questões existenciais, legitimando o direito à liberdade e individualidade sexual.
LUÍS ROCHA MELO
Data: 10 de junho, sexta-feira, às 15h
Um Homem e Seu Pecado, de Luís Rocha Melo |RJ | 85min
O jovem Lívido é um individualista radical. Vive em seu próprio mundo e nutre uma estranha obsessão por igrejas e crucifixos. Funcionário relapso numa livraria, à noite perambula pelas ruas do Rio de Janeiro dedicando-se à arte dos batedores de carteira. Após um encontro sobrenatural com Charles Baudelaire, no Outeiro da Glória, Lívido decide tomar um novo rumo e procurar sua irmã, Vitória, que é freira e vive num convento. Sob o pretexto de comemorarem o aniversário de setenta anos de seu pai, Lívido convence Vitória a deixar o convento e a partirem juntos para Barra de São João, cidade em que foram criados. O encontro entre os três torna evidente a impossibilidade do convívio familiar. De volta às paisagens que marcaram a sua infância, Lívido e Vitória redescobrem um sentimento sufocado pelos anos e reprimido pelos cuidados zelosos do pai.
GUSTAVO SPOLIDORO
Data: 10 de junho, sexta-feira, às 17h
Errante – Um Filme de Encontros, de Gustavo Spolidoro |RS | 70min
Sozinhos, o diretor e a câmera vão ao encontro do inesperado. Guiado pelo acaso, o diretor partiu da primeira imagem ao despertar em uma manhã de carnaval e seguiu por cinco dias ao sabor dos encontros.
O Sonho, O Limiar e A Passagem Que Metamorfoseia, de Gustavo Spolidoro |RS |15min
SONHO: morada do limiar LIMIAR: zona de transformação METAMORFOSE: não somos mais os mesmos.
PETRUS CARIRY
Data: 10 de junho, sexta-feira, às 19h
Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois, de Petrus Cariry |CE | 82min
A árida pedreira e a floresta que ainda pulsa. Um pai muito doente revê a filha. Ressentimentos são postos à mesa. A memória dos mortos, despertada por objetos, sombras e sonhos, afeta Clarisse nesse cenário de beleza e agonia.
PEDRO DIÓGENES, ARTHUR LINS E ANDRÉ NOVAIS
Data: 11 de junho, sábado, às 15h
Fim de Semana, de Pedro Diogenes e Ivo Lopes Araujo |CE |25min
Um fim de semana acompanhando o trabalho de uma banda de forro viajando pelo interior do nordeste entre asfalto, guitarras e painéis de LED.
Aqueles Que Ficam, de Arthur Lins | PB | 24min
Tomara que você tenha sorte nesta viagem. Que você descubra novas paixões. Sorte pelo que surgir... pelo inesperado da vida.
Quintal, de André Novais Oliveira |MG | 20min
Mais um dia na vida de um casal de idosos da periferia.
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