Notícias
Diamantina (MG) entra para a história da tipografia mundial com a inauguração do Museu Tipografia Pão de Santo Antônio: único do gênero no Brasil
Identificar, valorar, classificar e conservar objetos gráficos desconhecidos do grande público é função de um Museu de tipografia. Cidades de diversas partes do mundo que possuíram intensa prática jornalística, durante alguns séculos, hoje abrigam experiências museológicas dedicadas à memória tipográfica, como o Musée de l'imprimérie de Lyon (Lyon - França), ligado ao Institut d’histoire du livre, Museum Platin-Moretus (Antuérpia), o Museu Nacional da Imprensa (Porto - Portugal) e oImprenta Municipal de Madrid – Artes del libro (Madri - Espanha). No dia 13 de junho (sábado), a cidade histórica diamantinense também entra para essa lista e vai receber o primeiro museu tipográfico do gênero no Brasil.
O evento de inauguração será a partir das 10h, na antiga tipografia de jornais da Associação do Pão de Santo Antônio (Diamantina - MG), oficina que resistiu aos modos de impressão industriais, ao longo de todo século XX, até 1990. Na ocasião, será colocada em funcionamento a antiga máquina impressora parisiense, trazida para o Brasil no século XIX, que foi responsável pela impressão dos jornais Pão de Santo Antônio e Voz de Diamantina. Jornais tradicionais diamantinenses, que foram impressos em tipografia e circularam durante quase 100 anos, registrando notícias de momentos importantes da história do país, com um olhar local. Juntamente com a solenidade de abertura, estão previstos também um café da manhã, um encontro com tipógrafos, o lançamento do catálogo e do site (www.musetipografia.com.br) do museu, assim como a publicação do Jornal Tipográfico Pão de Santo Antônio, dedicado à memória da imprensa tipográfica, que será impresso na antiga máquina impressora do Museu, agora restaurada. O evento de inauguração é aberto ao público. Em dias normais, o museu irá funcionar de 4ª a domingo, de 10h às 13h e de 14h às 18h.
Único do gênero no Brasil
No Brasil, algumas iniciativas tentam preservar os rastros de um patrimônio, em grande parte perdido: o Museu da Imprensa, criado há 30 anos na Imprensa Nacional, em Brasília; as atividades pedagógicas e editoriais desenvolvidas pelo Museu Vivo Memória Gráfica, na Universidade Federal de Minas Gerais; e o recém-criado Ateliê Tipográfico, espaço de produção e visitação vinculado aoCentro Editorial e Gráfico da Universidade Federal de Goiás.
“O Museu Tipografia Pão de Santo Antônio é único do gênero no Brasil pelo fato de unir os meios de produção próprios da tipografia (máquinas, ferramentas e práticas da cultura do impresso) e os jornais impressos saídos dos prelos de sua oficina tipográfica, ao longo do século XIX”, ressalta a professora do Curso de Conservação e Restauro da Escola de Belas Artes da UFMG, Ana Utsch.
Segundo a pesquisadora, grande parte dos objetos que constituem a história da cultura impressa é cotidianamente negligenciada. Máquinas impressoras, prelos, matrizes, clichês, mobiliário diversificado, ferramentas específicas, cavaletes, gavetas, etc., não tendo seu estatuto patrimonial definido, são tratados como lixo e sucata. “Portanto, são espaços como esses que colaboram para a afirmação de uma dimensão patrimonial dos equipamentos e das técnicas, expandindo assim, a noção de Patrimônio Gráfico”, explica Ana Utsch.
Acervo Museu Tipografia Pão de Santo Antônio
O novo espaço é composto por máquinas impressoras, cavaletes tipográficos, mobiliário, clichês e outras ferramentas, que assumem o estatuto, hoje patrimonial, ao lado de quase quatro mil exemplares dos jornais ali redigidos e impressos por mais de 80 anos. “Ele testemunha a longa prática jornalística, editorial e tipográfica desenvolvida, entre 1906 e 1990, pelos jornais diamantinenses Pão de Santo Antônio e Voz de Diamantina”, conta Ana Utsch.
O museu traz, ainda, na sua concepção, uma proposta museológica pautada também no presente. Depois de terem passado por uma minuciosa restauração, os equipamentos remanescentes da antiga tipografia foram reativados e, através de diferentes ações educativas e editoriais, o visitante tem a oportunidade de vivenciar o patrimônio gráfico em movimento: máquinas e técnicas do passado sendo manuseadas por homens e mulheres do presente. Além dessas características, o museu traz uma dimensão viva e ativa do patrimônio gráfico, ampliando suas ações de diálogo com a comunidade, a partir do desenvolvimento de publicações, oficinas abertas ao público e uma hemeroteca física e digital disponível no site do museu: www.museutipografia.com.br.
Projeto Memória do Pão de Santo Antônio
Contemplado pelo Programa Petrobras Cultural e com o apoio da Universidade Federal de Minas Gerais, o projeto Memória do Pão de Santo Antônio nasceu com o objetivo de resgatar mais de 80 anos de memória da tipografia e da atividade jornalística mineira e brasileira através da preservação dos acervos museológico e documental da Associação do Pão de Santo Antônio.
No edifício que abriga, desde 1901, a Associação do Pão de Santo Antônio funcionou uma oficina de tipografia onde foram impressos os jornais Pão de Santo Antônio e A Voz de Diamantina, entre1906 e 1990. Esse registro quase se perdeu com o passar dos anos. Até dois anos atrás, jornais e equipamentos da antiga técnica de composição e impressão, como cavaletes tipográficos de madeira, tipos, ornamentos de chumbo, clichês, matrizes de xilogravura, que testemunham um período histórico relevante da produção jornalística local e nacional, encontravam-se ameaçados pelas precárias condições de conservação e guarda.
Em 2001, a pedido da Associação do Pão de Santo Antônio, a então diretora de Ação Cultural da UFMG, Sônia Queiroz, solicita um diagnóstico sobre o estado de conservação dos acervos ao Museu Vivo Memória Gráfica-UFMG, coordenado pela professora e pesquisadora Ana Utsch. Realizado pela restauradora Janes Mendes Pinto (ex-aluna do curso de Conservação-Restauração da UFMG), o diagnóstico identificou todas as potencialidades do acervo.
A partir do resultado surge a necessidade de se elaborar um projeto para recuperar esse importante patrimônio gráfico e documental de Minas e do Brasil. “É surpreendente a capacidade de sobrevivência de uma tecnologia de composição e impressão suplantada pela fotocomposição, pelo offset e pelas novas tecnologias digitais”, comenta Ana Utsch sobre o fato da prática ter resistido até 1990 ao lado de processos essencialmente industriais.
O projeto não ficou no papel. No início foi preciso reunir uma equipe de restauradores, designers, historiadores e museógrafos, coordenada por Ana Utsch. Durante dois anos eles se dedicaram diariamente ao projeto com a finalidade de conservar, restaurar e reabilitar a antiga tipografia onde foram impressos os jornais Pão de Santo Antônio e A Voz de Diamantina, durante 84 anos.Também foram restaurados e digitalizados 4.000 exemplares dos dois periódicos, publicados nesse longo período, como apoio da Divisão de Coleções Especiais da Biblioteca Universitária da UFMG,que hoje hospeda o acervo eletrônico vinculado ao site do Museu. Em junho, o projeto será concluído com a inauguração do Museu Tipografia Pão de Santo Antônio e com o lançamento das publicações.
Foto: Daniel Mansur
Selecionamos os melhores fornecedores de BH e região metropolitana para você realizar o seu evento.