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Ganga Bruta, clássico de Humberto Mauro, será exibido com trilha de Radamés Gnatalli, executada ao vivo pela Orquestra Sinfônica de MG

Evento também homenageará Cyro Siqueira, jornalista, crítico e historiador de cinema

Nos dias 10 e 11 de junho, o Grande Teatro do Palácio das Artes será o palco da exibição de Ganga Bruta (1933), o maior clássico de toda a trajetória do cineasta mineiro Humberto Mauro. O filme será acompanhado pela trilha sonora original tocada ao vivo pela Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, sob a batuta do seu maestro titular, Marcelo Ramos. As apresentações fazem parte da programação de encerramento de Humberto – Mostra dedicada a Humberto Mauro – O grande pioneiro do cinema brasileiro.

 

A partitura de Ganga Bruta foi composta por Radamés Gnatalli (1906-1988) especialmente para o filme e pensada para compor as cenas deste que é o trabalho de transição de Humberto Mauro entre o cinema silencioso e o falado. A última apresentação da composição ao vivo acontecera em 1996, com o maestro paulista Júlio Medaglia. A partitura estava depositada na Cinédia, estúdio fundado por Adhemar Gonzaga em 1930 e cujo material é hoje mantido pela filha dele, Alice Gonzaga.

 

O maestro Marcelo Ramos teve acesso à orquestração desenvolvida por Leonardo Bruno nos anos 1990 a partir do original de Gnatalli. Ramos fez um cuidadoso trabalho de restauração, já que boa parte das notas estavam ilegíveis, devido a desgastes do tempo. Foram redigitadas e revisadas 168 laudas, que cobrem os 80 minutos de duração do filme.

 

“É uma música muito pensada para cada cena, variando de acordo com os momentos, o humor e a narração do filme”, diz Marcelo Ramos. Ele destaca ainda a presença de três canções incidentais incluídas por Gnattalli, com vozes, violões e vozerio seresteiro: Teus olhos... água parada e Coco de praia, de Heckel Tavares, e a marchinha de Carnaval Eu fiz tudo pra você gostar de mim, de Joubert de Carvalho. Elas serão executadas também durante as apresentações no Grande Teatro, com a presença da dupla de músicos Bruno Graça e Renata Vanucci, acompanhando os 68 integrantes da Sinfônica de Minas.

 

Produzido pela Cinédia, Ganga Bruta se tornou um referencial para as gerações seguintes de espectadores, críticos e realizadores. “Neste filme, Mauro é muito moderno no retrato do desejo, da relação entre o homem e a mulher. Ele faz um diálogo com os principais nomes do cinema da época", exalta o Gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado e curador da mostra Humberto, Rafael Ciccarini. Há respaldo de suas impressões em palavras de Glauber Rocha, escritas nos anos 1960 e reproduzidas no livro Revisão Crítica do Cinema Brasileiro: “Em Ganga Bruta, Mauro realiza uma antologia que parece encerrar o melhor impressionismo de (Jean) Renoir, a audácia de (D.W.) Griffith, a força de (Sergei) Eisenstein, o humor de (Charles) Chaplin, a composição de sombra e luz de (F.W.) Murnau”.

 

No filme, um homem, enfurecido com a descoberta de que sua mulher havia sido infiel, mata-a na noite de núpcias. Absolvido pela justiça, ele segue para o interior e enriquece no ramo da construção. Ao se apaixonar por uma jovem que já está noiva de outro homem, ele entra em conflito consigo mesmo e com seu passado. O elenco tem Durval Bellini, Déa Selva, Lu Marival e Carlos Eugênio, em roteiro de Humberto Mauro e Octávio Gabus Mendes.

 

Homenagem a Cyro Siqueira – No último dia de exibição do filme Ganga Bruta e do encerramento da mostra HUMBERTO, na quarta-feira, 11, a Secretaria de Estado de Cultura e a Fundação Clóvis Salgado prestam homenagem ao jornalista, crítico e historiador de cinema Cyro Siqueira, pela fundamental contribuição reflexiva e crítica sobre o cinema no Brasil, com a entrega de uma placa à viúva, a senhora Anna Marina Siqueira.

 

A Presidente da Fundação Clóvis Salgado, Fernanda Machado, ressalta que é muito importante uma instituição com a FCS homenagear dois grandes nomes da arte cinematógrafica, Humberto Mauro e Cyro Siqueira. “Acreditamos ser necessário que as novas gerações tenham acesso à vasta obra do pioneiro do cinema brasileiro, bem como saber do importante trabalho desenvolvido por Cyro Siqueira, ambos de fundamental importância para a história do cinema nacional”.

 

Maior referência na reflexão cinematográfica em Minas Gerais e um dos mais importantes de sua geração em todo o país, Cyro nasceu em 1930 na pequena Alto Jequitibá, na Zona da Mata mineira. Estudou medicina e direito antes de se dedicar integralmente ao jornalismo e à crítica de cinema. Trabalhou nos Diários Associados de 1949 até 2014, quando faleceu no dia 29 de março.

 

Pelos jornais “Estado de Minas” e “Diário da Tarde”, Cyro Siqueira escreveu centenas de artigos, análises e comentários de cinema, influenciando gerações de cinéfilos, críticos e realizadores. Em 1951, foi um dos fundadores do CEC (Centro de Estudos Cinematográficos), entidade independente que agregou grande parte da intelectualidade mineira por décadas. Três anos depois, com Jacques do Prado Brandão, Guy de Almeida e José Roberto Duque de Novaes, fundou a mítica “Revista de Cinema”, publicação lida, comentada e reverenciada por nomes como Glauber Rocha e Paulo Emilio Sales Gomes. A revista teve 24 edições até 1957 e outras quatro edições entre 1961 e 1964. Vários de seus textos foram reunidos no livro Antologia – Revista de Cinema (1954-57 / 1961-64), organizado por Marcelo Miranda e Rafael Ciccarini e lançado este ano pela editora Azougue.

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