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Arqueologia emocional da memória: Cia Dois em Um faz ensaio aberto a partir de texto teatral de Vinícius Calderoni

Com “Os Arqueólogos”, da Cia Dois em Um, dramaturgo paulista ganha sua primeira montagem profissional em Minas Gerais. Público

SERVIÇO: Cia Dois em Um apresenta ensaio aberto da peça Os Arqueólogos, de Vinícius Calderoni. Direção: Rogério Lopes. Dia 10 de maio, às 16h30, no Centro Cultural Venda Nova.  Sessão com interpretação em Libras, audiodescrição e transporte saindo do Edifício Maletta. Entrada gratuita. Mais informações: instagram.com/ciadoisemum. 

Em dado momento da peça Os Arqueólogos, um pai explica ao filho que “toda vez que você bate uma fotografia você para um pedacinho do tempo”. O Teatro é justamente este tempo que não se congela, a arte dos momentos efêmeros vividos e compartilhados entre o palco e a plateia. Pensando na volatilidade do tempo e na beleza dos momentos sutis de afeto e intimidade, a Cia Dois em Um mergulha no texto de Vinícius Calderoni para criação de seu terceiro espetáculo.  No próximo sábado, dia 10 de maio, a público poderá assistir gratuitamente uma primeira mostra do trabalho, em ensaio aberto apresentado no Centro Cultural Venda Nova. 

Fundada em 2020 pelos artistas da cena Dê Jota Torres e Lucas Prado, a Dois em Um vem se notabilizando pela pesquisa continuada, pautada no trabalho do ator e na dramaturgia contemporânea. Foram essas as bases de seus dois primeiros espetáculos, “Teatro Decomposto” (com texto do romeno Matéi Vișniec, estreada em 2023) e do espetáculo voltado para as juventudes “A Língua do Fogo” (com texto da mineira Malu Grossi Maia, estreado em 2024). Com “Os Arqueólogos”, o coletivo realiza a primeira montagem profissional de um texto de Vinícius Calderoni em Minas Gerais. Conhecido por seu trabalho como músico (em carreira solo e integrando a banda 5 a Seco), além de ator, diretor e dramaturgo, Calderoni assina textos premiados como o musical “Elza” (2018), dirigido por Duda Maia, “Sísifo” (2020), solo de Gregório Duvivier dirigido pelo próprio autor, “Museu Nacional, Todas as Vozes do Fogo” (2022), espetáculo da Cia. Barca dos Corações Partidos e o recente “Nossa História com Chico Buarque” (2025), dirigido por Rafael Gomes . Contudo, o dramaturgo - celebrado por sua capacidade de conciliar uma dramaturgia inteligente com uma comunicação irrestrita, de amplo alcance - ainda não havia sido abordado por artistas da cena mineira.

Ao retomar o texto de Os Arqueólogos, texto de 2015 que rendeu a Calderoni o Prêmio APCA de Melhor Dramaturgia, a Cia Dois em Um realiza um movimento extremamente incomum dentro no Teatro Mineiro: “Nós vínhamos observando que os artistas da nossa geração, em geral, ou optavam por dramaturgias próprias ou por textos clássicos. Mas por que não trazer a cena, novamente, a obra de um autor maravilhoso, vivo, escrita a menos de uma década?”, explica Dê Jota. De fato, Os Arqueólogos já teve uma primeira montagem, realizada em São Paulo, com direção de Rafael Gomes e com o próprio Vinícius Calderoni no elenco. Ao dar uma nova vida ao mesmo texto, passado tão pouco tempo desde sua estreia - mas um tempo tão significativo marcado por turbulências políticas, econômicas, sociais, além de uma pandemia que suspendeu nosso tempo e convívio - a Dois em Um propõe uma verdadeira arqueologia de um tempo e uma produção que parecem, cada vez mais, voláteis. “É de certa forma uma celebração do nosso próprio fazer. Querer encenar esse texto a partir deste momento, com estes outros atores, é celebrar o texto do Vinícius, é celebrar a memória e é celebrar as muitas vidas que o teatro nos permite viver e reviver”, comenta Lucas Prado, que divide a cena da montagem com Dê Jota e com o músico João Pedro Vasconcelos, diretor musical do espetáculo. 

Somando-se à equipe criativa, Os Arqueólogos conta com direção de Rogério Lopes, artista e pesquisador. O diretor já marcou a trajetória da Cia Dois em Um quando, em 2017, assinou a direção dos espetáculos de formatura dos dois espetáculos de formatura de Prado e Dê Jota, respectivamente “A Cerimônia” (de Fernando Arrabal), e “Os Negros” (de Jean Genet). Se em 2018, à época da formatura do Teatro Universitário da UFMG (T.U.)., Rogério era o elo de conexão entre duas montagens distintas, agora o diretor se encontra no lugar de pleno compartilhamento da sala de ensaio e de criação do espetáculo. Os cenários e figurinos ficam por conta de Tereza Bruzzi e Matheus Lukashevich.

ENSAIO ABERTO

Se o teatro é de fato uma arte do efêmero, a montagem de Os Arqueólogos pretende compartilhar, com o público, não apenas os momentos dos atores sobre o palco, apresentando o espetáculo. O projeto - aprovado pelo Fundo Municipal de Cultura Multilinguagens 2024 - ainda que não preveja a data para a temporada de estreia do trabalho, prevê diferentes encontros com a plateia. 

O primeiro deles aconteceu no final de março, quando a Cia Dois em Um apresentou, no Centro Cultural Vila Santa Rita, uma primeira leitura do texto de Vinícius Calderoni. No início de abril foi o momento de discutir a criação teatral com outros artistas e estudantes a partir da ótica da produção cultural, com a Oficina de contrapartida sociocultural “Seu Projeto em Perspectiva” ministrado por Lucas Prado. 

No próximo sábado, dia 10 de maio, acontece o primeiro ensaio aberto de  Os Arqueólogos. Gratuito ao público, com entradas sujeitas à lotação do espaço, o ensaio tem início às 16h30, no Centro Cultural Venda Nova (R. José Ferreira dos Santos, 184 - Jardim dos Comerciários, Belo Horizonte - MG, 31640-060). Como medida de democratização do acesso, o projeto ofertará transporte de van até o Centro Cultural Venda Nova, saindo do centro de Belo Horizonte. O horário de encontro será às 15h, no Edifício Arcângelo Malleta (Avenida Augusto de Lima, nº 233, Centro, CEP 30190-000, Belo Horizonte/MG). Para mais informações, o público pode entrar em contato através da página instagram.com/ciadoisemum. Esta ação contará com interpretação em Libras e Audiodescrição.

SINOPSE: Com ares de narradores-esportivos, dois personagens conduzem o público por uma transmissão de cenas cotidianas de uma praça movimentada. Um pai que ensina ao filho a fotografar em uma câmera analógica;  um casal em crise, que duela enquanto discute;  uma jovem que cronometra o tempo que os sorrisos permanecem nos rostos após despedidas. Em paralelo, saltamos para um futuro onde dois arqueólogos analisam objetos do século XXI (fotos, poemas, cartas), tentando decifrar os hábitos de uma civilização que lhes parece absurda. Com crítica social fina e lirismo, Os Arqueólogos questiona como a história será contada e quais nuances se perderão no tempo. Com direção de Rogério Lopes e dramaturgia de Vinícius Calderoni, a obra é o terceiro espetáculo da Cia Dois em Um.

Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte

SOBRE A CIA DOIS EM UM

A Cia Dois em Um é uma companhia teatral de Belo Horizonte/MG criada no ano de 2020 e conta com os artistas Dê Jota e Lucas Prado como fundadores. Criada em um contexto de pandemia, pesquisando e dialogando de forma híbrida com as áreas do teatro, da dança e do audiovisual, a companhia teve sua trajetória iniciada em meio ao isolamento social, emergindo através das possibilidades então oferecidas. Em 2023 o coletivo realizou sua estreia nos palcos com o espetáculo “Teatro Decomposto”, solo de Dê Jota com texto de Matéi Vișniec que cumpriu temporadas na Funarte MG, no Memorial Vale, na Casa da Voz e no Festival de Teatro Negro da UFMG. Em 2024, o coletivo apresenta no CCBB Belo Horizonte o espetáculo “A Língua do Fogo”, musical voltado para as infâncias com texto de Malu Grossi Maia e contando com a participação do ator convidado Thiago Queiroz dividindo a cena com Dê Jota e Lucas Prado. O coletivo tem como princípios a versatilidade artística e a liberdade criativa, nutrindo-se de fontes irrestritas de inspiração. Com Os Arqueólogos, seu terceiro espetáculo com estreia prevista para o primeiro semestre de 2025, a Cia Dois em Um dá mais um passo em direção a uma pesquisa baseada no trabalho do ator e na dramaturgia contemporânea. 

SOBRE A DIREÇÃO

Rogério Lopes ​é professor do Teatro Universitário da UFMG. Doutor em Artes Cênicas pela UNICAMP (2011), com estágio de doutoramento de doze meses no ISCTE-Lisboa/Portugal (2009) e graduado em Antropologia pela UFMG (2001). É ator e diretor teatral, tendo dirigido o grupo Peripécias Teatrais de Belo Horizonte por 12 anos, com destaque para a pesquisa realizada com máscaras populares, o teatro de rua e a coordenação de projetos de arte-educação para crianças e adolescentes de vilas e favelas. Participou como ator de espetáculos do grupo Barracão Teatro de Campinas e do grupo Evoé de Lisboa-Portugal. Os trabalhos que dirigiu para a rua e espaço fechado têm se apresentado em festivais no Brasil e no exterior como o Festival Teatro Agosto, em Portugal, o festival internacional de teatro de Campinas, o festival de Curitiba, o festival de teatro de rua de Porto Alegre, o FIT‐ BH, o festival de Inverno da UFMG, dentre outros. 

SOBRE O DRAMATURGO

Vinícius Calderoni é dramaturgo, diretor, compositor, cantor, ator, roteirista e sócio fundador, ao lado de Rafael Gomes, da Cia. Empório de Teatro Sortido. Escreveu sete peças de teatro adultas e duas infantis, tendo conquistado os prêmios Shell, APCA (duas vezes), Bibi Ferreira e Reverência, na categoria Melhor Autor. Publicou Sísifo (2020), Os arqueólogos (2018), Ãrrã (2017), Não nem nada (2017) e Chorume (2017), todos pela Editora Cobogó, além de Mas por quê??! A história de Elvis: uma peça musical (2021). Como roteirista, escreveu dois longas-metragens: 45 do segundo tempo, dirigido por Luiz Villaça, e Meu álbum de amores, com direção de Rafael Gomes. Como cantor e compositor, tem dois discos solo (Tranchã, 2007; Para abrir os paladares, 2013) e mais quatro álbuns com seu coletivo 5 a seco (Ao vivo no Auditório Ibirapuera, 2012; Policromo, 2014; Síntese, 2018; e Pausa, 2019). Como ator, trabalhou em uma novela, duas séries, três longas-metragens e três espetáculos teatrais.

Foto: PEDRO PAULINO

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