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Arte centenária da tecelagem de Berilo (MG) será foco de pesquisa

Lançamento do projeto será no dia 1º de maio, às 18h, na Comunidade Quilombola Roça Grande, em Berilo

Fios que se cruzam, pacientemente, em um ritmo quase hipnótico. Assim nasce uma peça feita em tear, uma técnica milenar que transforma linhas soltas em verdadeiras obras de arte. Cada ponto, cada trama, carrega história, cultura e afeto. E é essa arte que resiste ao tempo e se mantém viva em pequenos cantos do Brasil, como na pacata cidade de Berilo, situada no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.

Com mais de 300 anos, o município é conhecido pelas belezas naturais e riqueza cultural, por meio dessa atividade que atravessa gerações e que hoje é símbolo de identidade para suas comunidades. A tecelagem artesanal ocupa lugar de destaque e será, inclusive, foco de uma pesquisa inédita. O projeto, que propõe ações de identificação, valorização e salvaguarda desse saber ancestral, busca registrar formalmente o ofício e homenagear as mestras tecelãs que, há décadas, mantêm viva essa prática. A iniciativa será apresentada no início de maio, em diferentes espaços do município, convidando moradores e visitantes a conhecer de perto o valor desta herança cultural."

No dia 1º, às 18h, o detalhamento da iniciativa será feito na Comunidade Quilombola Roça Grande. Haverá uma apresentação do Coral Trovadores do Vale. Já no dia 2 de maio, a apresentação será às 13h, no Casarão Domingos de Abreu Vieira. Encerrando a programação, no dia 3 de maio, às 18h, a Comunidade de Santo Isidoro será o cenário para mais uma apresentação da pesquisa, dessa vez aberta a toda a comunidade local.

Pelo Censo Demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Berilo ocupa a segunda posição do ranking nacional de proporção de população quilombola. Dos 9.826 habitantes, 5.735 (58,37%) se autodeclaram quilombolas. A cidade faz parte da Rota dos Quilombos, juntamente com os municípios de Chapada do Norte e Minas Novas.

Para a artesã Ivone Machado, que faz parte da Associação de Produtores e Artesãos de Roça Grande (APARG), da Comunidade Quilombola Roça Grande, área rural de Berilo, a pesquisa sobre o ofício da tecelagem manual em Berilo será muito importante. “Vai contribuir para registrar aquilo que a gente faz há muito tempo nas nossas comunidades. Coisas de nossos avós, bisavós, e que nunca foram formalmente documentadas”, diz.

Hoje, na associação, um grupo de mulheres produz colchas, redes, caminhos de mesa, almofadas, peseiras e outras peças, que são feitas manualmente.

Moda

A fama do tear ultrapassou as fronteiras de Berilo e ganhou destaque na capital paulistana. O trio de tecelãs, Eni Batista, Ivone Machado e Alaíde Sales, da APARG produziram tecidos que foram utilizados para a confecção de roupas para o desfile do São Paulo Fashion Week, em 2024, maior evento de moda da América Latina. Foram desenvolvidos quatro looks e alguns acessórios pelo estilista Antônio Castro em parceria com Maria Helena Emediato e a designer e pesquisadora Maria Fernanda Paes de Barros.

Salvaguarda e reconhecimento cultural

Para garantir a preservação e valorização desse importante patrimônio imaterial, a pesquisa sobre a arte do tear está sendo desenvolvida para destacar o valor estético das peças de tecelagem, além de dar visibilidade aos modos de vida e narrativas que traduzem a história e a resistência do povo de Berilo.

Destinado principalmente às artesãs, artesãos e produtores rurais que mantêm viva a tecelagem manual nas comunidades berilenses, “o projeto reconhece esses detentores de saberes como guardiões de um patrimônio que é de todos. Ao valorizar esses profissionais, busca-se também promover a produção têxtil e as ideias, práticas e modos de vida a ela associados”, afirma Rozana Soares. Ela acrescenta que “a tecelagem é mais do que um ofício, é uma expressão da identidade e da memória coletiva de um povo que segue tecendo o futuro, com seus fios e histórias”.

O Projeto foi selecionado no Edital do Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI) 2023 – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A realização é do Instituto Valemais.

Foto: Netto Amaral

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