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Feira Canastra celebra intersecção entre o impresso e o digital e destaca o papel do artista no debate contemporâneo
Entre QR Codes, coordenadas geográficas e videoarte, autores e editoras reinventam o papel do livro e ampliam os sentidos da leitura na era digital
Enquanto o debate sobre o impacto das novas tecnologias e da inteligência artificial no futuro da criação artística segue em curso, há quem prefira trilhar caminhos práticos — e poéticos. Em constante movimento, artistas e editoras independentes têm explorado possibilidades que combinam o potencial do digital com o encanto tátil do analógico, sem abrir mão da experimentação estética.
É nessa interseção que nasce a nova coleção da Editora Incompleta, intitulada Capitais & Cafundós. A proposta é lançar "expedições literárias" — obras de ficção em que as cidades não são apenas cenário, mas personagens com papel ativo nas tramas. Cada livro parte de um território urbano específico, permitindo que o leitor se desloque com os protagonistas, vivencie suas paisagens e mergulhe nos códigos locais.
Laura Del Rey, sócia e editora da Incompleta, explica como a ideia se transformou em projeto gráfico. “Quando estávamos desenvolvendo a identidade visual da coleção, junto com a Angela Mendes e o Fernando Zanardo, pensamos em começar os livros com as coordenadas geográficas da narrativa. Antes mesmo da folha de rosto, o leitor se depara com esse ponto no mapa — real, exato”, conta.
A busca pelos lugares envolveu até passeios virtuais. “No Simpatia, por exemplo, fomos até o topo do Monte Ávila usando o Google Maps. Já em Restauração, seguimos passo a passo o caminho descrito pela autora até encontrar o casarão colonial onde a história se desenrola. Quando localizamos o lugar exato, veio a surpresa: ele realmente existia e pertencia à família de Octavio Paz!”, relembra Laura, com entusiasmo.
Essa sensibilidade entre o físico e o virtual também aparece na obra de Lorena Pereira, produtora audiovisual de Ribeirão Preto. Há dois anos, ela passou a investigar acervos audiovisuais de domínio público, reapropriando materiais esquecidos em suas videoartes. Sua criação mais recente, Burlesque (2024), exemplifica bem essa proposta híbrida: uma fita impressa com trechos do vídeo convida o público, via QR Code, a acessar a obra completa online.
“Me apaixonei pela textura dessas imagens antigas, vindas do analógico. É um material rico, que carrega não só uma estética única, mas também os hábitos de outras épocas”, diz Lorena. “Comecei indo do analógico para o digital. Depois, fiz o caminho inverso — e hoje minhas publicações transitam entre esses dois mundos.”
Essa efervescência criativa terá palco na terceira edição da Feira Canastra, que se consolida como uma das principais vitrines de publicações independentes no Brasil. Com mais de 140 artistas confirmados, o evento será realizado em duas datas: nos dias 26 e 27 de abril, na Escola de Design da UEMG, e no dia 10 de maio, no Centro Cultural Usina de Cultura. A programação contará com editoras e expositores do Brasil e também da Colômbia, Peru e Uruguai, reforçando o papel de Belo Horizonte no circuito latino-americano de feiras autônomas.
Para Luiz Navarro, coordenador da feira, a Canastra reflete as transformações do livro contemporâneo.: “Com as novas tecnologias, a linguagem dos livros mudou e o hábito da leitura também. Ainda assim, os livros não deixaram de existir. Pelo contrário: hoje temos novas formas de entender a linguagem escrita e a das publicações, que passam a incorporar as contribuições vindas do universo digital. Na Feira Canastra, que é um espaço propício para experimentações, muitos feirantes já trazem em seus trabalhos algumas dessas possibilidades, muitas vezes inéditas, carregadas de sentidos e potencialidades".
BELO HORIZONTE NO CIRCUITO NACIONAL E INTERNACIONAL
Desde sua primeira edição, em 2019, a Feira Canastra vem conectando Belo Horizonte a outras iniciativas do gênero em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre e Brasília. Em 2025, o evento amplia suas fronteiras e recebe expositores internacionais, abrindo espaço para um intercâmbio ainda mais plural de ideias, linguagens e práticas editoriais.
A realização da Feira Canastra é possível graças à Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte (projeto 1414/2022) e conta com o patrocínio do Mater Dei.
SERVIÇO: Edição principal – Feira Canastra 2025
Local: Espaço Cultural da Escola de Design da UEMG – Praça da Liberdade, Belo Horizonte
Data: 26 e 27 de abril de 2025 (sábado e domingo)
Horário: Das 11h às 18h
Entrada gratuita
Edição pocket – Feira Canastra Pocket 2025
Local: Centro Cultural Usina de Cultura – Rua Dom Cabral, 765 – Bairro Ipiranga, Regional Nordeste, Belo Horizonte
Data:10 de maio de 2025 (sábado)
Horário: Das 11h às 18h
Entrada gratuita
Com rodas de conversa mediadas por Letícia Santana Gomes
Acompanhe a Feira Canastra no Instagram: @feiracanastra
Foto: Lorena Pereira
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