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Após uma etapa de formação com oficinas voltadas para artistas, produtores culturais e especialistas em cultura do acesso nos dois primeiros fins de semana de abril, o Festival Desvio segue com sua programação em Belo Horizonte. Sua primeira edição destaca a Cultura do Acesso na perspectiva anticapacitista, com foco na arte.

Com direção geral de Brisa Marques e André Mimiza, a programação segue com a Mostra de Cinema no Cine Humberto Mauro, de 22 a 24 de abril, sempre às 19h, com exceção do filme “Parque de Diversões”, que tem uma sessão especial às 22h e com as Ocupações Artísticas no Centro Cultural Usina de Cultura, no dia 26 de abril, de 14h às 19h, encerrando o festival com performances de artistas como Paulo Nazareth, Renata Mara, Coral e o espetáculo Corpo Preto Surdo.

Na segunda-feira, 22 de abril, às 19h, terá início a Mostra de Cinema no Cine Humberto Mauro com a exibição do longa-metragem Assexybilidade, de Daniel Gonçalves (Brasil, 2023), com 86 minutos de duração e classificação indicativa de 16 anos. O filme, que conta com recursos completos de acessibilidade, aborda o corpo e a sexualidade a partir da perspectiva de pessoas com deficiência. Ele fala sobre flerte, beijo na boca, namoro, masturbação, capacitismo e sexo. A maior força do documentário está justamente em ouvir das próprias pessoas com deficiência aquilo que a sociedade não espera que elas digam ou façam. O longa desafia a ideia de que esses corpos são assexuados ou desprovidos de desejo. Após a exibição, acontece um bate-papo com o diretor Daniel Gonçalves, além de Giovanni Venturini e Lívea Castro, com mediação de Sara Paoliello.

A terça-feira, 23 de abril, também às 19h, será dedicada a uma sessão de curtas-metragens, começando por Big Bang, de Carlos Segundo (Brasil, 2022), com 14 minutos de duração e classificação indicativa de 12 anos, exibido com audiodescrição, legendas e libras. No filme, Chico ganha a vida consertando fornos industriais, nos quais entra com facilidade devido ao seu tamanho. Enfrentando um sistema que o exclui, sua única alternativa é resistir.

Em seguida, KAI, de Elinilson Soares (Brasil, 2025), com 11 minutos de duração e classificação livre, será exibido com audiodescrição e libras ao vivo. Inspirado na vida do diretor, o curta conta a história de Kai, homem negro e surdo criado na praia de Itapuã, que desenvolveu forte ligação com a música e a dança desde a infância, construindo uma trajetória marcada pelo afeto e pela identidade cultural.

O curta La Hemi, dirigido por Ila Giroto e Estela Lapponi (Brasil, 2024), com 10 minutos de duração, também conta com audiodescrição e legendas. O filme mergulha nas ações cotidianas de um corpo hemiparético, acompanhando a personagem LA HEMI em tarefas diárias feitas com apenas uma mão. A câmera acompanha essa jornada com ironia e sensualidade, afirmando a potência criativa do corpo DEF e desafiando o mito da capacidade corporal única.

Encerrando a sessão, será apresentado Um Ano, de Pri Garcia (Brasil, 2024), com 9 minutos e 26 segundos de duração e classificação indicativa de 10 anos, com exibição legendada, audiodescrição e libras ao vivo. O documentário acompanha a cantora e compositora Coral um ano após sobreviver a uma tentativa de homicídio durante o carnaval de 2023. No retorno ao carnaval, ela enfrenta o desafio de cantar no bloco “Então, Brilha!”, revivendo a dor e a superação. Após a exibição dos curtas, o público poderá participar de uma conversa com os artistas Giovanni Venturini e Coral, sob mediação de Brisa Marques.

Na quarta-feira, 24 de abril, às 19h, será exibido o clássico Os Palhaços (I Clowns), de Federico Fellini (Itália, França, Alemanha, 1970), com 1h32 de duração e classificação livre. O filme será apresentado com audiodescrição, legendas e libras. Nesta obra híbrida entre ficção e documentário, Fellini explora sua paixão por palhaços e investiga suas histórias e tradições culturais. A narrativa mistura entrevistas, performances de circo e imagens de arquivo para refletir sobre temas como a solidão, o riso e a melancolia.

Às 22h, entra em cartaz Parque de Diversões, longa de Ricardo Alves Jr. (Brasil, 2024), com 73 minutos de duração e classificação indicativa de 18 anos, também com todos os recursos de acessibilidade. O filme retrata figuras anônimas que percorrem as ruas em busca de encontros até que uma delas rompe o portão gradeado de um parque da cidade. Nesse território proibido, o desejo se impõe como força vital. Um bate-papo com a equipe do filme será realizado após a sessão.

Perfomances, show e espetáculo

No sábado, dia 26 de abril, acontecem as Ocupações Artísticas do Festival Desvio no Centro Cultural Usina de Cultura – Rua Dom Cabral, 765, Ipiranga. A partir das 14h, o artista Paulo Nazareth, nascido em Governador Valadares e conhecido por suas andanças ao redor do mundo, apresenta uma intervenção performática inédita. Artesão, coletor de feitiços e aprendiz de reza brava, ele se autodefine por múltiplos nomes, personagens e heterônimos, sendo tudo isso seu próprio trabalho. Sua obra é marcada por gestos simples, mas carregados de crítica social, discutindo temas como racismo, imigração e colonialismo. Nazareth já participou de importantes exposições internacionais e atualmente integra a mostra Esconjuro, no Inhotim, com a série “Notícias de América”.

Às 15h, Renata Mara, artista da dança e pesquisadora praticamente cega, apresenta a performance-palestra O maior verbete de todos. A performance parte de suas vivências com a cegueira e resgata memórias da infância até a potência criativa adulta. A obra mistura comicidade e sensualidade em uma narrativa que convida o público a acessar novas formas de ler, flertar, desejar e amar. A apresentação conta com participação especial do cantor e compositor Kristoff Silva.

Logo depois, às 16h, o público poderá assistir ao show de Coral, artista travesti baiana de Jequié, conhecida por sua voz marcante e letras que evocam resistência e pertencimento. Coral apresenta um repertório autoral em formato voz e violão, incluindo canções já lançadas, como “Ressonância” (com Chico César) e “Eu Sou Baiana” (com Daniela Mercury), além de faixas inéditas. Sua presença afirma uma canção brasileira atravessada por afetos, identidade e força política.

Fechando a programação, às 18h será apresentado o espetáculo Corpo, Preto, Surdo: Nós Estamos Aqui, criado por Marcos Andrade e Jaqueline Gonçalves. A montagem combina performance física, poesia e Libras para dar visibilidade às vivências de pessoas negras surdas e ouvintes. A peça promove um espaço de escuta e valorização das múltiplas formas de ser e existir, provocando o público a refletir sobre identidade, resistência e cultura do acesso nas artes.

SERVIÇO
Festival Desvio – Cultura do Acesso, Cultura Def e Arte
Data: 22 a 26 de abril de 2025
Locais: Cine Humberto Mauro (Palácio das Artes – Av. Afonso Pena, 1537 – Centro) e Centro Cultural Usina de Cultura (Rua Dom Cabral, 765 – Ipiranga, BH)
Entrada gratuita

PROGRAMAÇÃO

Cine Humberto Mauro
Mostra de Cinema | 22 a 24 de abril, às 19h (com exceção do Parque de Diversões, que será exibido às 22h)

22/04 (segunda-feira)
Assexybilidade, de Daniel Gonçalves – 86 min | 16 anos
Bate-papo com Daniel Gonçalves, Giovanni Venturini e Lívea Castro. Mediação: Sara Paoliello.

23/04 (terça-feira)
Sessão de curtas:
Big Bang, de Carlos Segundo – 14 min | 12 anos
KAI, de Elinilson Soares – 11 min | Livre
La Hemi, de Ila Giroto e Estela Lapponi – 10 min | Livre
Um Ano, de Pri Garcia – 9 min 26 seg | 10 anos
Bate-papo com Giovanni Venturini e Coral. Mediação: Brisa Marques.

24/04 (quarta-feira)
Os Palhaços, de Federico Fellini – 92 min | Livre
Parque de Diversões, de Ricardo Alves Jr. – 73 min | 18 anos
Bate-papo com equipe do filme Parque de Diversões.
Todas as sessões contam com acessibilidade completa: audiodescrição, legendas e libras.

Centro Cultural Usina de Cultura
Ocupações Artísticas | 26 de abril (sábado), a partir das 14h
14h | Performance com Paulo Nazareth
15h | Performance O maior verbete de todos, com Renata Mara e participação de Kristoff Silva
16h | Show de Coral (voz e violão)
18h | Espetáculo Corpo, Preto, Surdo: Nós Estamos Aqui, com Marcos Andrade e Jaqueline Gonçalves
Todos os espetáculos são acessíveis e recomendados para todos os públicos.

Foto: Divulgação