Notícias

Últimos dias para assistir o espetáculo "Os Sobreviventes" no CCBB BH

No palco, a verborragia do texto de Abreu expressa a angústia pelo envelhecimento dos ideais políticos, e traz referências de um Brasil pós-ditadura, sem heróis, embalado por Angela Ro Ro e Cazuza

Últimos dias para assistir à plataforma Ato Junto com o espetáculo “Os Sobreviventes”, que nesta temporada de estreia tem ficado com a casa cheia em todas as sessões. A peça segue em cartaz somente até dia 21/04, de sexta a segunda, sempre às 19h, no Teatro II do CCBB BH. Baseada no conto homônimo do jornalista, escritor e dramaturgo gaúcho Caio Fernando Abreu (prêmio Jabuti) - reconhecido por uma literatura que representa a temática LGBT -, a peça traz para a cena a relação de intimidade entre duas figuras decadentes, no final dos anos 80. Na trama, “Ele” (Thomaz Cannizza) e “Ela” (Luciana Veloso) já foram um casal no passado mas, por algum motivo que será revelado adiante, seguem juntos em uma relação atípica, até que um deles decide se despedir. Agora, ambos terão uma semana decisiva como uma última chance para encararem as escolhas do passado e se libertarem. A direção é da atriz Ana Regis (Melhor Atriz Prêmio Sinparc, pelo espetáculo “Peixes”) e a dramaturgia e assistência de direção são de Thomaz Cannizza (Melhor Ator Prêmio Sinparc, pelo espetáculo “Fred & Laura”). Os ingressos custam R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada), com desconto de 50% para clientes Ourocard, e estarão à venda a partir do dia 19/03, quarta-feira, na bilheteria física do CCBB BH e pelo site ccbb.com.br/bh. Mais informações sobre a temporada e os bate-papos após o espetáculo pelo site ccbb.com.br/bh e nas redes sociais: instagram.com/ccbbbh | facebook.com/ccbbbh. Este projeto tem apoio do Centro Cultural Branco do Brasil e é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.

O processo

“‘Os Sobreviventes’ é um texto que fala sobre essa relação paralela do amadurecimento como indivíduo e sujeito histórico, ao longo da vida. Levanta temas sobre a angústia do envelhecimento dos ideais políticos, mas também sobre a maturação do desejo individual, e como o político e o pessoal se retroalimentam. Caio escreve, nesse momento de abertura política do país, do fim do sonho revolucionário dos 70 e do desbunde dos 80, da ressignificação do amor e sexualidade numa sociedade conservadora, de Cazuza, da ausência de ideologias e da quebra de expectativa para brasileiros que esperavam a utopia após tantos anos de repressão”, comenta o ator e dramaturgo paulistano, idealizador da plataforma Ato Junto, Thomaz Cannizza.

Era 2018, ano de eleições federais no Brasil, em que o debate político estava aquecido no país, quando Cannizza decide montar o conto de Caio Fernando Abreu. “Apesar de escrito em 1982, a obra comunica uma espécie de sentimento que também estava muito latente no Brasil, uma espécie de desilusão e cansaço com a percepção do quanto a história é cíclica e como regimes opressivos vêm, vão e estão sempre ali na iminência. A arte como a do Caio Fernando, que é sensível, transcende o tempo e vai abraçando a universalidade que existe. Há obras que envelhecem bem e as que envelhecem mal. O conto do Caio só rejuvenesce. Por essa atualidade, achei que o teatro poderia ser um lugar frutífero para trazer as palavras do Caio”, comenta.

No ano seguinte, Thomaz convida a atriz Luciana Veloso (Melhor Atriz pelo Prêmio Cenym 2020, por “A Obscena Senhora H") para uma residência de seis meses, na Funarte. Lá experimentam diversas possibilidades cênicas para o conto de Abreu. “Reunimos um material dramatúrgico rico e chamamos Ana Regis para assistir a um dos ensaios. Ela acabou assumindo a direção”, lembra Thomaz.

Com a chegada da pandemia, em 2020, os artistas escolhem não seguir, naquele momento, com o trabalho, e montaram o experimento digital "Tudo que eu queria te dizer mas não vou (ou Prólogo)”, também inspirado no conto Os Sobreviventes. “Uma pesquisa que Ana (diretora) trouxe muito do cinema, a ideia de um ‘extra campo’. Na época, investigamos o que poderia ser a relação entre os personagens antes do conto do Caio. Exploramos essa façanha nos moldes do isolamento social: dois personagens debaixo do mesmo teto, mas cada ator em sua casa”, conta Cannizza.

A cena

2025. De volta aos palcos, a dramaturgia é reescrita e adaptada para o encontro com o público, no CCBB. “Daqui a pouco, tudo será revirado”, contextualiza Cannizza logo na primeira rubrica do texto. O ator e dramaturgo sinaliza para um espaço cênico que passa a ser um depósito de toda quinquilharia da vida dos personagens. “Nada sai, só acumula, se amontoa, se coleciona. E fica cada vez mais difícil trafegar, encontrar as coisas, se encontrar, sair dali”, acrescenta.

Em ‘Os Sobreviventes’ a marca do trabalho está na essência do teatro: “bons atores e um bom texto, com diálogos dinâmicos, cheios de entrelinhas”, ressalta a diretora Ana Regis. Vinda de uma trajetória no teatro e no audiovisual, a artista conta que a encenação traz tom naturalista. O cenário e objetos assinados por Bruna Cosfer e Marina Góes, e os figurinos propostos por Bárbara Batitucci, combinados à iluminação de Gabriel Corrêa, compõem duas grandes atmosferas principais no espetáculo: os anos 80 e o plano da memória (flashbacks dos personagens).

“O espectador em nenhum momento vai ser levado pelo encantamento de grandes figurinos e cenários, mas pela verborragia e movimento das palavras. Além disso, a parafernália cênica está exposta. Não há coxias: os atores trocam de roupas em cena. São vestes cotidianas, uma ou outra mais datadas como a calça alta, as listras, o camisão ou o maiô. Estamos optando por explorar esse universo que não seja simplesmente de época, mas de algo que perdure no tempo”, contextualiza Ana Regis.

"A seleção de músicas, assinada por Thomaz Cannizza, faz referência a sucessos que marcaram os anos 80, mas não só. “Funk, movimento Dark, New Wave, muitas tribos foram aparecendo na época. Optamos por trilhas de décadas anteriores que poderiam não só embalar, mas também explicar os universos desses personagens: Mutantes, Dolores Duran - sons marcantes na melodia, no ritmo, mas também no discurso. Toda manifestação artística é registro de sua época. Essas canções ainda são ouvidas, não só porque grudam feito chiclete, mas por falarem de algo pungente, que permanece no tempo, tão vivo, assim como a obra de Caio”, diz.

Após temporada de estreia no CCBB BH, o espetáculo segue em cartaz no Teatro Raul Belém Machado, no mês de maio. Nesse mesmo período, será oferecida oficina gratuita de capacitação para inscrição de projetos culturais em editais da SMC de Belo Horizonte, tendo como público-alvo artistas, empreendedores e interessados em geral, com idade mínima de 18 anos. As inscrições estarão abertas a partir do dia 21.04, no Instagram @atojunto.

Circuito Liberdade

O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.

SERVIÇO: ÚLTIMOS DIAS: ESPETÁCULO “OS SOBREVIVENTES” NO CCBB BH
Baseado no conto homônimo de Caio Fernando Abreu
Temporada de estreia
Em cartaz somente até 21.04 – de sexta a segunda – às 19h, no Teatro II do CCBB BH
Ingressos a R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada), no site ccbb.com.br/bh e
na bilheteria física do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários – BH/MG)
Classificação indicativa: 14 anos
Informações: (31) 3431 9400 | ccbb.com.br/bh
instagram.com/ccbbbh | facebook.com/ccbbbh | E-mail: ccbbbh@bb.com.br

Informações Adicionais

FICHA TÉCNICA
Direção: Ana Regis
Assistência de direção: Thomaz Cannizza
Dramaturgia: Thomaz Cannizza
Baseado em “Os Sobreviventes”, de Caio Fernando Abreu
Em cena: Luciana Veloso e Thomaz Cannizza
Produção: Maria Mourão
Cenografia: Bruna Cosfer e Marina Góes
Concepção de luz: Gabriel Corrêa
Figurino: Bárbara Batitucci
Seleção de trilha sonora: Thomaz Cannizza
Operação de luz: Cacá Santos
Operação de som: Wal Almeida
Design gráfico: Pedro Carvalho
Assessoria de imprensa/mídias sociais: Rizoma Comunicação & Arte
Fotografia: Letícia Souza
Tradução em Libras: Carol Mezanto
Audiodescrição: Vias Acessíveis
Legendagem audiovisual: Matheus Gepeto
Realização: Ato Junto

ATO JUNTO

É uma plataforma de criação e produção artística, idealizada e dirigida por Thomaz Cannizza, ator e produtor de Belo Horizonte. Articulada de forma coletiva, sua livre transição de integrantes é ditada pela possibilidade de uma pluralidade de projetos a serem incubados. Em 2019, o primeiro espetáculo da plataforma, “Fred & Laura”, foi contemplado com o Prêmio COPASA SINPARC de Artes Cênicas nas categorias Melhor Ator de Comédia e Melhor Espetáculo de Comédia. O espetáculo já passou pelo Festival de Curitiba e segue em cartaz há 7 anos. Em 2021, a plataforma estreou o espetáculo cênico-digital “Tudo que eu queria te dizer mas não vou” (2021), dirigido por Ana Regis. “Os Sobreviventes” é a terceira montagem da plataforma e conta novamente com direção de Ana Regis, sendo baseada no conto homônimo do escritor Caio Fernando Abreu.

ANA REGIS - Diretora

Atriz e mestre em Teatro, iniciou sua carreira como atriz na Cia. Cínica, no início dos anos 90, e foi indicada ao Prêmio Sinparc de Melhor Atriz pelos espetáculos “Catavento, uma pequena história de amor”, com direção de Julio Maciel, e “Amor de Dom Perlimplim”, de Garcia Lorca, com direção de Bete Penido. Participou do 2º Oficinão do Galpão Cine Horto, que culminou no espetáculo “CX Postal 1500”. Ali permaneceu por mais 4 anos como integrante da Oficina de Dramaturgia e, sob a coordenação de Luiz Alberto de Abreu, assinou a dramaturgia coletiva do Oficinão 2001 e do Oficinão 2002, desta vez individualmente. Em 2007, fundou a Cia. Bárbara, onde produziu e atuou em “Rubros: Vestido-Bandeira-Batom”, com direção de Rita Clemente e texto de Adélia Nicolete, em que também foi indicada ao Prêmio Sinparc de Melhor Atriz. Em 2013, retoma a parceria com Julio Maciel como atriz na montagem de “Polissonografia”, uma adaptação de “O Homem Lixo”, de Matei Visniek. Trabalhou como dramaturga em espetáculos como “Por Toda Minha Vida”, dirigido por Eduardo Moreira; “Cães de Palha”, dirigido por Julio Maciel; “Bicicleta Branca”, dirigido por Chico Pelúcio e Marcelo Bones; “Hotel Paraíso”, dirigido por Rita Clemente, além de algumas cenas curtas. Em 2017, estreou o espetáculo “PEIXES”, seu primeiro trabalho solo, no qual também assina dramaturgia e direção. Com ele, ganhou o IV Prêmio COPASA-SINPARC nas categorias Melhor Atriz e Melhor Texto e se apresentou em diversos festivais e mostras internacionais no Brasil e no exterior. Em 2020, dirigiu os espetáculos de teatro digital “Antigamente é quando?”, da Cia. Pierrot Lunar e “Tudo que eu queria te dizer mas não vou (ou Prólogo)”, da Plataforma Ato Junto. Em 2022, escreve e dirige seu primeiro curta-metragem. No audiovisual, reveza as funções de atriz, pesquisadora e preparadora de elenco, em séries e longas e curta-metragens.

LUCIANA VELOSO -Atriz

É atriz e empreendedora cultural. Bacharel em Teatro pela Escola de Belas Artes/UFMG e Técnica em Interpretação pela Casa das Artes de Laranjeiras (RJ). Premiada no 20° Prêmio Cenym de Teatro Nacional e indicada ao Prêmio Sinparc 2019 na categoria “Melhor Atriz”, pelo espetáculo “A Obscena Senhora H". Atuou em espetáculos teatrais como "Os Melhores Anos de Nossas Vidas", com direção de Inês Viana; "O Interrogatório", com direção de Ole Erdmann; "Peer Gynt", com direção de Adriano Garib; “O Santo e A Porca", com direção de Kalluh Araújo; "Zucco: ensaio para um crime", com direção de Amaury Borges; "Pas de deux para 2 Mulheres", com direção de Henrique Vertchenko, “A Obscena Senhora H – Paixão e Obra de Hilda Hilst”, com direção de Juarez Guimarães Dias e "Tudo que eu queria te dizer mas não vou (ou prólogo)", com direção de Ana Regis. Trabalhou como assistente de produção no Centro Cultural SESIMINAS e, desde 2019, é colaboradora da APPA - Cultura e Patrimônio, já tendo passando pelas funções de produtora cultural, gerente de projetos e coordenadora executiva de projetos.

THOMAZ CANIZZA – Ator, assistente de direção e dramaturgo

Thomaz Cannizza é ator, produtor e dramaturgo, bacharel e licenciado em Teatro pela Universidade Federal de Minas Gerais. Em 2019, recebeu o Prêmio COPASA SINPARC de Artes Cênicas nas categorias de Melhor Ator de Comédia e Melhor Espetáculo de Comédia por “Fred & Laura”, pelo qual também foi indicado a Melhor Texto Inédito na mesma premiação. Cannizza é fundador e produtor da Ato Junto, plataforma de criação artística de Belo Horizonte. Sua primeira produção, “Fred & Laura”, segue em circulação há 7 anos, passando por eventos notáveis como o Festival de Teatro de Itaguara (2018) e o Festival de Curitiba (2023). Em 2021, estreou a segunda montagem da plataforma, o espetáculo cênico-digital “Tudo que eu queria te dizer mas não vou (ou Prólogo)” como produtor, roteirista e ator.

MARCOS ALEXANDRE - Mediador do bate-papo sobre o espetáculo

É professor Titular da Faculdade de Letras da UFMG. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1C. Realizou pesquisas de pós-doutorado na Facultad de Artes Escénicas do Instituto Superior de Arte, em Havana, e no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA (2008-2009); no Hemispheric Institute of Performance and Politics, da New York University e no Núcleo de Estudos das Performances Afro-Ameríndias (NEPAA) / Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC), da UNIRIO (2017-2018); e na Universidad Complutense de Madrid e na UFPE (2024-2025). É docente credenciado junto ao Pós-Lit – FALE-UFMG e também é credenciado como Professor Permanente no PPGArtes - Mestrado em Artes da UFSB. Integra o Mayombe Grupo de Teatro, desde sua fundação, em 1995. É membro da Associação Internacional de Críticos de Teatro (AICT-IATC), crítico do site Horizonte da Cena e integra a equipe de pesquisadores do Projeto Minas Mundo. Entre os livros publicados, destacam-se “O Teatro Negro em Perspectiva: dramaturgia e cena negra no Brasil e em Cuba” (Malê, 2017) e “Da Performance à Crítica Teatral” (Javali, 2024).

JOÃO LÚCIO XAVIER - Convidado do bate-papo sobre Caio Fernando Abreu

É professor de Literatura e Linguagens na rede particular de Belo Horizonte. Graduado em Licenciatura em Letras pela UFMG, tem mestrado na mesma instituição, onde defendeu dissertação sobre a obra de Caio Fernando Abreu, estudando a relação entre os contos do autor e os conceitos de Biopolítica. Também tem um podcast de literatura, juntamente com Luana Werb, o "Livros e Listas", em que conversam sobre literatura de uma forma leve e descontraída.

Foto: leticia souza

Selecionamos os melhores fornecedores de BH e região metropolitana para você realizar o seu evento.