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Palestra “A modernidade de Ingmar Bergman”, ministrada pelo escritor e roteirista de cinema Mário Alves Coutinho

Sugerimos uma pauta relacionada às influências de Bergman no cinema moderno e contemporâneo. As formas e narrativas desse grande diretor da modernidade inspiraram alguns dos cineastas mais importantes depois dele. Para essa pauta, sugerimos entrevista com Mário Alves Coutinho, escritor e roteirista de cinema, que participará da programação paralela da mostra INGMAR BERGMAN – INSTANTE E ETERNIDADE, no dia 08 de abril, às 19h15, ministrando a palestra “A modernidade de Ingmar Bergman”.

 

Ao longo de sua carreira, o cineasta sueco Ingmar Bergman realizou 59 filmes para o cinema, 11 para televisão, mais de 200 produções teatrais, além de uma série de comerciais e peças para rádio. Além da prolificidade de sua obra, Bergman também ganhou reconhecimento por sua estilística que, já desde os primeiros filmes, traz consigo aspectos que iriam ficar marcados como centrais para o conceito de modernidade no cinema.

 

O escritor e roteirista de cinema Mário Alves Coutinho afirma que apesar dos números de bilheteria dos filmes de Bergman não se compararem aos deblockbusters da época, as produções do sueco sempre tiveram um público fiel. Apesar de ser considerado um diretor “sério”, o escritor destaca que Bergman também fez obras cômicas, “e até mesmo em seus dramas o tom irônico pode produzir certo humor”.

 

Para Mário, Bergman era mais que um cineasta. “Ele trouxe um caráter generalizante, multitarefa às suas produções. Atuou, dirigiu, escreveu e revolucionou a narrativa cinematográfica. Trabalhou várias linguagens e fez isso muito bem”, explica. Essa característica, aliada à qualidade de seu trabalho, fez com que as marcas do cinema de Bergman influenciassem vários outros diretores.

 

Em sua trajetória, Bergman trabalhou a linguagem cinematográfica de maneira brilhante. Fez uso da narrativa clássica e também foi vanguardista, dando espaço a múltiplas significações. Mário Alves lembra que alguns críticos italianos diziam que Bergman não era cineasta, mas sim um escritor, negando que suas obras fossem cinema, e discorda dessa opinião. “Bergman fez cinema dentro do cinema. Ele não tinha fronteiras, pelo contrário. Unia filosofia, cinema e literatura”, declara.

 

Bergman e o Cinema Contemporâneo – No cinema contemporâneo, vários diretores tiveram Bergman como um de seus mestres. Woody Allen, que é tido como um cineasta cômico, enquanto Bergman é conhecido pela seriedade, foi um deles. Mas “assim como os dramas do sueco podem apresentar um tom de humor, as comédias de Woody podem trazer aspectos trágicos”, aponta Mário. O enredo de Interiores, filme de Woody Allen lançado em 1978, gira em torno de mães em relações conflituosas com suas filhas e é semelhante ao de Sonata de Outono, filme de Bergman rodado no mesmo ano. 

 

Outro nome é David Lynch, que tem o aspecto onírico como a maior referência para suas produções, também explorado por Bergman em A hora do lobo. Os personagens fantasmagóricos do longa são apontados como uma das inspirações para a estética de sonho e pesadelo da filmografia de Lynch, que pode ser observada em filmes como Eraserhead e Estrada Perdida.

 

A admiração do francês Jean-Luc Godard pelo trabalho de Bergman é destacada por Mário. “Godard o reverencia. Por várias vezes disse que sem Bergman não faria cinema”, salienta. Essa influência pode ser observada em Demônio das Onze Horas, filme no qual um casal vive um romance enquanto viaja pela França: uma leitura de Mônica e o Desejo, filme de Bergman no qual um casal de adolescentes viaja de barco pela Suécia, se apaixonam e vivem também o declínio e o fim da relação. 

 

Outra temática constante na obra de Bergman é a luta entre a moral e o desejo, presente também nas produções de Pedro Almodóvar. Em De salto alto,o cineasta espanhol praticamente reproduz um diálogo de Sonata de Outono. Coutinho chama a atenção para a distância cultural. Segundo ele, apesar de existir uma aproximação temática entre os dois cineastas, é importante observar que nos filmes suecos de Bergman os dramas são interiorizados e, na Espanha, são exteriorizados por Almodóvar.

 

Mário também ressalta que no Brasil, o diretor Walter Khouri fez um cinema tipicamente bergmaniano durante certo período. Primando pelos planos longos, com foco na expressão facial dos atores, Noite vazia foi um dos títulos dessa fase do cineasta. Enquanto alguns o consideravam um gênio, outros achavam que Khouri era um copiador de Bergman.

 

Filmografia completa e raridades – A Fundação Clóvis Salgado, por meio da Gerência de Cinema, realiza de 28 de março a 12 de maio a mostra Ingmar Bergman – Instante e Eternidade, considerada a maior dedicada ao cineasta já realizada no Brasil.  Em um total de 160 sessões, serão exibidos 78 filmes que compõem a filmografia completa e algumas raridades como curtas metragens, making ofs e releituras para a TV de peças de teatro. As cópias, em formatos 35mm, 16mm, digital e DCP, que juntas pesam aproximadamente uma tonelada, foram importadas da Suécia, Inglaterra e Estados Unidos.

 

Nos dias 22 e 23 de abril, será encenada no Grande Teatro do Palácio das Artes a peça Sarabanda, livremente inspirada em Saraband, último filme do diretor, sob a batuta de Grace Passô e Ricardo Alves Jr.

 

A programação conta também com cursos, palestras e debates. Haverá ainda a exibição de duas trilogias: A Trilogia do Silêncio e uma trilogia de filmes com traços autobiográficos escritos por Bergman e dirigidos por outros cineastas.

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