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Teatro da Fumaça faz temporada de seu primeiro espetáculo na Funarte

Trazendo renovação à tradição mineira de teatro de grupo, o Teatro da Fumaça faz nova temporada em BH com espetáculo coletivo e autoral

SINOPSE - Um grupo ensaia: uma atriz insiste em permanecer em um teatro prestes a ser demolido, um espectador confunde um musical com um sequestro, e um integrante de uma companhia de Teatro de Revista tem sua temporada interrompida por um golpe de Estado.

O MUNDO ESTÁ EM CHAMAS, O TEATRO TAMBÉM TEM DE ESTAR: Dias 11, 12 e 13 de abril, sexta-feira e sábado às 20h, domingo às 19h, na Funarte MG (Rua Januária, 68 - Centro, Belo Horizonte). Ingressos à R$30 (inteira) e R$15 (meia). DURAÇÃO: 65 minutos. Não recomendado para menores de 12 anos.

SAIR POR ESTA PORTA E ENTRAR EM OUTRO PALCO

Ensaiar uma peça dentro da peça: “Nós somos pessoas presas no Teatro. São espaços tempos distintos, mas nós estamos, de alguma forma, conectados pelo lugar do edifício teatral”. Em dado momento do espetáculo, o personagem interpretado por João Santos assim define o que está sendo, ali, ensaiado. Santos é o veterano entre os integrantes do coletivo teatral formado a pouco mais de um ano em Belo Horizonte, a partir do encontro de cinco artistas de diferentes cidades do Brasil: Domenica Morvillo de Araraquara (SP), Ítallo Vieira de Patrocínio (Triângulo Mineiro), Jean Gorziza de Porto Alegre (RS) e Júlia Oliveira, tal como João, de BH.

Propor uma encenação dentro da encenação não é nenhuma novidade: os gregos já utilizavam o recurso teatral, também explorado por Shakespeare em diversas textos, como “Hamlet” e “A Megera Domada”, assim como pelo russo Anton Tchekhóv em sua célebre “A Gaivota”. O teatro contemporâneo está saturado do que se chama metatrealidade. Mas o Teatro da Fumaça, desde o nome do espetáculo que marca sua estreia nos palcos, mostra que não veio apenas para fazer mais uma peça sobre o próprio fazer teatral. O Mundo Está em Chamas, o Teatro Também Tem de Estar: são incêndios demais lá fora para que os artistas se sintam, de alguma forma, protegidos. Ninguém está protegido. O calor, as bombas, os golpes e o fogo vão consumir a nós todos se não fizermos nada. E, no nosso caso, o que sabemos fazer é Teatro.

Se as personagens do espetáculo estão em espaços e tempos distintos, o coletivo tem se reunido rigorosamente em um dos endereços mais icônicos do centro de Belo Horizonte para construir seu primeiro trabalho: a salinha do Edifício Acaiaca onde o Teatro da Fumaça ensaia. E o local está longe de ser a característica mais belo-horizontina do trabalho: “Fundar um grupo é como escrever uma carta de amor ao futuro. Quanta gente já nos chamou de malucos por fazermos essa aposta!”, explica Santos. De fato, o teatro de grupo, modelo de trabalho que marcou a produção mineira desde o final dos anos 1970 - tendo como remanescentes deste período os ainda resistentes Grupo Galpão e Oficcina Multimédia - vinha dando sinais de fraqueza diante de uma enxurrada de solos e monólogos psicológicos. “De repente eu me vi rodeado de artistas na faixa dos 20 anos que nunca tinham visto o Espanca, o Mayombe ou a Primeira Campainha. E não tem como explicar a potência do trabalho que esses e outros coletivos fizeram na cidade. Tem, sim, como acreditar que esse modelo ainda tem muito a nos oferecer”, continua João.

ENSAIANDO PARA ADIAR O FIM

De fato o Teatro da Fumaça já conquistou algumas vitórias apostando no teatro de grupo. No primeiro semestre do ano, o jovem coletivo foi o único representante sul-americano a participar do Ibsen Scope Festival, na Noruega. Desta vez, eles foram apenas receber o prêmio que financiará o projeto MINERAL IBSEN, que será desenvolvido em 2025. A proposta de misturar um texto clássico de Ibsen às práticas de Augusto Boal para discutir a mineração em Minas Gerais recebeu elogios até mesmo de Cecília Boal, viúva do teatrólogo brasileiro e sua parceira no desenvolvimento do Teatro do Oprimido. Além do projeto, que reunirá o Teatro da Fumaça a outros três coletivos sediados no interior de MG (o Atrás do Pano, de Nova Lima, o Flor de Maio, de Itabirito e a Sobrilá Cia de Teatro, de Sabará), o grupo ainda mergulhará, no primeiro semestre do ano, no universo do homoerotismo para desenvolver o espetáculo “Canção de Engate”, pesquisa aprovada pela Lei Paulo Gustavo.

A ânsia criativa do Teatro da Fumaça, porém, é de tal forma intensa que o grupo sentiu a necessidade de passar outro projeto na frente da fila. Ao optar por realizar sua estreia nos palcos, ainda em 2024, com “O Mundo Está em Chamas, o Teatro Também Tem de Estar”, o grupo decide dar este primeiro passo fundamental com um texto totalmente inédito assinado em parceria por Jean Gorziza e João Santos. Gorziza assume ainda a direção, ao lado de Júlia Oliveira e, em cena, se apresentam João, Ítallo Vieira e Domenica Morvillo. A primeira versão da dramaturgia, concebida por Jean, foi escrita ainda em 2023, no momento em que o Teatro da Fumaça começava a se reconhecer como um coletivo.

Inicialmente o intuito era investigar três personagens ficcionais criadas com inspiração em fatos reais: o abandono do Teatro de Câmara Túlio Piva (Porto Alegre) deu origem à atriz que se recusava a sair de um palco em ruínas prestes a desabar. O sequestro do Teatro de Dubrovka por separatistas chechenos, em 2002, deu origem ao personagem russo que vai assistir um musical e confunde a violência e a encenação. E a interrupção da temporada da Companhia Walter Pinto de Teatro de Revista em Buenos Aires, durante o Golpe militar que derrubou Perón em 1955, inspirou a criação de um diretor disposto a ir à falência para manter de pé sua companhia enquanto um conflito a força a se manter sitiada.

Ao desenvolver a pesquisa, porém, o coletivo foi atingido por aquilo que pretende, agora, provocar no público: reconhecimento. Diante da devoção, da insistência e mesmo da confusão daquelas personagens iniciais, o Teatro da Fumaça se viu diante de questões muito próximas não apenas de sua realidade enquanto artistas, mas também com a realidade compartilhada por nós todos. Afinal, o noticiário é de golpes. Um comediante governa a Ucrânia, um autoritário apresentador de reality-shows está prestes a reassumir a Casa Branca e, no Kremlin, ainda impera o mesmo homem que décadas atrás matou centenas de pessoas - sequestradores, artistas e espectadores - com um gás tóxico despejado na tubulação do Teatro de Dubrovka.

“O mundo é um palco” é uma frase de “Como gostais”, de Shakespeare, referida por Paul Preciado em seu livro “Um apartamento em Urano”. Desempenhamos, lá fora ou aqui dentro, diferentes papéis. E o Teatro da Fumaça, ao incendiar o palco, quer ensaiar futuros possíveis, sem negar a realidade.

SOBRE O TEATRO DA FUMAÇA

O Teatro da Fumaça é um grupo de teatro criado a partir da reunião de cinco artistas residentes em Belo Horizonte: Domenica Morvillo, Ítallo Vieira, Jean Gorziza, João Santos e Júlia Oliveira. Com diferentes experiências criativas, eles se uniram para investigar o trânsito do teatro com outras linguagens. Em 2023 o coletivo estreou o experimento audiovisual "Os Benefícios do Tabaco", peça-conferência que aborda o tema da desinformação a partir da indústria do tabaco e o texto "Sobre os Males do Tabaco", do dramaturgo russo Anton Chekhov. Em dezembro do mesmo ano, o grupo apresentou uma leitura dramática do texto “O Mundo Está Em Chamas, o Teatro Também Tem De Estar”, que estreou, ainda em 2024, como seu primeiro espetáculo. Em 2025, outros dois trabalhos serão apresentados: além de MINERAL IBSEN, contemplado com o Ibsen Scope Grant 2024 (Noruega), “Canção de Engate”, aprovado pela Lei Paulo Gustavo.

FICHA TÉCNICA

O MUNDO ESTÁ EM CHAMAS, O TEATRO TAMBÉM TEM DE ESTAR
Direção: Jean Gorziza e Júlia Oliveira
Dramaturgia: Jean Gorziza e João Santos
Elenco: Domenica Morvillo, Ítallo Vieira e João Santos
Direção Corporal: Rafael Batista
Figurinos: Domenica Morvillo e Ítallo Vieira
Cenografia: O Grupo
Iluminação e Operação de Luz: Marina Arthuzzi
Trilha Sonora Original: Pedro Dargen
Operação de Som: Jean Gorziza
Identidade Visual: Anti01
Fotos: Gabriel Werneck
Vídeos: Amanhã Filmes
Colaboração: Airon Gischewski
Agradecimentos: Fundação de Educação Artística, Galpão Cine Horto, Centro Cultural UFMG, Funarte MG e Teatro 171
Produção e comunicação: Teatro da Fumaça
Supervisão do Núcleo de Dramaturgia do Galpão Cine Horto: Vinícius de Souza

Esta temporada tem o apoio do PROGRAMA FUNARTE ABERTA 2025 – OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS CULTURAIS DA FUNARTE

*Têm direito à meia-entrada estudantes, idosos, pessoas com deficiência, menores de 21 anos e jovens de até 29 anos com baixa renda, mediante apresentação de documento de comprovação.

Dias 11, 12 e 13 de abril
Sexta-feira e sábado às 20h, domingo às 19h
na Funarte MG (Rua Januária, 68 - Centro, Belo Horizonte)
Ingressos à R$30 (inteira) e R$15 (meia) disponíveis no Sympla: https://tinyurl.com/3b45j6wz

Foto: Gabriel Werneck

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