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Arquitetura inclusiva promove qualidade de vida, valorização do espaço público e sensação de pertencimento
Professora da Estácio BH aborda a aplicabilidade do design universal, que se opõe à problemática arquitetura hostil
Cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis estão entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 assumida por todos os países que compõem a Cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU). O alcance dessa meta perpassa por uma arquitetura urbana inclusiva, que contemple acessibilidade universal, ergonomia, segurança, conforto e adaptabilidade, garantindo que todos possam transitar, utilizar e usufruir das cidades de maneira autônoma, conforme expõe a engenheira civil Liliane Santos, professora de Arquitetura e Urbanismo da Estácio BH.
“A arquitetura inclusiva consiste no planejamento e desenvolvimento de espaços acessíveis a todas as pessoas, independentemente de suas limitações físicas, sensoriais ou cognitivas. Seu princípio fundamental é o design universal, que busca criar ambientes que possam ser utilizados pelo maior número possível de pessoas, sem necessidade de adaptações ou soluções posteriores. Na prática, isso se traduz na implementação de calçadas niveladas e bem-sinalizadas, rampas de acesso, mobiliário urbano acessível, sinalização tátil e sonora, além da criação de ambientes que favoreçam a interação social e a diversidade de uso”, explica.
Esse olhar atento e materializado em um urbanismo universal reflete na qualidade de vida da população, segundo a docente. “Projetos de cidades acessíveis promovem a mobilidade para todos, incentivam a inclusão social e permitem que idosos, pessoas com deficiência e qualquer indivíduo, com ou sem mobilidade reduzida, possam se deslocar com independência e segurança. A acessibilidade melhora o fluxo urbano, torna o deslocamento mais eficiente e fluido para ciclistas, pais com carrinhos de bebê e qualquer pessoa que precise transitar, sem a necessidade de fazer desvios ou buscar rotas alternativas para se movimentar”, afirma.
Outro impacto observado, conforme destaca Liliane Santos, que também é especialista em Design de Ambientes e Acessibilidade, é a valorização do espaço público e a sensação de pertencimento, “reforçadas quando o design urbano é planejado para atender às necessidades de todos, independentemente de suas habilidades físicas”.
Para implementar a arquitetura inclusiva nos espaços públicos, é fundamental considerar diretrizes de acessibilidade desde a fase de projeto, como descreve a engenheira civil. “O design universal permite que esses espaços sejam pensados desde o início para atender à diversidade de usuários, evitando soluções improvisadas que podem comprometer a estética ou a funcionalidade do ambiente. Em espaços tombados pelo patrimônio histórico, a inclusão deve ser realizada de forma criteriosa, respeitando as características originais das edificações sem comprometer sua acessibilidade. Isso pode ser feito através da instalação de rampas discretas, plataformas elevatórias, sinalização acessível e adaptações nos acessos, sempre priorizando soluções que preservem a identidade histórica do local. Muitas vezes, a tecnologia pode ser uma aliada para permitir acessibilidade sem interferir diretamente na estética ou na estrutura do patrimônio”, elucida.
Apesar dos esforços de profissionais de diferentes áreas do conhecimento, como arquitetos, urbanistas, designers, engenheiros e fisioterapeutas, em promover ambientes acessíveis e acolhedores, a arquitetura hostil ainda é empregada em muitas cidades brasileiras. A professora da Estácio critica essa prática, adotada sob a falsa ideia de “manutenção da ordem”, desumana e discriminatória, principalmente contra a população em situação de rua:
“A arquitetura hostil segue uma lógica oposta à inclusiva, pois busca afastar determinados grupos sociais do uso dos espaços públicos. Ela é caracterizada pelo uso de bancos desconfortáveis ou inclinados para evitar que pessoas em situação de rua se deitem, instalação de pinos ou grades em áreas que poderiam ser usadas para descanso e até o emprego de iluminação ou sonorização que inibem a permanência de determinados públicos. Seus defensores argumentam que essas estratégias visam a manutenção da ordem, segurança e preservação do espaço urbano, mas, na prática, essa abordagem contradiz os princípios de inclusão e reforça a segregação, ignorando o direito de todos ao uso democrático da cidade. Em vez de resolver problemas sociais, a arquitetura hostil apenas os desloca, tornando o espaço urbano menos acolhedor e acessível para todos”, encerra.
Foto: Arquivo Pessoal
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