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"A vida começa pela memória" traz investigação de dança da Cia de Intérpretes Independentes de Manaus
Turnê do espetáculo, baseado na estética do fotógrafo tcheco Jan Saudek, conta com atividades de intercâmbio e formação na UFMG
A Cia de Intérpretes Independentes apresenta nos dias 12 e 13 de março o espetáculo "A Vida Começa pela Memória", décima terceira montagem da prestigiada e premiada companhia com sede em Manaus. Em turnê que inclui sessões em Campinas (SP) e Belém (PA), as apresentações em Belo Horizonteacontecem na Escola de Belas Artes da UFMG como forma de estreitar as atividades de intercâmbio e formação previstas na programação, que se estende de quinta a sábado. Constantemente difundindo pesquisas sobre aspectos sociais da cultura amazônica, a companhia faz sua segunda passagem pela capital mineira - em 2014 o espetáculo "Bella" contou com sessões no teatro da Funarte MG.
A apresentação de "A Vida Começa pela Memória" em Belo Horizonte é realizada através do Prêmio Funarte de dança Klauss Vianna 2013 e conta com o apoio local do hotel Saint Louis.
O espetáculo é resultado de mais de dez anos de investigações do encenador e médico Ricardo Risuenho, que também atua em cena. Na trama, dois personagens (interpretados por Anna Raphaella Costa e Risuenho) são envoltos por uma rede de pesca - uma "rede de lembranças" - na qual projetam memórias corporais ao mesmo tempo particulares e universais num ambiente de suspensão e sonho. A estética cenográfica é inspirada na obra do fotógrafo tcheco Jan Saudek.
"Fazer algo a partir da memória já era uma ideia antiga, de tentar entender a importância que isso tem para o ser humano", conta Ricardo Risuenho. Em 2011, quando a companhia passava por um momento de estagnação, ele entrou em contato com a bailarina Anna Raphaella, com quem já havia trabalhado dez anos antes, com a proposta de fazer um espetáculo em Belém (PA), onde ela residia à época. Contemplado com um prêmio Klauss Vianna da Funarte, o projeto foi inicialmente desenvolvido na capital paraense. A partir de uma página criada no Facebook foram recolhidas diversas histórias que serviram de ponto de partida para a pesquisa, iniciada com significados do que é ser paraense e, de modo mais abrangente, dos fios da memória que compõem identidades e conectam as pessoas. Com o espetáculo ganhando força, a bailarina se mudou para Manaus, onde a produção se consolidou.
Estética e Saudek
Com forte pesquisa na dança contemporânea, a companhia não trabalha com coreografia, termo não abarca a extensão das experimentações. "Trabalho com texto de movimento, que facilita o discurso da cena", explica Risuenho.
Durante a concepção do trabalho, Ricardo Risuenho buscava algo que pudesse dar a estética desejada à produção. A obra do fotógrafo tcheco Jan Saudek, já conhecida pelo diretor, possibilitou uma importante inspiração criativa. "O Saudek possui um discurso fantástico, que não é erótico, nem violento, nem poético, mas que traz tudo isso de forma poderosa", aponta Risuenho sobre as imagens do fotógrafo que sobreviveu a campos de concentração nazistas.
Para a cena do espetáculo, são transpostas texturas fortes e a montagem de um cenário que expõe seus artífices, como uma "janela falsa" e uma torre de luz, que mimetiza uma câmera fotográfica. A cenografia, também assinada por Risuenho junto a Nelson Magli, tem grande impacto no discurso. E nesse ambiente tudo serve de estímulo a recordações que são dos outros, mas que também são de todos. Em uma das cenas, ao observar alguns brinquedos o personagem parece flutuar sentado em um banco. Na fase de pesquisa, a passagem foi colhida do relato de uma pessoa que ao visitar a casa dos pais teve uma sensação de levitação ao reencontrar o saco de brinquedos da infância. "É muito gratificante ver como as pessoas compreendem isso a partir da ancoragem de suas próprias vidas, transpondo isso pro entendimento de cada um. Ao final das sessões, alguns chegam e conceituam aquilo a partir de leituras, outros simplesmente gesticulam sobre o impacto do que presenciaram e sentiram."
A montagem de "A Vida Começa pela Memória" - que já fez mais de 30 apresentações, do Pará à Brasília - representou uma mudança drástica na companhia e também marcou a retomada de Ricardo Risuenho à cena da dança contemporânea. Hoje a Cia de Intérpretes Independentes possui uma sede em Manaus, compartilhada com outra companhia, local que serve tanto de espaço de pesquisa quanto de encenação dos espetáculos.
Investigação e intercâmbio
Assim como ocorrerá na turnê por Campinas (Unicamp) e Belém do Pará (UFPA), a apresentação em Belo Horizonte contará com programação de palestra, mesa-redonda e atividades direcionadas com intuito de debater a técnica e o processo de criação do espetáculo. Nesse sentido, a escolha da Escola de Belas Artes da UFMG para receber a programação e propor um intercâmbio com a comunidade de dança e teatro local foi um fator decisivo, contando com o apoio do colegiado da Escola de Dança e da Escola de Belas Artes para a realização de todas as atividades através dos professores Arnaldo Alvarenga e Rita Gusmão.
"São universidades que têm um peso dentro da educação da dança no país. Sempre busquei ao final de todos projetos trocar com as pessoas, principalmente dentro da academia, onde há grande estímulo a esse debate", relata o coreógrafo Ricardo Risuenho. "Quero levar mais, trocar, colher, ver como nosso trabalho afeta os outros e como eles podem nos afetar, o que é essencial para a continuidade. Estou muito feliz e a expectativa é bem grande."
Encenador e médico, Ricardo Risuenho desenvolve há 9 anos um estudobaseado na biomecânica dos membros superiores utilizando os conceitos da cinesiologia. "Trabalho há 15 anos como médico. Não consigo desvincular as duas coisas. Sou médico pelo artista que sou e vice-versa. Todo conhecimento anatômico e fisiológico eu levo pra dentro da dança", conta Risuenho, que também já foi professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
A pesquisa dos membros superiores tornou-se um padrão e referência da Cia de Intérpretes Independentes. "Nós sempre buscamos compreender e conceituar o que fazemos em quanto movimento. E é isso o que queremos trocar."
Sobre a Cia de Intérpretes Independentes
A Companhia de Intérpretes Independentes surgiu no ano de 2003 a partir de um processo de pesquisa sobre o movimento dos membros superiores, que caracterizaria seu percurso nesses nove anos de existência, fornecendo-lhe uma linguagem estética específica.
Dirigida por Ricardo Risuenho, encenador coreográfico que trabalha com a expressão da dança contemporânea, paraense e residente um Manaus (AM) ha? 12 anos, realiza na companhia investigações teórico e práticas, propiciando a difusão desse conhecimento.
O repertório da companhia e? constituído por 13 espetáculos que abordam produções com temáticas diversas como o universo feminino nas obras de Shakespeare ("Mulheres de Macbeth"), a vida em comunidades ribeirinhas ("Ilha da ira"), Ruídos da solidão, o povoamento da Amazônia durante a Pré-histo?ria ("Origem") e pesquisas de dança teatro para a rua ("Homem de Barro" e "ZE?"), algumas das quais foram apresentadas em cidades como: Belém (PA), Salvador (BA), Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (BH), Brasília (DF) e Boa Vista (RR).
Abordando temáticas transversais nas diversas áreas do conhecimento, a Companhia de Intérpretes Independentes têm seu trabalho centrado em divulgar o potencial da cultura regional retratado sob a linha contemporânea na concepção cênica de seus espetáculos. Com isso vem se consolidando através de expressivas encenações Brasil à fora, dando sua contribuição para a formação técnica, processos de criação e pesquisas de caráter teórico e pragmático, fortalecendo aspectos so?cio-arti?sticos culturais da região amazônica no cenário nacional.
A Cia de Intérpretes Independentes foi contemplada com o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna em cinco edições, com o Prêmio Funarte Artes na Rua (Circo, Dança e Teatro), e com o Prêmio de Apoio as Artes (PROARTE) da secretaria do estado do Amazonas. E, durante sua trajetória teve patrocínio e apoio de grandes instituições, como: Correios, a empresa IMANAM, as Universidades Estadual e Federal do Amazonas, as Secretarias Estadual e Municipal do Amazonas, as Fundações Villa Lobos e Tancredo Neves.
Foto: Suane Melo/Rogério Ucho?a
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