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Arnaldo Niskier lança o livro - Memórias de um sobrevivente - em Belo Horizonte

Sessão de autógrafos da obra, que reúne histórias do jornalista carioca em sua longa passagem pela Manchete, será realizada na Academia Mineira de Letras Episódios importantíssimos da trajetória da imprensa brasileira são revividos por um dos mais influentes jornalistas do país no livro Memórias de um sobrevivente – A verdadeira história da ascensão e queda da Manchete. Escrita por Arnaldo Niskier e publicada pela editora Nova Fronteira, a obra apresenta aos leitores os 37 anos de convivência do autor com as empresas Bloch, nas quais ingressou aos 18 anos. Na capital mineira, o evento de lançamento da obra será realizado no dia 13 de março, às 19h30, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1466 - Centro). O lançamento em Belo Horizonte é uma realização da Academia Mineira de Letras e da Associação Brasileira de Imprensa em Minas Gerais (ABI Minas). Em suas memórias como ex-diretor de jornalismo do grupo Bloch, Niskier resolveu contar tudo o que sabe sobre o convívio com os responsáveis por aquela que se tornou uma das mais maiores empresas brasileiras de comunicação. Pode-se dizer, aliás, que o livro Memórias de um sobrevivente tenha sido escrito, justamente, com o objetivo de fazer perdurar tal legado, “a partir das reminiscências de um grande amigo”. Enriquecido pela pesquisa do jornalista Renato Sérgio, com apresentação de Ernane Galvêas e se valendo de rico caderno de fotos, o livro pode ser lido como um documento histórico. Trata-se de relato corajoso, que derruba os mitos e lendas que se acumularam em torno da Manchete. Ou, nas palavras do autor: “Lembranças que foram escritas com a força das memórias de um sobrevivente e com respeito às personagens envolvidas”. A Manchete Império jornalístico com quase 50 anos de existência (1952-2000), a revista Manchete é fruto das iniciativas de Adolpho Bloch. O nome da publicação impressa seria também repassado à emissora de televisão, a extinta Rede Manchete, que chegou a ter sete mil funcionários, no auge da TV brasileira (1980-1990). A revista atingiria rápido sucesso: em poucas semanas, torna-se a publicação semanal, de circulação nacional, mais vendida do país, destituindo a renomada – e, até então, hegemônica – O Cruzeiro. Porém, de acordo com Arnaldo Niskier, os Bloch não souberam trabalhar com a televisão e perderam muito dinheiro. Queriam competir com a Globo, quando poderiam ter ficado num confortável segundo lugar, e jamais teriam quebrado. Quando iniciou a TV, em 1983, Adolpho tinha em caixa nada menos que 25 milhões de dólares — e isso tudo virou pó. Por quase 20 anos, Niskier foi chefe de reportagem e diretor de jornalismo da empresa, colhendo rico material para compor este livro. O autor narra, por exemplo, todo o episódio da amizade de Adolpho com Juscelino Kubitschek e revela traços de uma significativa solidariedade: “Eles se gostavam como irmãos e somos testemunhas de que Adolpho, após a cassação de JK, em 1964, precisou socorrer o amigo com remessas de dinheiro, que fez para Nova York e depois Paris”. Para Niskier, “eles não fizeram negócios, não foram sócios, mas se aproximaram fraternalmente para dar um exemplo de amor ao Brasil e de confiança em seu futuro, com a construção da nova capital”. Sobre o autor Arnaldo Niskier nasceu no Rio de Janeiro, a 30 de abril de 1935. Filho de Mordko Majer Niskier e Fany Niskier, é o sétimo ocupante da cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 22 de março de 1984 – na sucessão de Peregrino Júnior –, tendo sido recebido, em 17 de setembro de 1984, pela acadêmica Rachel de Queiroz. Desde então, o jornalista – e também professor universitário – recebeu os acadêmicos Murilo Melo Filho, Carlos Heitor Cony e Paulo Coelho. Depoimento de Arnaldo Niskier sobre o livro “Adolpho Bloch era um otimista nato. Vivia repetindo uma frase que se tornou célebre: ‘Nossa riqueza é o otimismo.’ Foi um defensor entusiasmado da mudança da Capital para Brasília e foi esse fato que o ligou, como irmão, ao então presidente JK. Sofreu muito com a sua cassação e jamais abandonou essa amizade, como sou testemunha privilegiado. Sabendo das dificuldades financeiras do ex-presidente, incumbiu-me por duas vezes de levar-lhe suprimentos financeiros (7 mil dólares por vez), para que pudesse ter vida tranquila em Nova Iorque e Paris. Adolpho me dizia: ‘Ele não foi acusado de ser a sétima fortuna do mundo? Está sem dinheiro para viver lá fora.’ Essa demonstração de solidariedade sempre me emocionou. Relembro esses fatos em meio a tantos outros, no livro que acabo de lançar. É natural que as gerações mais novas não tenham qualquer noção do que representou para a comunicação brasileira o complexo industrial das Empresas Bloch. Num dado período, nas décadas de 1960 e 1970, chegou a ser a mais importante gráfica do país, com máquinas alemãs e italianas moderníssimas. A sua rotogravura Albertina só faltava falar. Imprimia em cores a uma altíssima velocidade. Foi assim que a Manchete tornou-se a mais importante revista semanal do Brasil, arrancando admiração até de especialistas estrangeiros. No ano 2000, depois de uma série de peripécias administrativas e judiciais, envolvendo, inclusive, as emissoras de rádio e de televisão, tudo veio por água abaixo. A firma foi fechada, deixando quase 3 mil profissionais na rua. Até hoje, alguns deles lutam para receber os seus direitos. O lindo prédio (na verdade, eram três geminados), na rua do Russell, foi vendido em leilão e, depois de retrofitado, abrigará uma série de empresas petrolíferas. Será que o arquiteto Oscar Niemeyer, quando bolou aquilo tudo, ao lado do sonhador Adolpho Bloch, terá um dia pensado que o seu projeto teria esse destino? Depois de 12 anos, para as gerações mais maduras, resta a saudade daqueles tempos. Eram 12 revistas de atualidades, além da Manchete, e também impecáveis serviços gráficos. Sou suspeito para falar das estações de rádio, por ter sido pioneiro na construção da sua rede, a partir da Rádio Federal, hoje ainda a Rádio Manchete. E quem, nessa idade, não se lembra das enormes expectativas da Rede Manchete de Televisão, com sua programação “para o ano 2000” e telenovelas que chegaram a balançar a liderança da Rede Globo. Foi assim com Pantanal e Dona Beija. Aliás, aconteceu o mesmo com as belíssimas coberturas de Carnaval, quando a Manchete dava verdadeiros shows de jornalismo televisivo. O meu vínculo com a empresa nasceu em outubro de 1955, quando fui levado, pela família Rodrigues (Augusto, Paulo e Nelson), a trabalhar, garoto ainda, na Manchete Esportiva. Lá fiquei cerca de 37 anos, tempo em que acumulei notáveis experiências, especialmente com a figura singular de Adolpho Bloch. Ele era um líder, com todas as qualidades e defeitos de um ser genial. Capaz de gestos de muita grandeza, como demonstrou no apoio que deu a JK, depois da injusta cassação sofrida, tinha um olho clínico invejável para as artes gráficas (isso herdado do seu pai, Joseph) e uma coragem quase irresponsável para realizar investimentos numa economia inflacionária. Quando resolveu construir os prédios da Glória, banqueiros amigos o desaconselharam, mas Adolpho preferiu seguir a sua incomparável intuição. ‘Não tenho nada a perder. Quando cheguei ao Brasil, em 1922, só tinha trazido da Rússia um pilão da minha família.’ Fui instado por muitos amigos a escrever sobre essa experiência vivida e sofrida. Demorei um pouco a tomar coragem, mas, finalmente, fiz o dever de casa. Aí está o livro Memórias de um sobrevivente, da Editora Nova Fronteira. Se há um mérito é o de ser fiel aos fatos passados. A experiência da Manchete agora é história.”

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