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Exposição “Retrato: substantivo feminino” em Belo Horizonte, no Sesc Palladium

Projeto reúne retratos em foto e vídeo confeccionados por duas artistas visuais e mulheres ligadas a tradições culturais brasileiras do Cavalo Marinho(PE), Reinado(MG) e Batuque de Umbigada (SP)

O projeto “Retrato: substantivo feminino”, de Laura Tamiana e Tatiana Devos Gentile, entra em cartaz no Sesc Palladium, em Belo Horizonte, integrando a programação do projeto Desvios, que tem como temática Mulher, arte e feminismo. A exposição, resultado de uma dinâmica cultural que mobilizou 25 mulheres, de 12 a 95 anos, ligadas às tradições do Cavalo Marinho (no interior de Pernambuco), do Reinado (no bairro Concórdia, em Belo Horizonte) e do Batuque de Umbigada (no interior de São Paulo), estará aberta ao público do dia 01 de março, a partir das 19h30, até o dia 27 de março. A entrada é gratuita.

 

Na abertura, no dia 1º de março, às 19h30, teremos uma roda de conversas com as idealizadoras do projeto e algumas integrantes mineiras. Marcando o encerramento da exposição, haverá uma apresentação da Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio Nossa Senhora do Rosário, no dia 26 as 15h30, também no Sesc Palladium.

 

Pela primeira vez em Belo Horizonte, no formato exposição, “Retrato: substantivo feminino” é um projeto de criação coletiva em foto e vídeo, onde Laura e Tatiana trabalham junto a mulheres ligadas a tradições culturais no Brasil, de diferentes gerações, para juntas, a partir do encontro, confeccionarem retratos, que são exibidos como intervenções urbanas.

 

A exposição é composta por uma seleção mais ampla do acervo do projeto, trazendo fotografias em diferentes suportes (monóculos, tecidos, adesivos); vídeo-retratos de cada integrante, exibidos em um dispositivo em forma de “caixinha”, para visualização individual; correspondências em vídeo trocadas pelas integrantes de um local a outro do país; e intervenções sonoras criadas pelo músico pernambucano Helder Vasconcelos, a partir dos sons gravados durante as residências.

 

O trabalho nasceu em 2009, com a realização de uma residência artística proposta a mulheres ligadas à tradição do Cavalo Marinho, em Condado, na Zona da Mata Norte pernambucana. Em 2010 o projeto aportou em Belo Horizonte, no bairro Concórdia, realizando uma segunda residência com mulheres ligadas ao Reinado, integrantes da Guarda de Congo e Moçambique de Nossa Senhora do Rosa?rio Treze de Maio e da Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosa?rio Sa?o Jorge. Um terceiro momento de criação aconteceu em 2011 junto a mulheres do Batuque de Umbigada, no interior de São Paulo, seguido de uma exposição na capital paulista junto ao  SESC SP, com um grande encontro reunindo todas as integrantes, pernambucanas, mineiras e paulistas. De lá pra cá, o projeto continuou ganhando estrada: em formato de exposição ou intervenção, tem visitado diversas cidades no Brasil e também a França.

 

“Esta é a primeira vez que temos a oportunidade de voltar a Belo Horizonte para exibir o trabalho na íntegra, contendo o material produzido junto aos três grupos de mulheres. Em 2010, fomos generosamente recebidas pelas Guardas Treze de Maio e São Jorge. Dona Isabel, então rainha Conga da Guarda Treze de Maio e do Estado de Minas Gerais, suas filhas Guidinha e Belinha e também Iaiá, Suellen, Dinarê e Luciene, integrantes desta Guarda, assim como Késsia, integrante da Guarda São Jorge, nos abriram suas portas e embarcaram conosco nesse processo de criação coletiva. Retornar a cidade nos traz muita alegria.”, explica Laura.

 

“A exposição, integrando esta programação do SESC Palladium, é para nós também uma forma de homenagear Dona Isabel, como carinhosamente chamamos Isabel Casimiro das Dores Gasparino, uma das grandes personalidades do Reinado mineiro, que nos deixou no ano passado”, conta Tatiana.

 

O PROCESSO - A produção das obras que integram o projeto se deu ao longo de três residências artísticas realizadas por Tatiana e Laura junto às mulheres ligadas às tradições culturais. “O ponto de partida do trabalho e? o encontro, um encontro de olhares, de histórias, de percepções, de tempos. O retrato e? proposto como processo lento e cuidadoso de fabricação de um olhar, de uma subjetividade. Retrato como forma de contar uma história”, explica Tatiana.

 

As artistas propuseram que as mulheres realizassem os retratos em foto e vídeo a partir da ideia de uma “caixinha pessoal”, aquela caixinha onde se guardam as coisas mais preciosas, um objeto da infância, uma carta, um retrato. Durante as residências artísticas, por meio de motes como “1 amor em 3 imagens” e “3 partes do corpo”, cada integrante foi compondo sua “caixinha”, feita daquilo que é mais precioso para si, so? que na forma de fotos e vídeos.

 

Mesmo estando na posição de propor e estimular a atividade, as artistas integraram a realização das atividades como todas as demais, já que a proposta era uma troca, uma descoberta mútua. Interessa às artistas descobrir e revelar como mulheres de diferentes universos e de diferentes gerações se ligam por fios comuns, costurados cuidadosamente a partir de possíveis encontros.

 

“A partir do encontro no coletivo – base das tradiço?es populares –, a feitura dos retratos propo?e olhares, recortes sobre as individualidades. E e? a partir das individualidades reveladas que se pode chegar novamente ao coletivo, pelo fio que desenha um possível substantivo ‘feminino’,” diz Laura Tamiana. As tradições foram a porta de entrada, mas o projeto tem como foco principal as histórias de vida dessas mulheres. Permitir que cada uma delas possa, a partir do encontro com as demais, revelar sua própria história é um dos diferenciais do trabalho.

 

As três residências artísticas que deram origem ao material da intervenção aconteceram entre os anos de 2009 e 2011 e foram realizadas graças ao Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura, da Funarte/Minc. A primeira delas foi realizada em 2009 em Condado, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, com mulheres do entorno do Cavalo Marinho, tradição predominantemente masculina. A segunda residência aconteceu em 2010 no bairro Conco?rdia, em Belo Horizonte, com mulheres do Reinado, integrantes da Guarda de Congo e Moçambique de Nossa Senhora do Rosa?rio Treze de Maio e da Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosa?rio Sa?o Jorge. A terceira residência aconteceu em 2011, nas cidades de Piracicaba e Capivari, em Sa?o Paulo, com mulheres do Batuque de Umbigada.

 

Para a realização de cada residência, Tatiana e Laura se deslocaram de suas localidades (Rio e Recife, respectivamente) e residiram durante três meses onde estava o grupo de cerca de 10 mulheres convidadas a participarem do projeto; ao final do período, o material produzido naquela residência foi exibido na localidade em forma de intervenção urbana. Além disso, as artistas também propuseram uma troca de correspondência em vídeo entre as mulheres de uma e de outra localidade. Este material, incluindo as fotos das exibições, compõe o acervo do projeto, que vem sendo exibido pelas artistas nos formatos de intervenção urbana e exposição.

 

Perfil das idealizadoras

 

Laura Tamiana - De família mineira, nasceu e cresceu em São Paulo, viveu em Paris e hoje, aos 40 anos, mora em Recife. Artista e produtora, trabalha com as artes visuais, a música, as artes cênicas e as tradições populares, buscando sempre promover o encontro, de cada pessoa consigo mesma, de umas com as outras e entre saberes e contextos diferentes. Tem especialização em Cooperação Artística Internacional, pela Universidade Paris 8, França. Como artista visual, idealizou e realiza desde 2013 o projeto Céu e Terra, em torno de experiências ligadas ao cuidado com a terra no sertão do Brasil, na Índia e na França. Possui sua própria estrutura de produção, a Terreiro Produções, em parceria com o artista Helder Vasconcelos, e é integrante do coletivo Sexto Andar, no centro do Recife. Desde 2006, integra os grupos Boi Marinho e Maracatu Rural Piaba de Ouro, manifestações do Carnaval pernambucano. Motivada pelo que se passa quando mulheres compartilham dos seus tempos, idealizou e realiza o projeto Retrato: substantivo feminino em parceria com Tatiana Devos Gentile.

 

Tatiana Devos Gentile - Tem 38 anos e é curiosa de mundos. Adora viajar, cinema e encontros. Com o seu avô, que é fagotista, aprendeu a olhar o mundo de uma forma diferente. Faz cinema e artes visuais, é habitada de memórias, músicas, afetos e imagens. Nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, morou em Paris e hoje vive e trabalha no Rio de Janeiro. Em 2013/2014 foi residente da 5ª Bolsa Pampulha com o trabalho “da memória dos outros”.  Desenvolve o projeto de instalação em vídeo-dança “Mire Veja:” e realizou os curtas "Meu Avô, o Fagote" (2010), selecionado para festivais no Brasil e exterior. Em parceria com Leticia Nabuco, desenvolve o projeto Hedonês sobre o erotismo feminino na maturidade. Ganhou da sua mãe o livro Mulheres que correm com os lobos e com ele nasceu o desejo de conhecer outras mulheres, outros mundos. Idealizou e realiza o projeto Retrato: substantivo feminino em parceria com Laura Tamiana.

 Foto: Divulgação

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